O Recife dos arrecifes
* Por
Clóvis Campêlo
Antes de ser a cidade
dos mascates, o Recife foi, sobretudo, a cidade dos pescadores. Foram eles que
desceram da Marim dos Caetés e se instalaram no pequeno istmo de Olinda, uma
estreita língua de terra, medindo cinquenta passos de largo, como diz a
pesquisadora Semira Adler Vainsencher, em artigo sobre a cidade, publicado no
site da Fundação Joaquim Nabuco.
Ainda segundo Semira,
a região, que depois se chamaria Freguesia de Frei Pedro Gonçalves, tinha um
perímetro de aproximadamente mil metros quadrados, onde as pessoas se
amontoavam, provocando uma das mais elevadas densidade demográficas já
conhecidas: 27 mil habitantes por quilômetro quadrado. Esse teria sido um dos
motivos que levaram o conde Maurício de Nassau, no período de dominação
holandesa, de 1630 a 1654, a construir uma ponte em madeira, a famosa ponte do
episódio do boi voador, para chegar ao outro lado do rio Capibaribe e expandir
a ocupação da área. Mas, não nos interessa no momento esse movimento de
afastamento dos arrecifes.
Segundo o site Klick
Educação, o primeiro registro do lugar, hoje chamado do Recife Antigo, data de
12 de março de 1537 (hoje, considerada oficialmente como a data do aniversário
da cidade), quando o donatário Duarte Coelho Pereira recebeu a carta de doação
da Coroa Portuguesa, o chamado Foral de Olinda. Posteriormente, o nome da
cidade seria uma referência aos arrecifes de arenito, formação marinha rochosa
presente em toda a costa de Pernambuco. Naquela área, os arrecifes chegam a
formar um porto natural.
Segundo a Wikipédia,
arrecife é a forma antiga do vocábulo recife, ambos originários do árabe
ár-raçif, que significa calçada, caminho pavimentado, linha de escolhos, dique,
paredão, cais, molhe. Ainda segundo o dicionário virtual, em sua forma arcaica,
“arracefe”, o vocábulo já era utilizado em 1258, segundo registra o
dicionarista José Pedro Machado. Assim, o topônimo da atual cidade do Recife
resulta do acidente geográfico, cuja designação é registrada pela primeira vez
no Diário de Pero Lopes de Souza, que denominou o seu porto natural de “Barra
dos Arrecifes” (1532) e no já citado Foral de Olinda, no qual o donatário
Duarte Coelho Pereira, chama-o de “ribeiro do mar dos Arrecifes dos Navios”.
Em 1630, a Companhia
Holandesa das Índias Ocidentais invade a Capitania de Pernambuco, então a mais
rica capitania do Brasil Colônia e maior produtora de açúcar do mundo. No
Recife holandês, foi iniciada a construção de Mauritsstad (Cidade Maurícia, ou
Mauriceia). O Recife foi a capital do Brasil Holandês durante 24 anos, tendo
sido governada de 1637 a 1644 pelo conde alemão, a serviço da Companhia das
Índias Ocidentais.
De lá para cá, muito tempo
passou, restaurou-se o domínio português, acompanhamos os movimentos
libertários que nos levaram à Independência do Brasil e chegamos à modernidade
com a capital mais pujante do Nordeste e entre as mais belas e consistentes
capitais brasileiras.
Os arrecifes dos quais
herdamos o nome continuam lá, nos protegendo das intempéries naturais e
interferindo beneficamente no nosso relacionamento com as águas oceânicas.
Recife, setembro 2015
* Poeta, jornalista e radialista.
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