quinta-feira, 24 de setembro de 2009


Administrar vaidades

Caríssimos leitores, boa tarde. Antes de tudo, quero manifestar minha gratidão pelo seu prestígio e assiduidade. Sem vocês, o Literário não teria razão de existir. Aos poucos, pacientemente, vamos nos consolidando neste novo espaço. Afinal, já são 66 nossos seguidores e estamos próximos dos 24.300 acessos, o que é bastante considerável, levando-se em conta a concorrência. Este é o melhor “termômetro” para aferir a “temperatura” deste espaço.
Hoje, mais uma vez (e isso já está virando rotina), respondo a um e-mail, em que o autor elogia e critica o nosso trabalho. O elogio (merecidíssimo) é destinado aos colunistas e colaboradores. A crítica é endereçada a este Editor, e mais especificamente, aos meus editoriais diários.
O leitor em questão argumenta que o título deste espaço é inadequado. Ora, ora, ora! Por que? O que é, em última análise, um editorial? É, até por definição, a “palavra do Editor”. E não é o que venho fazendo?! Provavelmente meu crítico estranha o tom coloquial destas considerações diárias.
Está acostumado aos editoriais sisudos, chatos, não raro arrogantes, destes aos quais sequer damos uma olhada ao abrirmos nosso jornal, que lê por aí. Quem criou essa “regra”, se é que ela exista, de que a palavra oficial da instituição tenha que ser, necessariamente, pedante e com ares de “dona da verdade” (como de fato é, salvo raras exceções)?
Aliás, acho engraçado um fato. Quando escrevo editoriais mais sérios e sisudos, sou acusado de espantar leitores. Quando mudo o enfoque e adoto tom coloquial, igualmente sou criticado. É como diz o surrado clichê: “Ninguém consegue agradar, simultaneamente, a gregos e troianos”. Como este espaço é democrático, fica registrada a restrição do leitor.
A função de editor é coisa para malucos. Esse tipo de profissional arca com toda a responsabilidade de uma edição (não importa se de jornal, revista, rádio, televisão ou até mesmo de alguma editora) e não recebe, em troca, nenhuma vantagem, a não ser a certeza de um trabalho bem feito (isso quando tudo sai conforme o planejado). Nas premiações jornalísticas anuais, por exemplo, repórteres, fotógrafos, articulistas etc. são premiados, mas o editor sequer é lembrado. Ocorre que a responsabilidade final pelo resultado da edição (aquele que o leitor vai ler ou o telespectador vai ver) é dele.
Compete-lhe detectar e corrigir os erros das matérias que lhe são entregues pelos repórteres. É dele a tarefa de selecionar as melhores fotografias, quer no aspecto jornalístico, quer no visual. Ele é que determina como será o layout da página. Ele elabora os títulos, olhos, linhas-finas e legendas que darão vida ao texto. No entanto... os leitores sequer sabem de sua existência. Cite, sem pestanejar, o nome de dois ou três editores dos grandes jornais nacionais. Não consegue, não é? Pois é isso.
Além de todas essas tarefas que citei, esse profissional precisa saber administrar vaidades. Não raro, recebe matérias da sua editoria que preencheriam, sozinhas, um jornal inteiro. Todavia, conta com apenas duas páginas, carregadas de anúncios (quando conta) para noticiar tudo o que recebe. Precisa, pois, “hierarquizar” as notícias, pois as páginas não são de borracha e, portanto, não esticam. Ou seja, tem que separar as informações que tem em mãos por ordem de importância, o que é tarefa sumamente subjetiva. Por isso, claro, terá que deixar várias matérias, que considere de interesse menor, de fora. Mas fazendo isso, tem que agüentar resmungos dos repórteres (dos que tiveram matérias derrubadas, claro). E isso dia após dia, semana após semana, mês após mês.
Não raro, encontra erros gritantes nas reportagens (de informação, de nome dos personagens da notícia, de grafia, concordância, regência etc.) e, claro, tem que consertar. Afinal, desgraçadamente, a imprensa extinguiu, por questão de contenção de custos, a figura do revisor.
Todavia, quem teve essa providencial “mãozinha” do editor, que evitou que caísse até em ridículo pelos erros cometidos sequer agradece. Não raro ainda fica zangado pelo fato da sua matéria não ter sido publicada do jeito que a redigiu. Portanto, o editor é ou não é um maluco por aceitar (e gostar de exercer) essa função?

Boa leitura.

O Editor.

2 comentários:

  1. Cansa, mas deve ser gostoso dar a forma final da edição. Afora a vaidade dos repórteres, o editor também a tem, já que é humano. Sobre o tom dos editorias, acho que está na medida certa. Sou uma das que reclamaram da sisudez e de temas muito elaborados, e distantes do leitor comum. Nem consigo imaginar em quantas mangas esconde tantos segredos. A sua temática mostra-se inesgotável. Caso venha a precisar de sugestões, dê o grito e diga que não tem nada mais a dizer sobre literatura. Mas vai demorar anos. E ainda, sobre a audiência do Literário, vejo pelo marcador, que está indicando mais de 250 visitas diárias. Então, caro editor, o acerto é seu, mas a glória é de todos que se divertem lendo essa revista aqui.

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