segunda-feira, 21 de setembro de 2009




Tarado por calcinha

* Por Celamar Maione

Pericles adorava calcinha . Sonhava com calcinha, venerava calcinha. Quando criança, amava espiar a mãe e a irmã pelo buraco da fechadura. No banho, deliciava-se quando, por um descuido, elas deixavam as calcinhas penduradas no box. Ao completar 22 anos tornou-se um obsessivo pela roupa íntima feminina. Familiares e amigos acreditavam que só um psicólogo poderia entender-lhe a tara. Sempre que uma mulher o interessava, logo ele perguntava curioso: - Eu sei que pega mal, mas por favor, não se ofenda com o que vou perguntar. Poderia me dizer que tipo de calcinha você gosta de usar?

As mulheres sentiam-se invadidas com a pergunta e o romance acabava antes de começar. As amigas o achavam um boboca infantil. Ele não se importava. Ria de fazer borbolhas. Na mesa de bar, com dedo em riste, defendia suas idéias como se estivesse num palanque. Ficava vermelho e se engasgava com os petiscos.
-Não admito ir para a cama com uma mulher de calcinha furada e grandona e nem com calcinha de florzinha. Não sou pedófilo!

Recebia conselhos:
-Cara, tá certo que você gosta de calcinha cavadinha, preta, sensual, também gostamos. Mas ficar perguntando isso pra mulher que você acabou de conhecer é grosseria. Não se mede uma mulher pela calcinha que ela usa.

Pericles retrucava:
-Você transaria com uma mulher com a calcinha suja? Rasgada? Melhor broxar antes do que broxar na cama.

Nas festas ou baladas os amigos ignoravam Péricles. Não queriam passar vergonha . Na cara-de-pau, ele perguntava ás desconhecidas nas baladas:
-Que tipo de calcinha você gosta de usar?

Se recebia um fora, disfarçava e arrumava outra vítima.
-Posso ver sua calcinha? Deixa?

As mais desinibidas levavam na brincadeira e o chamavam de excêntrico. As mal humoradas, porém, partiam para a agressão verbal e o chamavam de bêbado. Nem assim tomava jeito. Ainda contava para os amigos gargalhando:
- Se a vadiazinha ficou ofendida é porque devia usar calcinha ordinária.

O coração de Pericles bateu mais forte quando conheceu Leninha. Moça linda e com sorriso de capa de revista. Era prima de um grande amigo. Encantou-se pela morena e abriu o coração para Reginaldo, que o preveniu:
- Vai com calma, é minha prima! Se ficar de palhaçada vai se ver comigo. É meu sangue.
- Pode deixar. Fica tranqüilo.

O namoro completou um mês. Meio a contragosto, Péricles segurou a curiosidade a respeito das calcinhas da moça . Tentando se controlar, pensava: “Uma mulher bonita só pode usar calcinha sensual. Ela é a mulher da minha vida”.

A primeira e única noite de quase amor entre os dois aconteceu na casa da namorada. Estavam sozinhos assistindo a um DVD. Depois de duas taças de vinho, começaram as carícias. Quando Pericles levantou o vestido de Leninha, gritou assustado:
-Cueca ??!! Isso não é uma calcinha !!!?? É uma cueca do piu piu!
Com voz adocicada, ela o puxou pela nuca:
-Qual o problema, amor? Gosto de usar cueca. São mais confortáveis. Vem, gostoso, tira a minha cuequinha.

Ele perdeu o tesão. Broxou. Teve ânsia de vômito. Tonto, empurrou Leninha, vestiu-se e saiu se batendo pelas paredes. Nunca mais viu a jovem. Revoltado, Reginaldo tomou satisfação:
- Você é um desequilibrado. Precisa de um psiquiatra. Como você pôde humilhar minha prima assim, cara? Louco de pedra!

Péricles não se intimidou:
- Sou como sou. E pronto. Não gostou ? Então bate.

Para evitar futuras decepções, Péricles passou a comprar calcinhas e distribuir entre as ficantes e namoradas. Em casa, tinha uma coleção delas, de todas as cores, modelos e tamanhos. Quando conhecia uma mulher, no primeiro dia presenteava-a.
- Na nossa primeira vez, faço questão que você use a calcinha que eu escolher. É um presente. Aliás, sempre que a gente tiver relações, quem escolhe a calcinha sou eu!

Pericles está casado com Mirialva há dois anos. Até hoje é ele quem compra as calcinhas da esposa.

*Radialista e jornalista, trabalhou como produtora, repórter e redatora nas Rádios Fm O DIA, Tropical e Rádio Globo. Foi Produtora-Executiva da Rádio Tupi. Lecionou Telemarketing, atendimento ao público e comportamento do Operador , mas sua paixão é escrever, notadamente poesias e contos.


6 comentários:

  1. Calcinha é um fetiche e tanto! Até estranho que um maior número de homens não se apegue a elas, a ponto de comprá-las para suas mulheres. Alisar aquele tipo de tecido é ... hum ... deixa pra lá! Parabéns, cara Cel. E mais não digo.

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  2. Melhor ainda se for das perfumadas....

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  3. Quando a calcinha torna-se mais importante do que o conteúdo, alguma coisa estranha pode estar acontecendo. Muitas são as escolhas. Há os tarados por exibir mulher bonita, e já outros gostam de fazer amor com elas. Há os que gostam de vesti-las com calcinhas comestíveis, outros de despi-las. Os diálogos, como sempre, convencem. São a sua mais poderosa arma Celamar, depois da ótima imaginação.

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  4. Não tenho tara por lingerie. Acho muito íntimo. Mas gosto mesmo é de uma mulher bonita e de seios grandes.

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  5. É, Celamar, nós mulheres sabemos o quanto uma calcinha é importante.É escolha mais importante que a do vestido...
    Beijos

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  6. Melhor que a foto, só o texto. Ah, Celamar, você não toma jeito...
    Um beijo e parabéns!

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