Ajuste poético
* Por
Evelyne Furtado
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Onde fica o ponto entre a ingenuidade e a descrença total?
Preciso
urgentemente encontrar. Não quero ir de um extremo ao outro. Há de existir algo
no meio do caminho.
Não
desejo uma mudança tão radical. Deve ser por isso que caio e levanto no mesmo
lugar.
É
verdade que já dei alguns passos em outra direção, mas outro dia me ouvi
apelando para que alguém me dissesse que vale a pena insistir.
Tem
sido assim de uns tempos para cá: A vida mostrando a língua e eu fingindo não
ver ou um sonho atrás do outro na fila do despertar.
Acho
que essa aura de candura já não me cai bem. Tenho para mim que as roupas também
não estão adequadas. Às vezes sinto o desconforto do organdi na pele de menina
bem comportada que detestava usar aquele vestido azul marinho.
Em
outras lembro o jeans que apertava demais. Alguns vestidos estão muito curtos;
outros arrastam a poeira de duzentos anos atrás.
Estou
consciente de minha inadequação, mas sem toda coragem para mudar. Mesmo as
minhas palavras precisam de ajustes, pois teimam permanecer na
irresponsabilidade poética andando por aí sem documentos, nem regras
gramaticais. Umas sem estilo, mas muito queridas por mim, minhas palavras são.
Por
isso repito a pergunta com a qual iniciei esse pequeno texto. _Existe realmente
esse lugar? Se existe aproveite e me diga com que roupa devo chegar.
* Poetisa e
cronista de Natal/RN
A roupa importa pouco, o principal é preparar bem o espírito na hora de chegar. Suas palavras mostram uma sonhadora de pés no chão.
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