Oração da manhã
* Por Flora Figueiredo
“Bom Dia, Pai! Vamos tomar juntos o café da manhã?
Temos pendentes tantos assuntos!
(O pão está fresquinho, o café bem quente).
Ainda que só um minutinho,
Nós precisamos conversar:
O Mundo desabou de tal jeito,
Que nada mais parece ter efeito.
Não há teoria ou ciência.
Que o possa regenerar
Cada qual briga pelo seu bocado
sem nenhuma decência.
Sem qualquer restrição.
Perdeu-se nas cinzas o espírito cristão.
Por isso a minha idéia,
(por favor, passe a geléia),
de recorrer a uma ajuda;
sem você, a situação não muda.
A ambição vem demolindo a Terra;
A sociedade, cada vez mais dissoluta.
E fique atento,
Pois andam procurando uma fé substituta.
Os governantes estão cegos;
Que tal devolver-lhes a visão?
Carregam pregos nas mãos,
Crucificam o povo.
Não quero que você morra de novo!
Meu Jesus multiplique o pão.
Perdoe esse bate-papo,
(a sua frente tem um guardanapo)
é que estou tão aflita!
Que bom receber sua visita logo de manhã.
Devo lhe contar um segredo:
Quero sair de casa, mas tenho medo,
Preciso segurar sua mão.
Falta mencionar uma graça:
O girassol que nasce na calçada,
O rouxinol da madrugada,
O pedaço de lua que vaza na vidraça,
O azul - orvalho que cai.
Daqui pra frente, eu sigo meu caminho
e lhe entrego todo meu afeto.
Você é mesmo meu amigo predileto!
Bom Dia, Pai !”
• Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.
Que texto mais lindo!
ResponderExcluir