A claque se revolta
* Por
Marcelo Sguassábia
Prosseguem em todo o país
as passeatas e atos de protesto exigindo assistência médica para as claques de
teatro, televisão, eventos e comícios.
Em Osasco, representantes
dos movimentos reivindicatórios das claques foram saudados com aplausos pela
população. Entretanto, alguns grupos de aposentados, que jogavam pega-varetas
nas imediações, suspeitam que aqueles que aplaudiam seriam na verdade membros
das próprias claques, numa demonstração forjada e fraudulenta de apoio.
Confirmada a hipótese, teríamos o que se poderia chamar de claque da claque.
Polêmicas à parte, o fato é
que os manifestantes distribuíram panfletos com as principais pautas do movimento,
elencando os males a que estão sujeitos e contra os quais não contam com a
mínima assistência:
. LER (Lesão por Esforços
Repetitivos), ocasionada pelas sessões contínuas de salvas de palmas. Esta é a
mais comum das moléstias enfrentadas pela classe.
. Afonia, provocada pelos
gritos e exclamações nos programas de auditório, sendo os principais deles, por
ordem de ocorrência: "ÊÊÊ", "Mais um" e
"Lindooooooo". Esse esforço é redobrado sempre que a claque é
incitada a abafar vaias. O que não é incomum nos quadros de calouros, em geral
com transmissões ao vivo para todo o território nacional.
. Alergias diversas, em
decorrência da infestação de fungos e bactérias nas mal-higienizadas poltronas
dos estúdios de TV.
. Inanição. Alguns partidos
políticos, por exemplo, alimentam suas numerosas claques de comício com apenas
um croissant e um copo de limonada por pessoa, ao longo de jornadas que se
arrastam por dezoito a vinte horas.
Além disso, o recrutamento
informal de mão-de-obra e a não-regulamentação da atividade levam a expedientes
abusivos, que comprometem inclusive o futuro do ofício. Por não mais que 99
centavos, qualquer cidadão leva para casa um CD coreano contendo um menu
variado de palmas, urros, coros e gritos de guerra. Alguns desses CDs contêm
até backgrounds de carpideiras aos prantos, para utilização em velórios. Ainda
que o efeito desses templates vagabundos não se compare à performance de uma
claque de verdade, o consumidor tende a preferi-lo, por aliar praticidade a um
custo quase zero. Resultado: milhares de famílias à míngua e à margem da
seguridade social, pelo desemprego em massa dos nossos queridos batedores de
palmas.
A continuidade desta
situação levará, certamente, a consequências desastrosas. Um dos participantes
do protesto desabafa: "A claque existe desde que o mundo é mundo, e há
relatos de sua decisiva influência na Roma Antiga como instrumento de
manipulação das massas pelos imperadores. Teve ainda papel de relevo em
importantes eventos no Coliseu e em festinhas privê do alto escalão - como a
formatura do filho caçula de Nero, ocasião em que não menos de 600 claqueiros
foram contratados para dar vivas à conquista do garoto.
Finalizando, afirmou que, caso não sejam atendidos em suas
reivindicações, os claqueiros cruzarão os braços a partir do próximo dia 07. Já
no dia 09, os manifestantes se dividirão em grupos de 50 pessoas para promover
o que chamam de “Grande Vaião - 24 horas ininterruptas de vaias” dentro dos
principais hospitais públicos do país.
* Marcelo Sguassábia é
redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com
(Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com
(portfólio).
Do aplauso a vaia é um pulo. Os humores da população são instáveis, e o povo difícil de agradar. Gostei do termo "claqueiros". Uma nova profissão se avizinha. Palmas (verdadeiras) para o autor.
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