Linguagens diferentes
Caríssimos leitores, boa tarde. Que tal iniciar uma nova semana e, junto com ela, nova Primavera, com boa Literatura? Espero que a seleção de hoje agrade a “gregos e troianos”, tarefa das mais difíceis, cujo desafio, contudo, ouso encarar.
O tema que trago à apreciação de vocês, nesta segunda-feira, foi proposto por um jornalista recém-formado (e recém-contratado por uma grande empresa de comunicação do sul do País). Ele me pergunta, por e-mail, se é possível empregar linguagem literária no jornalismo e, ainda assim, não distorcer e nem desvirtuar uma notícia. Respondo: sim. Não apenas é possível, como é desejável.
É verdade que ambas disciplinas têm enfoques e até linguagens diferentes. Mas as diferenças de forma de expressão nem são tão grandes a ponto de impedir que um bom repórter redija matéria que, além do conteúdo e do rigor com a informação, seja bem escrita e tenha, até, estilo.
Aliás, o Literário nasceu com essa proposta original. Depois, com o passar do tempo, para não deixar você, caríssimo escritor, que nunca freqüentou uma redação de qualquer veículo de comunicação, de fora desse projeto.
Hoje, a única condição para que alguém se junte a nós não é mais aquela original: a de ser jornalista. Este espaço está aberto (abertíssimo) a todos os que façam e queiram fazer boa literatura, não importando sua profissão.
O que é tido, hoje em dia, como o fundamento de uma boa reportagem (além dos pressupostos básicos do jornalismo que todo profissional de imprensa deve conhecer como seu beabá)? O texto deve conter o lead, que resume a notícia (respondendo às clássicas perguntas, quem, o quê, quando, onde e por que), os antecedentes (o que originou o fato narrado) e os conseqüentes (quais conseqüências eles geraram, geram ou podem gerar, colocados na boca do personagem principal da notícia).
Como editor, devolvo ao repórter matéria que não contenha esses três elementos (lead, antecedentes e consequentes) e exijo que a reescreva. Mas qual a razão objetiva desses três fundamentos da boa reportagem não serem escritos com arte, com estilo, com coração e criatividade? Nenhum.
Infelizmente, a pretexto da pressa com que o repórter trabalha (que, por sinal, é verdadeiro), muitos relaxam na redação. Confundem “reiteração” (outra característica do jornalismo) com exagerada e monótona “repetição”, que só “engorda” o texto, sem lhe acrescentar nenhum conteúdo ou informação extra, e o torna, assim, chato, monótono e força o editor a ter trabalho extra: o de “enxugá-lo”.
Os redatores que agem assim, deixam de exercitar a nobilíssima arte da narrativa e da descrição meticulosa e detalhada. Substituem-na por uma fórmula pré-fabricada, que todos usam e nem sabem porque, sem nenhuma imaginação, fazendo com que o leitor passe rapidamente os olhos sobre a matéria que escreveram e vire o mais depressa que puder a página.
A proposta do jornalismo literário é a de, justamente, induzir o repórter a, sem deixar de lado um único dos postulados do jornalismo, tornar a reportagem tão atrativa quanto um conto, romance ou novela. Afinal, está contando uma história, com a diferença que é verídica, ao contrário das contadas por escritores. É difícil? Não sei! Creio que para os que realmente têm vocação jornalística e amam o que fazem, não se limitando a fazer meramente por obrigação, não há lá grandes dificuldades. Enfim...
Centenas, quiçá milhares de repórteres fazem isso. E, por fazerem, obtêm projeção e findam, quase que invariavelmente, por escrever livros, e de grande sucesso, sem sequer fazerem sacrifícios absurdos. E, se alguém faz bem alguma coisa, cada um de nós pode, também, fazer, não é mesmo? Voltarei oportunamente ao assunto.
Boa leitura.
O Editor.
Caríssimos leitores, boa tarde. Que tal iniciar uma nova semana e, junto com ela, nova Primavera, com boa Literatura? Espero que a seleção de hoje agrade a “gregos e troianos”, tarefa das mais difíceis, cujo desafio, contudo, ouso encarar.
O tema que trago à apreciação de vocês, nesta segunda-feira, foi proposto por um jornalista recém-formado (e recém-contratado por uma grande empresa de comunicação do sul do País). Ele me pergunta, por e-mail, se é possível empregar linguagem literária no jornalismo e, ainda assim, não distorcer e nem desvirtuar uma notícia. Respondo: sim. Não apenas é possível, como é desejável.
É verdade que ambas disciplinas têm enfoques e até linguagens diferentes. Mas as diferenças de forma de expressão nem são tão grandes a ponto de impedir que um bom repórter redija matéria que, além do conteúdo e do rigor com a informação, seja bem escrita e tenha, até, estilo.
Aliás, o Literário nasceu com essa proposta original. Depois, com o passar do tempo, para não deixar você, caríssimo escritor, que nunca freqüentou uma redação de qualquer veículo de comunicação, de fora desse projeto.
Hoje, a única condição para que alguém se junte a nós não é mais aquela original: a de ser jornalista. Este espaço está aberto (abertíssimo) a todos os que façam e queiram fazer boa literatura, não importando sua profissão.
O que é tido, hoje em dia, como o fundamento de uma boa reportagem (além dos pressupostos básicos do jornalismo que todo profissional de imprensa deve conhecer como seu beabá)? O texto deve conter o lead, que resume a notícia (respondendo às clássicas perguntas, quem, o quê, quando, onde e por que), os antecedentes (o que originou o fato narrado) e os conseqüentes (quais conseqüências eles geraram, geram ou podem gerar, colocados na boca do personagem principal da notícia).
Como editor, devolvo ao repórter matéria que não contenha esses três elementos (lead, antecedentes e consequentes) e exijo que a reescreva. Mas qual a razão objetiva desses três fundamentos da boa reportagem não serem escritos com arte, com estilo, com coração e criatividade? Nenhum.
Infelizmente, a pretexto da pressa com que o repórter trabalha (que, por sinal, é verdadeiro), muitos relaxam na redação. Confundem “reiteração” (outra característica do jornalismo) com exagerada e monótona “repetição”, que só “engorda” o texto, sem lhe acrescentar nenhum conteúdo ou informação extra, e o torna, assim, chato, monótono e força o editor a ter trabalho extra: o de “enxugá-lo”.
Os redatores que agem assim, deixam de exercitar a nobilíssima arte da narrativa e da descrição meticulosa e detalhada. Substituem-na por uma fórmula pré-fabricada, que todos usam e nem sabem porque, sem nenhuma imaginação, fazendo com que o leitor passe rapidamente os olhos sobre a matéria que escreveram e vire o mais depressa que puder a página.
A proposta do jornalismo literário é a de, justamente, induzir o repórter a, sem deixar de lado um único dos postulados do jornalismo, tornar a reportagem tão atrativa quanto um conto, romance ou novela. Afinal, está contando uma história, com a diferença que é verídica, ao contrário das contadas por escritores. É difícil? Não sei! Creio que para os que realmente têm vocação jornalística e amam o que fazem, não se limitando a fazer meramente por obrigação, não há lá grandes dificuldades. Enfim...
Centenas, quiçá milhares de repórteres fazem isso. E, por fazerem, obtêm projeção e findam, quase que invariavelmente, por escrever livros, e de grande sucesso, sem sequer fazerem sacrifícios absurdos. E, se alguém faz bem alguma coisa, cada um de nós pode, também, fazer, não é mesmo? Voltarei oportunamente ao assunto.
Boa leitura.
O Editor.
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