Cobrança
* Por Rodrigo Ramazzini
- Alô! Alô!
♪♪♫♫♫♫♪♪
“Pela
musiquinha é de lá. É agora!”, pensa Vilmar.
- Alô! Alô!
- Alô! Eu
gostaria de falar com o senhor Vilmar Santos. É o senhor?
- Quem
gostaria?
- Aqui é a Clarissa
do banco... O senhor é Vilmar Santos?
- Hã...
Sou...
- Certo!
Para a sua segurança essa ligação está sendo gravada. OK?
- Hã.
- Para a sua
segurança, eu também preciso confirmar alguns dados de acesso com o senhor.
Certo?
- Hã...
- Por
gentiliza, os três primeiros dígitos do seu CPF. O senhor pode me informar?
- Não!
- Senhor
esse é um procedimento de segurança...
- Como eu vou
saber que tu estás me ligando do banco mesmo?
- Eu já me
identifiquei, senhor!
- Mas eu
também já!
- Senhor é
que...
- Por que a
identificação só vale para ti? Assim como tu falaste, eu também falei...
- Senhor!
Senhor!
- Como eu
sei que não estás tentando me passar um golpe?
- Senhor! É
justamente para a sua segurança esse procedimento. Para evitar golpes...
- E como eu
vou saber que tu não roubaste os meus dados e estás tentando apenas confirmá-los,
hein?
- Eu já me
identifiquei como sendo do banco. O senhor não é nosso cliente?
- Sou
cliente! Mas isso não diz nada...
- Senhor!
Vou explicar novamente. Esse é um procedimento de segurança...
- Isso não
me diz nada!
- Senhor é
que...
- Moça! Me
passa o teu CPF, por favor!
- Não posso,
senhor!
- Ah tá! Eu
posso te passar o meu CPF, mas tu não podes me passar o teu. É isso?
- Senhor! Eu
tenho o seu CPF aqui. Só quero confirmá-lo por procedimento...
- Se eu
confirmar os três primeiros dígitos, como saberei que não estou entrando em um
golpe? Tem tantos por aí...
- Senhor! Se
eu quisesse lhe dar um golpe, por que eu teria que confirmar o CPF se já tenho
o número?
- Não sei,
moça! Conheço gente que caiu em golpes por telefone assim...
- Não é o caso,
senhor! Eu já me identifiquei: sou Clarissa, do banco...
- A bem da
verdade, tu que tinhas de me dizer os dados e eu confirmá-los...
- O banco
não trabalha dessa forma senhor...
- Hã... Bem,
moça! Eu quero o teu nome completo, CPF e o nome da tua mãe, que eu sei que
vais me pedir depois, se não, não tem conversa...
- Não vou
passar essas informações, senhor!
- Ah! Mas eu
posso passá-las. É assim que funciona? Isso está me cheirando a golpe... Tu
está achando que eu sou trouxa, hein? É isso?
E a funcionária
do banco, que estava de TPM, perdendo a paciência, dispara:
- NÃO,
SENHOR! É UM PROCEDIMENTO DE SEGURANÇA. É ASSIM QUE FUNCIONA! QUAL PARTE O
SENHOR NÃO ENTENDEU?
- Aqui,
moça! Vou te falar o seguinte: tu até podes ser funcionária do banco, mas eu
não falo com gente que grita comigo. Nunca. Passar bem!
- Senhor...
Vilmar
desliga o telefone. Ele conhecia os procedimentos de segurança. Sorri aliviado.
Como já tinha feito algo semelhante antes, projeta que a ‘ludibriada” na
funcionária poderia lhe render mais dois dias sem as cobranças da sua dívida no
banco atrasadas há três meses e que, com sorte, também renderia uma posterior
ligação do gerente pedindo desculpas. Aí que entraria a tentativa de barganha
para uma renegociação da dívida. O plano estava saindo como planejado...
15 minutos
depois. O telefone toca novamente...
“Deve ser o
gerente! Número parecido ao anterior. É agora! O golpe está armado!”, pensa
Vilmar.
- Alô!
- Alô! O seu
Vilmar Santos, por favor!
- É ele.
Quem quer falar?
- Aqui é Roberto
do...
- Seu
Roberto eu vou logo lhe falando: a sua funcionária do banco me ligou e me
insultou aos gritos no telefone...
- Seu
Vilmar! Seu Vilmar! Acho que o senhor está enganado.
- Não estou
enganado, não! Ela gritou e gritou muito! Um desrespeito! Eu quero...
- Seu
Vilmar! Um minuto. Eu não sou do banco.
- Não é do
banco?
- Não! Sou do escritório de cobranças Pacheco e falo
em nome do banco. Ligo para falar a respeito de uma dívida bancária. O seu nome
está no SPC por causa...
* Jornalista e contista gaúcho.
Ih, complicou! Ainda que a melhor defesa seja o ataque.
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