Simplicidade,
liberdade, variedade, atitude
* Por
Fernando Yanmar Narciso
Nelson Mandela, em seu
livro de memórias "Conversas Que Tive Comigo", relatou que o primeiro
ser vivo que viu ao abrirem os portões da prisão de Pollsmoor para a sua
liberdade foi um pato que passou por baixo de suas pernas. Foi um ocorrido que
o comoveu muito, que passou despercebido por todos quando comparado ao seu
icônico gesto de punhos erguidos em vitória.
Na política como na
arte, essa é uma grande missão. Valorizar o que é aparentemente insignificante
aos olhos distraídos. Lançar holofotes e lupas sobre o irrelevante e
corriqueiro, dar-lhes destaque. Às vezes aquela pinta ou verruga no rosto,
aquele nariz de formato esquisito, aquela papadinha que a maioria pode pensar
que o dono odeia talvez seja a característica que ele mais valoriza em si
mesmo.
Foi esse o princípio
da minha exposição CORES & NOMES, que teve seu início dia 02 de junho
passado. Selecionadas trinta figuras ilustres de nossa cidade- eu incluso,
através de um processo de foto-manipulação combinado com desenho digital, me
propus a maximizar as feições das ditas figuras, lançando lentes e luzes sobre
os aspectos fisionômicos que melhor os caracterizam, mas de maneira simplista,
quase minimalista às vezes.
Caracterizadas por
traços espessos, cores vibrantes e não necessariamente seguir um padrão
artístico para cada trabalho, cada figura imortalizada por mim representa minha
liberdade artística em estado bruto, de minhas "vibes" no momento de
sua confecção.
Apesar de diferentes
entre si, há somente três aspectos que lhes garantem certa unidade: Minha
assinatura, obviamente; o modelo de olhos, repetido em quase todas as obras,
apenas com cores diferentes e a música “Come Along”, da banda tcheca Maggie’s
Marshmallows, escolhida por mim como trilha sonora de cada uma das trinta
ilustrações. Ouvi a mesma música por dois meses todos os dias para garantir que
cada ilustração teria o mesmo “feeling”. Loucuras de artista...
A princípio, minha ideia
era que cada ilustração seguisse o estilo psicodélico, vibrante e cheio de
atitude da grande poetisa Karla Celene, o primeiro que produzi para a
exposição. Mas como a maioria de meus selecionados é fascinada pela ilustração
que fiz de minha mãe, Mara Narciso, parecia inevitável que grande parte deles
me encomendasse um clone do quadro dela, sem tirar e nem pôr nada.
Mesmo assim, arranjei
meus modos de "burlar as leis" e dar um jeito de brincar em cima
daquele estilo de ilustração, de modo a agradar tanto a mim quanto ao cliente.
Minha grande influência artística é o Youtube.
Graças ao site, que já
é praticamente uma rede social tão grande quanto o Facebook eu consegui
encontrar minhas influências artísticas em ilustres anônimos. Conheci e estudei
a Vexel Art, processo criativo que consiste em criar desenhos vetoriais em
programas que não são criados para tal, como o Photoshop, minha ferramenta de
trabalho.
Mas o processo, que
consiste em "fatiar" o rosto das pessoas, sobrepondo camadas
sucessivas em diversas variações de cor e tamanho, produzindo assim um efeito
tridimensional, geralmente toma tempo demais, por isso precisei pesquisar e
criar métodos mais práticos para atingir os mesmos objetivos e ao mesmo tempo
manter firme o meu estilo.
O filme O HOMEM DUPLO,
de 2007, com Keanu Reeves e Robert Downey Jr., um desenho animado todo
produzido utilizando a técnica Vexel Art, também foi uma de minhas maiores
inspirações como ilustrador.
Também fui
influenciado pelos trabalhos de Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Jackson Pollock,
pelas capas de disco hippies da década de 1960, por Shepperd Fairey; ilustrador
que criou a icônica campanha HOPE de Barack Obama em 2008.
Os comics americanos e
animes japoneses também me serviram como bons pontos de referência, assim como
a arte gráfica da série de games GTA, principalmente os mais antigos. Somemos
tudo isso à minha sensibilidade artística e encontrarão meu método para a
loucura.
Dickie Patterson,
vocalista da obscura banda de rock psicodélico Blue Cheer, diz "Rock n'
roll é 90% atitude e 10% de técnica. Uma nota com a atitude certa é mais
eficiente que 60 notas sem atitude."
Trago exatamente a
mesma mentalidade para o meu trabalho. Dá mais trabalho criar algo simples,
chamativo e cheio de “guts” que abusar do virtuosismo técnico, que geralmente
só serve para o artista se embriagar com a própria autoestima e no final não
dizer nada para quem realmente importa: O público.
Keep it simple, keep
it nice, keep it shocking, keep on rockin’. Esse é meu lema como ilustrador.
Sejam novamente bem-vindos à minha exposição CORES & NOMES, aberta ao
público pelas próximas duas semanas no Ateliê Galeria Felicidade Patrocínio. A
entrada é franca e garanto que dificilmente verão uma exposição como essa!
*
Escritor e ilustrador. Contatos:
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
cyberyanmar@gmail.com
Conheçam
meu livro! http://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer
Uma poetisa retratada, Dóris Araújo, me disse que você, Fernando, deixou seus convidados tão à vontade, que acabou construindo um momento de entrosamento e de espírito único, levando o público a ter sentimentos que variaram do entusiasmo a embriaguez com a arte, exatamente devido a sua simplicidade, seja traço, na escrita ou no modo de ser. Como mãe, fico comovida com seus resultados.
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