quarta-feira, 8 de junho de 2016

Simplicidade, liberdade, variedade, atitude


* Por Fernando Yanmar Narciso


Nelson Mandela, em seu livro de memórias "Conversas Que Tive Comigo", relatou que o primeiro ser vivo que viu ao abrirem os portões da prisão de Pollsmoor para a sua liberdade foi um pato que passou por baixo de suas pernas. Foi um ocorrido que o comoveu muito, que passou despercebido por todos quando comparado ao seu icônico gesto de punhos erguidos em vitória.

Na política como na arte, essa é uma grande missão. Valorizar o que é aparentemente insignificante aos olhos distraídos. Lançar holofotes e lupas sobre o irrelevante e corriqueiro, dar-lhes destaque. Às vezes aquela pinta ou verruga no rosto, aquele nariz de formato esquisito, aquela papadinha que a maioria pode pensar que o dono odeia talvez seja a característica que ele mais valoriza em si mesmo.

Foi esse o princípio da minha exposição CORES & NOMES, que teve seu início dia 02 de junho passado. Selecionadas trinta figuras ilustres de nossa cidade- eu incluso, através de um processo de foto-manipulação combinado com desenho digital, me propus a maximizar as feições das ditas figuras, lançando lentes e luzes sobre os aspectos fisionômicos que melhor os caracterizam, mas de maneira simplista, quase minimalista às vezes.

Caracterizadas por traços espessos, cores vibrantes e não necessariamente seguir um padrão artístico para cada trabalho, cada figura imortalizada por mim representa minha liberdade artística em estado bruto, de minhas "vibes" no momento de sua confecção.

Apesar de diferentes entre si, há somente três aspectos que lhes garantem certa unidade: Minha assinatura, obviamente; o modelo de olhos, repetido em quase todas as obras, apenas com cores diferentes e a música “Come Along”, da banda tcheca Maggie’s Marshmallows, escolhida por mim como trilha sonora de cada uma das trinta ilustrações. Ouvi a mesma música por dois meses todos os dias para garantir que cada ilustração teria o mesmo “feeling”. Loucuras de artista...

A princípio, minha ideia era que cada ilustração seguisse o estilo psicodélico, vibrante e cheio de atitude da grande poetisa Karla Celene, o primeiro que produzi para a exposição. Mas como a maioria de meus selecionados é fascinada pela ilustração que fiz de minha mãe, Mara Narciso, parecia inevitável que grande parte deles me encomendasse um clone do quadro dela, sem tirar e nem pôr nada.

Mesmo assim, arranjei meus modos de "burlar as leis" e dar um jeito de brincar em cima daquele estilo de ilustração, de modo a agradar tanto a mim quanto ao cliente. Minha grande influência artística é o Youtube.

Graças ao site, que já é praticamente uma rede social tão grande quanto o Facebook eu consegui encontrar minhas influências artísticas em ilustres anônimos. Conheci e estudei a Vexel Art, processo criativo que consiste em criar desenhos vetoriais em programas que não são criados para tal, como o Photoshop, minha ferramenta de trabalho.

Mas o processo, que consiste em "fatiar" o rosto das pessoas, sobrepondo camadas sucessivas em diversas variações de cor e tamanho, produzindo assim um efeito tridimensional, geralmente toma tempo demais, por isso precisei pesquisar e criar métodos mais práticos para atingir os mesmos objetivos e ao mesmo tempo manter firme o meu estilo.

O filme O HOMEM DUPLO, de 2007, com Keanu Reeves e Robert Downey Jr., um desenho animado todo produzido utilizando a técnica Vexel Art, também foi uma de minhas maiores inspirações como ilustrador.

Também fui influenciado pelos trabalhos de Andy Warhol, Roy Lichtenstein, Jackson Pollock, pelas capas de disco hippies da década de 1960, por Shepperd Fairey; ilustrador que criou a icônica campanha HOPE de Barack Obama em 2008.

Os comics americanos e animes japoneses também me serviram como bons pontos de referência, assim como a arte gráfica da série de games GTA, principalmente os mais antigos. Somemos tudo isso à minha sensibilidade artística e encontrarão meu método para a loucura.

Dickie Patterson, vocalista da obscura banda de rock psicodélico Blue Cheer, diz "Rock n' roll é 90% atitude e 10% de técnica. Uma nota com a atitude certa é mais eficiente que 60 notas sem atitude."

Trago exatamente a mesma mentalidade para o meu trabalho. Dá mais trabalho criar algo simples, chamativo e cheio de “guts” que abusar do virtuosismo técnico, que geralmente só serve para o artista se embriagar com a própria autoestima e no final não dizer nada para quem realmente importa: O público.

Keep it simple, keep it nice, keep it shocking, keep on rockin’. Esse é meu lema como ilustrador. Sejam novamente bem-vindos à minha exposição CORES & NOMES, aberta ao público pelas próximas duas semanas no Ateliê Galeria Felicidade Patrocínio. A entrada é franca e garanto que dificilmente verão uma exposição como essa!


* Escritor e ilustrador. Contatos:
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
cyberyanmar@gmail.com

Conheçam meu livro! http://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer

Um comentário:

  1. Uma poetisa retratada, Dóris Araújo, me disse que você, Fernando, deixou seus convidados tão à vontade, que acabou construindo um momento de entrosamento e de espírito único, levando o público a ter sentimentos que variaram do entusiasmo a embriaguez com a arte, exatamente devido a sua simplicidade, seja traço, na escrita ou no modo de ser. Como mãe, fico comovida com seus resultados.

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