Geração em débito
A presente geração de escritores deve,
ainda, a produção de uma obra literária marcante, consistente, instigante,
dessas que, finda a leitura, nos levem a exclamar, entusiasmados e convictos:
“merece o Prêmio Nobel de Literatura!!” (ou o Pulitzer, o Goncourt, o Cervantes
ou outra qualquer premiação relevante).
É possível, até, que essa obra-prima já
tenha sido escrita – na Austrália, Nova Zelândia, China, Azerbaijão, Rússia,
Suécia etc. ou até mesmo aqui no Brasil – e falte, apenas, ser traduzida para
várias línguas e amplamente difundida. Meios de difusão, atualmente, é que não
faltam. Claro que há essa possibilidade.
Pode ser que sequer essa obra fenomenal
tenha sido publicada ainda. É possível (não sei se provável) que os editores
estejam “comendo mosca” e não a tenham identificado ou valorizado devidamente.
Isso, não raro, acontece. O fato é que ainda não se vislumbra no horizonte a
existência de algum livro excepcional, com essas características.
Não há indicações, por exemplo, de que haja
sido escrito algum ensaio que sequer se aproxime da magnitude de um “Walden, ou
a vida nos bosques”, de Henry David Thoreau. Ou reflexões como as de Ralph
Waldo Emerson, ou de Will Durant, ou de René Descartes ou de tantos outros
filósofos, sociólogos, psicólogos ou quejandos. Ou romances como “Crime e
Castigo”, de Fedor Dostoievski, “Os miseráveis”, de Victor Hugo, “Guerra e
paz”, de Leon Tolstoi, “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, do
nosso Machado de Assis e vai por aí afora.
Não há poeta algum que se aproxime,
sequer remotamente, de Pablo Neruda, Gabriela Mistral, Walt Whitman, Rainer
Marie-Rilke, Bertolt Brecht, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade,
Manuel Bandeira, Mário Quintana, Vinícius de Moraes, Jorge Luís Borges, Octávio
Paz e tantos e tantos outros grandes astros do verso. Convenhamos, esta geração
de escritores está em débito com a Literatura e com os leitores.
Em nenhuma outra época da história
houve tamanha facilidade de acesso à informação e ao esclarecimento. Jamais
houve uma profusão tão grande recursos para se escrever e difundir textos. O
computador, por exemplo, favorece uma escrita cômoda, rápida e, sobretudo,
limpa, sem a necessidade de mil rasuras e nem de desperdício de papel.
A internet possibilita a leitura de
qualquer clássico, bastando conhecer o link da biblioteca que tem o livro
pretendido, devidamente digitalizado. Além disso, temos a televisão a cabo,
trazendo à nossa casa todo o tipo de programas, filmes e documentários, com uma
infinidade de informações (úteis e inúteis, não importa), suscitando toda a
sorte de reflexões..
Ainda muito recentemente, no início da
década de 50 do século XX (mais especificamente, no seu primeiro ano)
contávamos com um único, solitário e pioneiro canal de televisão, a Tupi (que
há muito sequer existe mais). Hoje, com o advento das antenas parabólicas,
temos 600 ou mais à nossa disposição.
Emissoras como a National Geographic,
The History, Discovery Science, Discovery Travel, Discovery Civilizatuion e
tantas e tantas outras, trazem à baila tudo de tudo. Será que ninguém se
inspira nessa variedade de temas para aprofundar o que já se conhece e se fez e
escrever algo, de tamanha qualidade, envergadura e relevância, que supere em
criatividade tudo o que já se fez? Definitivamente, esta geração de escritores
está em débito.
Vocês imaginaram se um Balzac, um Hugo,
um Baudelaire, um Valéry e tantos outros gênios literários, tivessem acesso aos
recursos de que dispomos? O que não poderiam haver produzido?! Não que eles não
tenham legado à humanidade obras que podem ser consideradas eternas. Muito pelo
contrário!
Dispondo de escassíssimos meios de
informação e de produção, esses escritores geniais nos presentearam com as
preciosidades que hoje nos encantam, nos ilustram e nbos causam pasmo e
admiração. Caso contassem com as facilidades que contamos, desconfio que
produziriam maravilhas ainda mais miraculosas e fantásticas.
Por melhores que possam ser os
argumentos em defesa da atual geração de escritores, queiram ou não, discordem
ou concordem, ela está em débito com o seu tempo. Deve uma obra consistente,
original e maiúscula.
Quem sabe você, que neste momento torce
o nariz a estas observações, considerando-as inoportunas, impertinentes,
sacrílegas, tolas e até chulas, não será o sujeito que fará esse resgate e
construirá essa obra consistente, genial e a salvo de quaisquer reparos?! Quem
sabe... Em vez de perder tempo com críticas e rabugices, que tal arregaçar as
mangas, deixar de lado a obsessão da atual geração pelo lazer e a alienação e
começar a produzir? Que tal? Você pode!!!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Precisando parar tudo para ler os livros eternos, que requerem leitura lenta, penosa, com idas e voltas, e até leitura em voz alta. Melhor fazer isso já, enquanto posso ler. Amanhã, quem é que sabe?
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