Salve, Isa Ferreira
* Por Risomar Fasanaro
No pequeno auditório do Espaço “Grande Otelo” em Osasco todos conversam. Depois de algum tempo ela entra no palco e como num passe de mágica, todos silenciam. É Isa Ferreira, a compositora e cantora que começa a ter seu público. Embora ainda não seja muito conhecida fora dos limites da região, prepare-se: você ainda ouvirá falar muito dessa moça bonita que canta, compõe e interpreta com alma suas canções.
A voz dela inunda o teatro: “a floresta agradece pelo canto/a floresta agradece pela oração/ a floresta agradece o olhar verde/A floresta agradece de coração/A grande floresta/ a agua floresta/ a flora floresta/ a fauna floresta/ a nossa floresta/ Amazônia...”
Os últimos acordes do oceano – instrumento que eu desconhecia e que reproduz o barulho do mar, parece escorrer do palco, aos pés de uma platéia completamente enfeitiçada.
É impossível reproduzir em palavras o que é a voz dela cantando essa canção que parece sair da alma. Uma verdadeira oração que leva as pessoas a ficarem com os olhos marejados, tão forte é seu apelo. Mais que um pedido de preservação é o agradecimento da floresta por todo o amor, todo cuidado que gostaria de receber.
Há muito suas composições têm por tema a ecologia, e grande parte do público que a prestigia é formado por crianças. Quando algumas de suas apresentações são dirigidas a elas, Isa quase não consegue sair do palco no final dos shows. Todas querem abraçá-la, pedir autógrafo, e é com muito carinho que ela acolhe seus pequenos fãs.
Foi na extinta Vila dos Artistas que nos conhecemos, nos anos oitenta. Depois disso partilhamos os mesmos duros caminhos de pedregulhos que é o fazer cultural em Osasco; construímos uma amizade que é feita de muitas afinidades.
Há alguns dias nos encontramos em um supermercado da cidade, e rindo muito escolhemos o local das verduras para conversar entre alfaces, couves, coentros e outras verduras. Digo-lhe que ali, naquele “cenário”, estamos mais próximas do clima de suas canções. Novas risadas, porque além de ecologista ela é tão risonha quanto eu.
Isa havia abandonado o emprego em um escritório para poder se dedicar à carreira. Fazia faxina em várias casas, mas por exigência da mãe que ameaçou não ajudá-la mais se continuasse desempregada para cantar, voltou a ter emprego fixo.
Atualmente é funcionária da Secretaria de Meio-Ambiente. Durante a semana ela vai em um ônibus da prefeitura buscar as crianças das escolas municipais para o Parque Chico Mendes, um Oásis que existe aqui em Osasco.
Ali, caminhando entre árvores, flores e pássaros vai mostrando às crianças a beleza que há nas raízes contorcidas das árvores, a admirar o vôo das garças, a placidez das águas do lago. Pede-lhes que olhem o céu, e vejam a cor que ele tem. É caminhando pela horta que ela incentiva as crianças a valorizarem a alimentação natural. E durante a caminhada, quando os pequenos se agitam, canta suas composições e, como um flautista de Hamelin em poucos segundos elas a seguem embevecidas, como se encantadas por aquela fada.
Se me pedissem para falar sobre o traço mais marcante dessa moça, diria que depois da voz o que mais a caracteriza é a sensibilidade e a espontaneidade. Tendo composto uma canção para os garis e margaridas, cada vez que encontra um grupo deles, ela lhes pergunta se querem ouvir uma composição em que os homenageia.. E como sempre a resposta é afirmativa, não tem dúvidas, senta-se na calçada e canta. Nesses momentos as vassouras param e eles que quase sempre são “invisíveis” para os que passam, escutam-na com a emoção à flor da pele.
Isa Ferreira é uma estrela que desponta e tem seu trabalho musical valorizado. Este é um fato raro nesta cidade ingrata com seus artistas – não existe uma rua batizada com o nome de algum dos que morreram, embora aqui tenham vivido músicos, poetas e atores dos mais talentosos.
