A lei
* Por Marcos Alves
http://sites.google.com/site/rubricafilmes
O homem tinha o rosto atordoado. Fora parado pela polícia e tinha que se explicar. Estava em um fusca velho (39 anos era a idade do carro), apresentava sinais de embriaguez detectado pelo bafômetro que não se recusara a soprar. “Está certo, está certo. Eu to errado, está certo”, dizia entre soluços e lágrimas à repórter de TV que aparecera rápido. Era o tipo de situação que interessa, rende matéria, porque é muito engraçado.
“Se o sujeito soprar o bafômetro mostra, se não soprar esconde, coloca um efeito, esconde o rosto”. A regra do telejornal é clara. Não se sabe qual o princípio que rege esse tipo de postura, mas é a lei. E o coitado teve a cara estampada para deleite dos que se divertiam vendo a cena de gosto duvidoso.
Pouco depois, outra pauta: um acidente com um caminhão de eletrodomésticos que teve a carga saqueada por motoristas que passavam pela BR. A maioria em bons carros (seguramente com menos de 39 anos de uso – ao contrário do fusca) e que pararam e colocaram no porta-malas as telas de LCD, home-teathers e outros brinquedinhos novinhos em folha. Foram interceptados pela Polícia Rodoviária Federal. Agora, a ordem era inversa: “evita mostrar os rostos, são suspeitos, estão protegidos pela prerrogativa de que ninguém é culpado antes de condenação formal pela Justiça”.
A matéria é exibida sem que essas pessoas sejam expostas, afinal, existe o risco de um processo com fins indenizatórios. Na sala de exibição, ninguém diz nada, a matéria não tem o mesmo apelo da anterior. É assim…
Tive pena do homem do bafômetro, por mais que saiba que é perigosíssimo dirigir depois de beber. Mas também fiquei desapontado diante dessa covardia que é proteger quem representa ameaça – mais precisamente ameaça financeira ao patrão em caso de processo na justiça. E me pergunto: que justiça é essa?
A resposta vem logo: a mesma justiça que oprime os fracos, sem recursos, sem cultura, sem respaldo, sem conhecimento, sem dinheiro, sem amigos na imprensa, sem esperança, sem nada. E que beneficia os minimamente preparados para se defender, até mesmo quando estão descumprindo a lei.
* Jornalista
* Por Marcos Alves
http://sites.google.com/site/rubricafilmes
O homem tinha o rosto atordoado. Fora parado pela polícia e tinha que se explicar. Estava em um fusca velho (39 anos era a idade do carro), apresentava sinais de embriaguez detectado pelo bafômetro que não se recusara a soprar. “Está certo, está certo. Eu to errado, está certo”, dizia entre soluços e lágrimas à repórter de TV que aparecera rápido. Era o tipo de situação que interessa, rende matéria, porque é muito engraçado.
“Se o sujeito soprar o bafômetro mostra, se não soprar esconde, coloca um efeito, esconde o rosto”. A regra do telejornal é clara. Não se sabe qual o princípio que rege esse tipo de postura, mas é a lei. E o coitado teve a cara estampada para deleite dos que se divertiam vendo a cena de gosto duvidoso.
Pouco depois, outra pauta: um acidente com um caminhão de eletrodomésticos que teve a carga saqueada por motoristas que passavam pela BR. A maioria em bons carros (seguramente com menos de 39 anos de uso – ao contrário do fusca) e que pararam e colocaram no porta-malas as telas de LCD, home-teathers e outros brinquedinhos novinhos em folha. Foram interceptados pela Polícia Rodoviária Federal. Agora, a ordem era inversa: “evita mostrar os rostos, são suspeitos, estão protegidos pela prerrogativa de que ninguém é culpado antes de condenação formal pela Justiça”.
A matéria é exibida sem que essas pessoas sejam expostas, afinal, existe o risco de um processo com fins indenizatórios. Na sala de exibição, ninguém diz nada, a matéria não tem o mesmo apelo da anterior. É assim…
Tive pena do homem do bafômetro, por mais que saiba que é perigosíssimo dirigir depois de beber. Mas também fiquei desapontado diante dessa covardia que é proteger quem representa ameaça – mais precisamente ameaça financeira ao patrão em caso de processo na justiça. E me pergunto: que justiça é essa?
A resposta vem logo: a mesma justiça que oprime os fracos, sem recursos, sem cultura, sem respaldo, sem conhecimento, sem dinheiro, sem amigos na imprensa, sem esperança, sem nada. E que beneficia os minimamente preparados para se defender, até mesmo quando estão descumprindo a lei.
* Jornalista
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