E o capitalismo?
* Por
Paulo Reims
É um termo muito pesado
para consciências sensíveis, pois traz em seu bojo muita miséria, violência e
morte. É um sistema político-econômico causador de muita exclusão e
desigualdades sociais extremas.
Pode variar de país
para país, mas no sistema capitalista, ou liberal, os bens de produção são de
propriedade privada.
Tomando o Brasil como
exemplo de uma sociedade capitalista, fica mais fácil entender: os maiores
latifundiários, as grandes empresas, também a imprensa e bancos estão nas mãos
de poucas pessoas, que fazem deste país um dos mais desiguais do mundo.
Esta pequena elite, ou
oligarquia, é tão forte que, na verdade, decide também politicamente; ou
melhor, nos bastidores dos poderes constituídos, eles mandam. E quem tem “juízo”,
obedece. As ditas autoridades constituídas viram fantoches em suas mãos. Desta
forma, podemos entender porque algumas pessoas são julgadas e condenadas, e
outras, por crimes maiores, nem julgadas são. Enfim, os detentores do poder
econômico detêm todo e qualquer outro poder. É um sistema diabólico. Tanto que
é costume dizer: se o socialismo é um bicho de sete cabeças, o capitalismo é um
monstro de 666 cabeças. Este monstro faz o quer, quando quer, como e onde
quiser, desde que seja para aumentar seu poderio, em detrimento de qualquer
direito e dignidade dos seres que lhes devem estar submissos.
A revista americana
‘Forbes’, do dia 9 de setembro passado, traz as 124 pessoas mais ricas do
Brasil que juntas acumulam um patrimônio equivalente a R$ 544 bilhões, cerca de
12,3% do PIB, o que ajuda a entender porque nosso país é considerado um dos
mais desiguais do mundo. A maioria das fortunas corresponde a membros de
famílias que dominam empresas de setores como mídia, bancos e alimentação.
O mais grave desta
abissal disparidade entre pobres e ricos está na falta de consciência de que
esta estratosférica riqueza poderia tirar milhões da miséria, o que, por sua
vez, gera tanto sofrimento, fome, violência...
Cerca de 41,5% das
rendas, muitas ainda advindas de trabalhos sob regime de escravidão, se
concentram nas mãos de 10% mais ricos, segundo dados do censo de 2010, enquanto
metade da população vivia, neste ano, com renda per capita de menos de R$
375,00. São índices que revelam graves anomalias de um sistema iníquo.
Segundo o jurista Fábio
Comparato, a civilização capitalista deve enfrentar, embora não de imediato, o
seu fim. Dará lugar, segundo ele, a uma civilização humanista, gestada há três
séculos em seu interior.
Neste novo mundo,
continua dizendo, a comunidade global ditará as normas e não haverá espaço para
soberanias. É consenso mundial que para salvar a humanidade temos de nos
encaminhar para a construção de um regime político mundial, no qual não haja
mais soberania de Estado, mas da humanidade.
Embora esta transição
tenha que continuar a ser gestada, creio que a gestação tem que necessariamente
ter a participação do povo, processo negado dentro do sistema capitalista,
mesmo ostentado a bandeira da democracia.
Os movimentos sociais e
ONGs, comprovamdamente sérias, têm papel preponderante neste momento histórico,
pressionando os governos para que o povo tenha acesso à educação em todos os
níveis e com boa qualidade, para que possa efetivamente contribuir neste
processo de gestação da civilização humanista. Pois um contingente muito grande
de povo, olhando a partir do nosso país, reza pelas cartilhas da grande
imprensa que manipula as consciências.
O regime humanista
deverá suceder o regime capitalista que põe o interesse privado acima de tudo.
Todo ser humano, e cada
uma das pessoas, deve ocupar o espaço hoje ocupado pela ganância do ter sempre
mais, em detrimento do ser. A criação como um todo deve ser o centro das
atenções e dos cuidados. O criador deve ter uma “carta na manga” para salvar
este planeta, mas ele não a jogará sem perceber que, com sinceridade, os seres
humanos querem com ele jogar pelo bem comum. Desta forma, se faz urgente e
necessário que uns mudem de mentalidade e outros tirem as viseiras.
*
Jornalista
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