O Big Brother no governo brasileiro
* Por
Urariano Mota
"Brasil é o grande alvo dos EUA" foi o título de uma das mais
lidas notícias esta semana. Ao lado das manchetes que anunciavam armas químicas
usadas pelo regime de Assad, na verdade um claro pretexto para a derrubada do
governo sírio, essa notícia da espionagem contra nosso país desnuda a política
do governo dos Estados Unidos.
Todos sabemos agora, a partir do belo trabalho do jornalista
norte-americano Glenn Greenwald, que o governo brasileiro é o maior alvo da
espionagem dos Estados Unidos. "Não tenho dúvida de que o Brasil é o
grande alvo dos Estados Unidos", disse o jornalista, que promete
trazer novas denúncias. Mais: Greenwald revelou que o governo dos Estados
Unidos espionou até mesmo os emails da presidenta Dilma Roussef e de seus
ministros e assessores, conforme arquivos abertos por Edward Snowden, o ex-técnico
da CIA.
Essa invasão do que deveria ser soberano, com um filtro de controle
absoluto sobre ideias e política, me faz lembrar 1984, o romance de George
Orwell onde aparece o deus Big Brother. A ironia profunda dessa lembrança é que
o livro de Orwell sempre foi apresentado como uma crítica ao futuro socialista,
mas se tem revelado hoje como a profecia realizada do imperialismo. Neste
estágio de avanço tecnológico, o império dos Estados Unidos já não se contentam
mais com sangue e mortes de países arrasados por bombas. Eles querem também o
controle das mentes e da privacidade.
Senão, vejamos no livro 1984 e agora, depois das revelações de Snowden.
Logo no começo do romance se escreve: “Era uma dessas pinturas realizadas de
modo a que os olhos o acompanhem sempre que você se move. O GRANDE IRMÃO ESTÁ
DE OLHO EM VOCÊ, dizia o letreiro embaixo”. Ou Big Brother is watching you.
Notam alguma semelhança entre os abusos avassaladores da espionagem de Obama e
o livro publicado em 1948?
Observem esta informação: “Qualquer barulho feito, mais alto que um
cochicho, seria captado pelo aparelho; além do mais, enquanto permanecesse no
campo de visão da tela, uma pessoa poderia ser vista também. Naturalmente, não
havia jeito de determinar se, num dado momento, o cidadão estava sendo vigiado
ou não. Impossível saber com que frequência, ou periodicidade, a Polícia do
Pensamento ligava para a casa de qualquer individuo. Era concebível, mesmo, que
observasse todo mundo ao mesmo tempo. A realidade é que podia ligar determinada
linha, no momento que desejasse.”. Isso é do livro, amigos, que o relatório
de Snowden copiou, digamos assim.
Olhem isto: “GUERRA É PAZ. LIBERDADE É ESCRAVIDÃO.” Vocês watch bem, se
eu não houvesse lido, não diria que é do livro. Porque isso é a política
externa dos Estados Unidos, hoje. Ou melhor, é a propaganda do modo de ser
imperial que corre o mundo. Quando o governo dos Estados Unidos arrasa
populações com bombas, está apenas defendendo a paz, não é verdade? Pelo que os
filmes de Hollywood nos deformam em dramas eletrizantes, quando escravizam
povos, os soldados norte-americanos apenas espalham a liberdade sobre súditos
ignorantes.
Espionem se estas linhas do livro são ou não a propaganda do governo dos
Estados Unidos:
“No alto da pirâmide está o Grande Irmão. O Grande Irmão é
onipotente. Cada sucesso, realização, vitória, descobrimento científico, toda
sabedoria, sapiência, virtude, felicidade, são atribuídos diretamente à sua
liderança e inspiração. Ninguém nunca viu o Grande Irmão. É uma cara nos
tapumes, uma voz das telas”.
E me digam depois se isto é ou não o Facebook e as redes sociais hoje
sob controle absoluto:
“Nada do que ele faz é indiferente. Suas amizades, seus divertimentos,
sua conduta em relação à esposa e aos filhos, a expressão de seu rosto quando está
só, e até os movimentos característicos do seu corpo, tudo é ciosamente
analisado. É certo que descobrem não apenas as mais minúsculas infrações, como
qualquer excentricidade, por pequena que seja, qualquer modificação de hábitos,
qualquer maneirismo nervoso que possa ser o sintoma duma luta íntima. Não tem
liberdade de escolha em direção alguma”.
De volta ao real, até parece que voltamos à ficção. Pois diante da
notícia da espionagem contra a presidenta Dilma, houve quem postasse nos
comentários da internet: “Obama, por favor nos invada e nos transforme em
país de primeiro mundo. Venham, yankees, possuam nosso corpos e mentes”. Os
brasileiros à direita que descarregam tais joias apenas falam que,
domesticados, passaram a amar o Grande Irmão. Nada mais George Orwell, nada
mais 1984 neste 2013.
*
Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da
redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações
Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici e “Soledad no Recife”. Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao
ensino em colégios brasileiros.
No final, comentário engraçado dos "facebuquianos" para um tema assustador.
ResponderExcluir