No centenário do escritor Guimarães Rosa ela se apresentou na Casa das Rosas, na Avenida Paulista, cantando composições de Milton Nascimento. No dia da Criança, no ano passado, no mesmo local cantou suas composições para uma platéia de crianças.
Mas nem sempre esta moça viveu em Osasco. Sua família é de Jaguapitã, norte do Paraná. A mãe veio sozinha e trouxe Isa, a mais velha dos irmãos, um ano depois. A menina foi trabalhar como babá na casa da família Roy, no Paraíso, bairro de SP, para ser pajem de Ricardo, um dos filhos do casal.
Ela se emociona contando: “devo muito a essa família. Eu falava tudo errado. Quando ia lavar a louça, dizia: “vou lavar os trem”, e a patroa, Suely, me ensinava como se falava aqui em São Paulo. Ela chegou a contratar uma professora de Português para me dar aulas particulares, para que eu não fosse ridicularizada na escola”.
Hoje escrevendo com correção, essa geminiana tem dois filhos com Billo Mariano, seu ex-marido: Ian de dezenove, baterista, e Nina Julia de dez que é parceira de muitas de suas composições.
Em dezembro Isa se apresentará pelo sexto ano seguido no espetáculo A Luz do Natal, no dia 13, domingo, às 16 h na Escola de Artes, na Rua Tenente Avelar Pires de Azevedo, 360, centro de Osasco.
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
* Por Risomar Fasanaro
No pequeno auditório do Espaço “Grande Otelo” em Osasco todos conversam. Depois de algum tempo ela entra no palco e como num passe de mágica, todos silenciam. É Isa Ferreira, a compositora e cantora que começa a ter seu público. Embora ainda não seja muito conhecida fora dos limites da região, prepare-se: você ainda ouvirá falar muito dessa moça bonita que canta, compõe e interpreta com alma suas canções.
A voz dela inunda o teatro: “a floresta agradece pelo canto/a floresta agradece pela oração/ a floresta agradece o olhar verde/A floresta agradece de coração/A grande floresta/ a agua floresta/ a flora floresta/ a fauna floresta/ a nossa floresta/ Amazônia...”
Os últimos acordes do oceano – instrumento que eu desconhecia e que reproduz o barulho do mar, parece escorrer do palco, aos pés de uma platéia completamente enfeitiçada.
É impossível reproduzir em palavras o que é a voz dela cantando essa canção que parece sair da alma. Uma verdadeira oração que leva as pessoas a ficarem com os olhos marejados, tão forte é seu apelo. Mais que um pedido de preservação é o agradecimento da floresta por todo o amor, todo cuidado que gostaria de receber.
Há muito suas composições têm por tema a ecologia, e grande parte do público que a prestigia é formado por crianças. Quando algumas de suas apresentações são dirigidas a elas, Isa quase não consegue sair do palco no final dos shows. Todas querem abraçá-la, pedir autógrafo, e é com muito carinho que ela acolhe seus pequenos fãs.
Foi na extinta Vila dos Artistas que nos conhecemos, nos anos oitenta. Depois disso partilhamos os mesmos duros caminhos de pedregulhos que é o fazer cultural em Osasco; construímos uma amizade que é feita de muitas afinidades.
Há alguns dias nos encontramos em um supermercado da cidade, e rindo muito escolhemos o local das verduras para conversar entre alfaces, couves, coentros e outras verduras. Digo-lhe que ali, naquele “cenário”, estamos mais próximas do clima de suas canções. Novas risadas, porque além de ecologista ela é tão risonha quanto eu.
Isa havia abandonado o emprego em um escritório para poder se dedicar à carreira. Fazia faxina em várias casas, mas por exigência da mãe que ameaçou não ajudá-la mais se continuasse desempregada para cantar, voltou a ter emprego fixo.
