quarta-feira, 6 de abril de 2011



Oração da manhã


* Por Flora Figueiredo


Bom Dia, Pai! Vamos tomar juntos o café da manhã?

Temos pendentes tantos assuntos!

(O pão está fresquinho, o café bem quente).

Ainda que só um minutinho,

Nós precisamos conversar:


O Mundo desabou de tal jeito,

Que nada mais parece ter efeito.

Não há teoria ou ciência.

Que o possa regenerar

Cada qual briga pelo seu bocado

sem nenhuma decência.

Sem qualquer restrição.


Perdeu-se nas cinzas o espírito cristão.

Por isso a minha idéia,

(por favor, passe a geléia),

de recorrer a uma ajuda;

sem você, a situação não muda.

A ambição vem demolindo a Terra;

A sociedade, cada vez mais dissoluta.


E fique atento,

Pois andam procurando uma fé substituta.

Os governantes estão cegos;

Que tal devolver-lhes a visão?

Carregam pregos nas mãos,

Crucificam o povo.

Não quero que você morra de novo!

Meu Jesus multiplique o pão.


Perdoe esse bate-papo,

(a sua frente tem um guardanapo)

é que estou tão aflita!

Que bom receber sua visita logo de manhã.

Devo lhe contar um segredo:

Quero sair de casa, mas tenho medo,

Preciso segurar sua mão.

Falta mencionar uma graça:


O girassol que nasce na calçada,

O rouxinol da madrugada,

O pedaço de lua que vaza na vidraça,

O azul - orvalho que cai.

Daqui pra frente, eu sigo meu caminho

e lhe entrego todo meu afeto.

Você é mesmo meu amigo predileto!

Bom Dia, Pai !”


• Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.

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