segunda-feira, 27 de junho de 2016

Toque involuntário

* Por Daniel Santos


Da primeira vez que o li, impressionou-me a falta de piedade no trato dos personagens. Lembro que gostei muito daquilo; mais ainda, da elegância de estilo, percebida apenas anos depois, já na juventude.

Vários outros escritores me marcaram, mas aquele ... Aquele era especial! Por isso, lia o que fosse a seu respeito. Obra, biografia, entrevistas ... Queria saber tudo sobre a tal figura extraordinária.

Quando me tornei quase especialista no ídolo que não me cansava de incensar, pretendi conhecê-lo pessoalmente. Esse dia chegou! Ele faria conferência numa associação de livreiros, e para lá me apressei.

Cheguei com certa antecedência ao auditório apinhado e toquei no ombro de um senhor para que me desse licença. Só depois, percebi: acabara de tocar quem há anos me parecia intocável como um deus!

Leitor e fã, ouvi-o reverente, embora sem lhe dirigir palavra. Dizer o quê? Falar da admiração infantil? Faltou coragem. Vi, assim, o escritor  despedir-se e desaparecer. Sumiu na distância onde ainda hoje vive.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.








Um comentário:

  1. Desapontamento de fã? Seu fanatismo aumentou ou diminuiu? Pela distância citada, não ficou bem claro.

    ResponderExcluir