Os extraordinários apaeanos
* Por Seu Pedro
Valho-me de um passado de vinte e poucos anos para dar sabor à alegria vivida hoje. Não sei informar o tempo certo em que conheço a existência nacional da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais. Posso garantir, porém, que o final dos anos oitenta foi decisivo para que eu voltasse minhas atenções à existência desta associação formada por pais e amigos; repito amigos! Morava na cidade de Bicas, na Zona da Mata mineira e observava, nas antigas dependências da estação do extinto trem, uma movimentação diferente da normalidade da cidade. Eram portadores de um sorriso franco os que ali freqüentavam. Ali estava instalada uma APAE.
Minha passagem naquela cidade, onde fundei e afundei o jornal semanário Voz da Mata, foi curta. Problemas familiares, nada mais. Não me foi dado tempo de apalpar a alma daqueles seres puros. Cheguei a ter vontade de me tornar um daqueles. Imaginei que Deus poderia me conceder alguns anos de vida excepcional para que eu pudesse conhecer um mundo, que tenho certeza é mais colorido. Se lá encontrasse amigos que comigo viessem a comungar e a sentir a minha vida de excepcional, acreditando em meu potencial, uma vez que eu nunca mentiria, não desejaria voltar a viver a realidade dos ditos normais. Mas a vida não é feita de nossos desejos, mas das recicláveis decisões de nossa entrega.
Na seqüência de uma busca, eu, que buscava apenas ser feliz, não sabia que diria, repito: “Se o passado souber como estou feliz agora, não mais voltará a me perturbar com suas saudades!”. Naveguei até o seco Sertão da Bahia, tangido, como boi, cujo caminho é traçado pelas chicotadas que lhe dão, até encontrar o matadouro ou um porto feliz. Cheguei a Guanambi, sertão, no caminho inverso à normalidade, mas igual ao membro de um exército de arribação que só carrega consigo algumas peças de roupa, os documentos, a vontade e a coragem e que tem na cabeça. Aqui, cá distante da vida que conhecia, removi coisas que só causam peso à cabeça do homem. Voltei a ter a paz e a felicidade de um lar.
A felicidade me completando, mesmo que sempre queiramos mais, fez-me conhecer a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de Guanambi – APAE, e as dedicadas professoras e voluntárias que por lá prestam seus voluntariados. Novamente pus-me a pensar: “Que razão leva um batalhão de senhoras a ter voluntariedade com o próximo, enquanto os homens repousados na conveniência de que o dinheiro que possuem é o suficiente para fazer a caridade, raramente participam fisicamente das atividades sociais de uma cidade?”. As obras beneméritas de uma cidade carecem de palhaços, motoristas, da presença masculina, de um Papai Noel... E será a mulher substituir o bom velhinho?
Entre a repentina idéia de ser voluntário e a duradoura ação de sê-lo, bem colado e agarradinho, ganhei felicidade por mais de uma década sem desembolsar volumes financeiros, sendo voluntário de uma APAE. Nela tive oportunidade de ser locutor, angariador do lanche para as atividades da Semana Nacional do Excepcional, varredor de pátio, motorista do veiculo personalizado que busca e leva aquela gente em casa. Nem que por um dia só, fui piloto de perua escolar! Também fui Papai Noel em um mês de agosto, quando com aqueles amigos alegres sai “pendurado” no Trem da Alegria em um percurso pelo centro comercial e centro administrativo dando acenos de mão e “hô-hô-hô” para um povo surpreso com um bom velhinho de meio de ano. Como isto me fez feliz!
* Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
* Por Seu Pedro
Valho-me de um passado de vinte e poucos anos para dar sabor à alegria vivida hoje. Não sei informar o tempo certo em que conheço a existência nacional da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais. Posso garantir, porém, que o final dos anos oitenta foi decisivo para que eu voltasse minhas atenções à existência desta associação formada por pais e amigos; repito amigos! Morava na cidade de Bicas, na Zona da Mata mineira e observava, nas antigas dependências da estação do extinto trem, uma movimentação diferente da normalidade da cidade. Eram portadores de um sorriso franco os que ali freqüentavam. Ali estava instalada uma APAE.
Minha passagem naquela cidade, onde fundei e afundei o jornal semanário Voz da Mata, foi curta. Problemas familiares, nada mais. Não me foi dado tempo de apalpar a alma daqueles seres puros. Cheguei a ter vontade de me tornar um daqueles. Imaginei que Deus poderia me conceder alguns anos de vida excepcional para que eu pudesse conhecer um mundo, que tenho certeza é mais colorido. Se lá encontrasse amigos que comigo viessem a comungar e a sentir a minha vida de excepcional, acreditando em meu potencial, uma vez que eu nunca mentiria, não desejaria voltar a viver a realidade dos ditos normais. Mas a vida não é feita de nossos desejos, mas das recicláveis decisões de nossa entrega.
Na seqüência de uma busca, eu, que buscava apenas ser feliz, não sabia que diria, repito: “Se o passado souber como estou feliz agora, não mais voltará a me perturbar com suas saudades!”. Naveguei até o seco Sertão da Bahia, tangido, como boi, cujo caminho é traçado pelas chicotadas que lhe dão, até encontrar o matadouro ou um porto feliz. Cheguei a Guanambi, sertão, no caminho inverso à normalidade, mas igual ao membro de um exército de arribação que só carrega consigo algumas peças de roupa, os documentos, a vontade e a coragem e que tem na cabeça. Aqui, cá distante da vida que conhecia, removi coisas que só causam peso à cabeça do homem. Voltei a ter a paz e a felicidade de um lar.
A felicidade me completando, mesmo que sempre queiramos mais, fez-me conhecer a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de Guanambi – APAE, e as dedicadas professoras e voluntárias que por lá prestam seus voluntariados. Novamente pus-me a pensar: “Que razão leva um batalhão de senhoras a ter voluntariedade com o próximo, enquanto os homens repousados na conveniência de que o dinheiro que possuem é o suficiente para fazer a caridade, raramente participam fisicamente das atividades sociais de uma cidade?”. As obras beneméritas de uma cidade carecem de palhaços, motoristas, da presença masculina, de um Papai Noel... E será a mulher substituir o bom velhinho?
Entre a repentina idéia de ser voluntário e a duradoura ação de sê-lo, bem colado e agarradinho, ganhei felicidade por mais de uma década sem desembolsar volumes financeiros, sendo voluntário de uma APAE. Nela tive oportunidade de ser locutor, angariador do lanche para as atividades da Semana Nacional do Excepcional, varredor de pátio, motorista do veiculo personalizado que busca e leva aquela gente em casa. Nem que por um dia só, fui piloto de perua escolar! Também fui Papai Noel em um mês de agosto, quando com aqueles amigos alegres sai “pendurado” no Trem da Alegria em um percurso pelo centro comercial e centro administrativo dando acenos de mão e “hô-hô-hô” para um povo surpreso com um bom velhinho de meio de ano. Como isto me fez feliz!
* Seu Pedro é o jornalista Pedro Diedrichs, editor do jornal Vanguarda, de Guanambi, Bahia.
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