sexta-feira, 3 de junho de 2016

A vila



* Por Paulo Setúbal



Lembro-me bem dessa vilota rude,

Onde eu me fui, sem gosto e sem saúde,

Buscar um poiso para os meus cansaços.

Que terra triste! Triste e sertaneja:

A escola, a hospedaria, a antiga igreja,

E a capelinha do Senhor dos Passos...



Na esquina, em frente à Câmara, o barbeiro.

Logo depois, num colossal letreiro,

A Loja Popular do velho Lopes.

E é bem no largo da Matriz que fica

A sempiterna, a clássica botica,

Com seus reclames de óleos e xaropes...



Ah! Foi aí, nesse ermo de tristeza,

Nessa terreola fúnebre e burguesa,

Tão sem encantos, tão descolorida,

Que eu fui viver, com lágrimas e flores,

No mais cruel amor dos meus amores,

A página melhor da minha vida!



(Alma cabocla, 1920).



* Escritor e poeta, membro da Academia Brasileira de Letras.



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