domingo, 20 de setembro de 2009


Composição de personagem

Caríssimo leitor, boa tarde. É com satisfação que chego até você, neste domingo, véspera do início da Primavera, para conversar sobre o que mais gosto (e sei) fazer: Literatura. Sente-se ao meu lado. Quer beber alguma coisa, cerveja, refrigerante, café? Fique à vontade!
Se você é escritor, é possível que tenha o mesmo fascínio que eu tenho por uma das etapas da criação literária, mais especificamente, em textos de ficção. Refiro-me à composição de personagens.
Cada qual tem lá o seu método e todos funcionam. Caso contrário, não teríamos essa infinidade de contos, romances, novelas e peças de teatro que há por aí, não é mesmo? E esse processo varia, de uma história para outra do mesmo escritor, de acordo com as circunstâncias. Há personagens que já nascem prontos, acabados, vivinhos da silva, aptos a protagonizar os enredos que temos na cabeça.
Há outros, no entanto, que precisam ser trabalhados, burilados, melhorados aqui e ali, que a princípio são imaginados de uma determinada forma, e para terem papel secundário de meros figurantes, mas que crescem e findam por roubar a cena ao longo da narrativa. São os que dão mais trabalho na criação. Mas são, também, os que dão maior satisfação ao escritor e que ganham o caráter de permanência. Tenho lá certa intuição, por exemplo, de que a Capitu, de Machado de Assis nasceu assim. Não posso jurar, claro, mas faço essa dedução baseado em minha experiência pessoal.
Essa arte da escrita é mesmo estranha e não raro contraditória, daí ser tão fascinante! Há contos, novelas e romances extensíssimos e que, no entanto, quase não dão trabalho para escrever. Saem num único “sopro” e requerem, apenas, uma correção aqui e ali para ficarem prontos. E têm imensa qualidade.
Em contrapartida, há contos curtinhos, às vezes de uma página e meia, se tanto, que dão um trabalho enorme para a conclusão. Mexemos no texto inúmeras vezes e cada nova versão nos parece pior do que a anterior.
Às vezes trabalhamos por meses a fio, não raro por anos, nessas histórias, mais por teimosia do que propriamente por necessidade. E quando ficam prontas, ainda assim não nos satisfazem. Mas agradam os leitores, que é aquilo que importa. Estranho esse exercício de criação!!!
Dizem que Mário de Andrade levou dezoito anos para escrever determinado conto. E que, quando o terminou, achou-o horrível. Teve a tentação de destruí-lo, mas o editor não deixou que o destruísse. “Confiscou-o” antes. E fez sensação entre os leitores.
Fico imaginando se fiz bem ao “abortar” determinados contos que estavam me trazendo dificuldades, pois, por mais que eu fizesse, ficavam piores de uma versão para outra. Quem sabe o meu nível de auto-exigência era maior do que deveria ser? É possível! Nunca vou saber. Tresloucadamente, deletei-os da memória do meu computador.
Bem, amigos, chega de jogar conversa fora. Espero que estas considerações lhes sejam úteis de alguma maneira. De qualquer forma, se não forem, valeu o papo. Foi agradabilíssimo, pelo menos para mim. Divirtam-se, com o menu de hoje do Literário, um tanto leve, levando-se em conta o fato de se tratar de um domingão de folga.

Boa leitura.

O Editor.

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