Corrida de obstáculos - I
* Por Marcos Alves
Enfiou a chave com cuidado... Girou para a esquerda de mansinho, assim e a cada estalo mínimo que saía de dentro do tambor fazia uma careta. “Seis da manhã, Romualdo. Dessa vez tu exagerou irmão”, pensava. Quanto finalmente conseguiu entrar deu de cara com o relógio que marca: seis e dez! “Quase acertei”.
Um domingo que já se anunciava de sol, desses de gente na rua, crianças em bicicletas e senhores de moleton fazendo caminhada. Mas para o Romualdo, com aquela cara de ontem e bafo de bebida, não ia dar.
Tudo bem. Foi só para extravasar um pouco. Não pegou ninguém – mas até que rolou uma troca de olhares, ora com a mulata generosa que insistia em me reparar, ora com o cara que estava com ela, que ficava vigiando o bar inteiro! “Esse sim eu diria que não pegou nada mesmo”, Romualdo feito retardado ficava formulando meio que os melhores momentos da madrugada na cabeça.
O ruim vai ser explicar para a mulher que não tinha passado disso mesmo. Claro que a história que ele ia contar não era bem essa, mas pelo menos já tinha um roteiro inicial e... a merda é que elas nunca acreditam. Bom, é melhor tirar essa mesinha da frente, que o passo ainda não está firme...
Beleza, missão cumprida. Agora é só... Deus! O abajur... Como irá fazer para se desviar desse objeto infeliz que fica no caminho para o banheiro? É um corredor muito estreito, e ele terá que ser percorrido com extremo equilíbrio e responsabilidade, porque logo depois tem o aparador e aquele monte de porta-retratos.
Calma, calma. Devagar, assim, devagarinho... está quase lá. Pronto, enfim o banheiro. Ué... todo arrumado, parece que ninguém usa isso há séculos! Nem toalha tem aqui, gente. Cadê o papel higiênico? E essa cueca?
Cueca? De quem é essa cueca suja e desbotada? Romualdo fica doido. Indignado. Sente uma pontada no peito. Amedrontado, solta um berro: Marta! Marta! De quem é isso aqui? Marta! Marta! Ninguém responde. O que está acontecendo?!
Romualdo, meio zonzo, saiu do banheiro. Agora, não sentiu vontade de seguir as regras desse código subliminar que rege as relações humanas, amorosas e não-amorosas, mas que incluem o interesse comum por algo que não tem como ser regido por um, apenas por dois.
Sem cerimônia e nenhum cuidado esbarrou no aparador, derrubou o porta-retratos, quebrou o abajur, quase chorou de dor ao bater a canela na mesinha da sala e com muita dificuldade abriu a porta do quarto de casal. Não havia ninguém em casa.
(Continua... A segunda e última parte na próxima postagem. Leia também em www.marcos-alves.blogspot.com)
* Jornalista
* Por Marcos Alves
Enfiou a chave com cuidado... Girou para a esquerda de mansinho, assim e a cada estalo mínimo que saía de dentro do tambor fazia uma careta. “Seis da manhã, Romualdo. Dessa vez tu exagerou irmão”, pensava. Quanto finalmente conseguiu entrar deu de cara com o relógio que marca: seis e dez! “Quase acertei”.
Um domingo que já se anunciava de sol, desses de gente na rua, crianças em bicicletas e senhores de moleton fazendo caminhada. Mas para o Romualdo, com aquela cara de ontem e bafo de bebida, não ia dar.
Tudo bem. Foi só para extravasar um pouco. Não pegou ninguém – mas até que rolou uma troca de olhares, ora com a mulata generosa que insistia em me reparar, ora com o cara que estava com ela, que ficava vigiando o bar inteiro! “Esse sim eu diria que não pegou nada mesmo”, Romualdo feito retardado ficava formulando meio que os melhores momentos da madrugada na cabeça.
O ruim vai ser explicar para a mulher que não tinha passado disso mesmo. Claro que a história que ele ia contar não era bem essa, mas pelo menos já tinha um roteiro inicial e... a merda é que elas nunca acreditam. Bom, é melhor tirar essa mesinha da frente, que o passo ainda não está firme...
Beleza, missão cumprida. Agora é só... Deus! O abajur... Como irá fazer para se desviar desse objeto infeliz que fica no caminho para o banheiro? É um corredor muito estreito, e ele terá que ser percorrido com extremo equilíbrio e responsabilidade, porque logo depois tem o aparador e aquele monte de porta-retratos.
Calma, calma. Devagar, assim, devagarinho... está quase lá. Pronto, enfim o banheiro. Ué... todo arrumado, parece que ninguém usa isso há séculos! Nem toalha tem aqui, gente. Cadê o papel higiênico? E essa cueca?
Cueca? De quem é essa cueca suja e desbotada? Romualdo fica doido. Indignado. Sente uma pontada no peito. Amedrontado, solta um berro: Marta! Marta! De quem é isso aqui? Marta! Marta! Ninguém responde. O que está acontecendo?!
Romualdo, meio zonzo, saiu do banheiro. Agora, não sentiu vontade de seguir as regras desse código subliminar que rege as relações humanas, amorosas e não-amorosas, mas que incluem o interesse comum por algo que não tem como ser regido por um, apenas por dois.
Sem cerimônia e nenhum cuidado esbarrou no aparador, derrubou o porta-retratos, quebrou o abajur, quase chorou de dor ao bater a canela na mesinha da sala e com muita dificuldade abriu a porta do quarto de casal. Não havia ninguém em casa.
(Continua... A segunda e última parte na próxima postagem. Leia também em www.marcos-alves.blogspot.com)
* Jornalista
O que teria acontecido ?
ResponderExcluirRomualdo foi surpreendido pela Marta.
Será ?
Quem mandou beber além da conta ?
Ainda bem que não há ninguém em casa. Pensei em ver, como dizia a "Ronda", "cenas de sangue num bar" da famosa avenida.
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