A Justiça no picadeiro
* Por
Guilherme Scalzili
Se ainda restava alguma dúvida sobre o caráter ideológico da condenação dos réus na Ação Penal 470, os
ministros Luiz Fux, Gilmar Mendes e Marco Aurélio de Mello acabam de
escancará-lo para quem quiser enxergar.
Em que outra ocasião na história do Supremo Tribunal Federal juízes
paramentados proferiram ladainhas desnecessariamente longas e vazias, com o
intuito de forçar o adiamento de um voto decisivo? Quantas vezes, em qualquer
democracia constitucional do planeta, um decano da máxima corte foi impedido de
votar quando quis e pôde, amargando cinco longos dias de pressões e
constrangimentos, por causa de suas posições doutrinárias? E quantas vezes isso
tudo ocorreu para forçar condenações irrecorríveis e tecnicamente falhas?
Pouco importa que aplaudam essa farsa, que a chamem de “justiça” ou de
seu verdadeiro nome. Já não restam ilusões de que o veredito final será remotamente “justo”. O caminho da condenação inapelável foi bem
pavimentado na primeira fase, quando Joaquim Barbosa dificultou ao máximo o trabalho das defesas. Nenhum réu conseguiria
escapar nessas circunstâncias.
Apesar de tudo, porém, é óbvio que os embargos infringentes forneceriam
um mínimo de equilíbrio à pândega. A protelação do julgamento e o exercício do
direito ao recurso teriam, por si sós, um efeito pedagógico sobre as platéias
desinformadas. Aliás, quanto mais contrariados ficarem Barbosa e seus asseclas,
melhor para a democracia
*
Jornalista, advogado, historiador e escritor, autor dos livros “O colar da
Carol ta na grama”, “A colina da Providência”, “Pantomima”, “Acrimônia” e
“Crisálida”.
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