Atualmente é funcionária da Secretaria de Meio-Ambiente. Durante a semana ela vai em um ônibus da prefeitura buscar as crianças das escolas municipais para o Parque Chico Mendes, um Oásis que existe aqui em Osasco.
Ali, caminhando entre árvores, flores e pássaros vai mostrando às crianças a beleza que há nas raízes contorcidas das árvores, a admirar o vôo das garças, a placidez das águas do lago. Pede-lhes que olhem o céu, e vejam a cor que ele tem. É caminhando pela horta que ela incentiva as crianças a valorizarem a alimentação natural. E durante a caminhada, quando os pequenos se agitam, canta suas composições e, como um flautista de Hamelin em poucos segundos elas a seguem embevecidas, como se encantadas por aquela fada.
Se me pedissem para falar sobre o traço mais marcante dessa moça, diria que depois da voz o que mais a caracteriza é a sensibilidade e a espontaneidade. Tendo composto uma canção para os garis e margaridas, cada vez que encontra um grupo deles, ela lhes pergunta se querem ouvir uma composição em que os homenageia.. E como sempre a resposta é afirmativa, não tem dúvidas, senta-se na calçada e canta. Nesses momentos as vassouras param e eles que quase sempre são “invisíveis” para os que passam, escutam-na com a emoção à flor da pele.
Isa Ferreira é uma estrela que desponta e tem seu trabalho musical valorizado. Este é um fato raro nesta cidade ingrata com seus artistas – não existe uma rua batizada com o nome de algum dos que morreram, embora aqui tenham vivido músicos, poetas e atores dos mais talentosos.
No centenário do escritor Guimarães Rosa ela se apresentou na Casa das Rosas, na Avenida Paulista, cantando composições de Milton Nascimento. No dia da Criança, no ano passado, no mesmo local cantou suas composições para uma platéia de crianças.
Mas nem sempre esta moça viveu em Osasco. Sua família é de Jaguapitã, norte do Paraná. A mãe veio sozinha e trouxe Isa, a mais velha dos irmãos, um ano depois. A menina foi trabalhar como babá na casa da família Roy, no Paraíso, bairro de SP, para ser pajem de Ricardo, um dos filhos do casal.
Ela se emociona contando: “devo muito a essa família. Eu falava tudo errado. Quando ia lavar a louça, dizia: “vou lavar os trem”, e a patroa, Suely, me ensinava como se falava aqui em São Paulo. Ela chegou a contratar uma professora de Português para me dar aulas particulares, para que eu não fosse ridicularizada na escola”.
Hoje escrevendo com correção, essa geminiana tem dois filhos com Billo Mariano, seu ex-marido: Ian de dezenove, baterista, e Nina Julia de dez que é parceira de muitas de suas composições.
Em dezembro Isa se apresentará pelo sexto ano seguido no espetáculo A Luz do Natal, no dia 13, domingo, às 16 h na Escola de Artes, na Rua Tenente Avelar Pires de Azevedo, 360, centro de Osasco.
* Jornalista, professora de Literatura Brasileira e Portuguesa e escritora, autora de “Eu: primeira pessoa, singular”, obra vencedora do Prêmio Teresa Martin de Literatura em júri composto por Ignácio de Loyola Brandão, Deonísio da Silva e José Louzeiro. Militante contra a última ditadura militar no Brasil.
Anotei o nome dela. Vou aguardar por Isa.
ResponderExcluirOi, Daniel. Vem à apresentação dela em dezembro. Assim a gente fica se conhecendo pessoalmente. Ela é um sonho de pessoa. Você vai gostar.
ResponderExcluirBeijo
Riso
Epa, separa uma entrada pra mim também!!! Só a história dela já vale por tudo.
ResponderExcluirIsa Ferreira: bonito reconhecimento pelo esforço, dedicação e talento genuínos.
ResponderExcluirSugestão: colocar todo o texto, mas terminar no parágrafo que fala que ela é fada.