Sonhar, sonhar e sonhar
Os sonhos, como já escrevi, são pontos de partida, concreta inspiração para realizações, tanto as pequenas e triviais, quanto as maiúsculas e transcendentais. Reitero essa afirmação sempre q eu posso, com base em experiências pessoais. Já consegui realizar façanhas que me pareciam rigorosamente impossíveis, mas nas quais, nem sei por que, acreditei, e tudo acabou dando certo.
Convém ressaltar que boa parte do que sonhamos (se não a totalidade), envolve, de uma forma ou de outra, terceiros, ou como agentes ou como auxiliares. E estes podem tanto facilitar a concretização desses sonhos, como arruiná-los. Da mesma forma nos colocamos em relação aos outros. Ou seja, podemos ser os artífices, ou no mínimo coadjuvantes, do sucesso de alguém. Ou de seu fracasso, dependendo das ações e circunstâncias.
Quando me refiro a sonhos, não estou pensando naquela descarga emocional que ocorre à nossa revelia durante o sono, tida e havida por especialistas como essencial para nossa saúde mental. Refiro-me aos desejos, das mais variadas naturezas e intensidades, muitos dos quais parecem ser infinitamente distantes das nossas forças e possibilidades. Não raro não são. Por uma razão ou outra, tendemos a superestimá-los, a ver mais obstáculos no caminho do que eles, de fato, existem.
Todos temos, em nossa vida, alguma pessoa especial (ou várias delas, claro), à qual amamos sem reservas (mesmo que não venhamos a nos dar conta) e em quem confiamos sem restrições, por mais desconfiados que possamos ser. Pode ser uma namorada, a esposa, os pais, irmãos ou amigos, não importa. Ninguém é auto-suficiente a ponto de não precisar de ninguém, para nada. Há quem se julgue assim, mas apenas por não valorizar os que tornam sua vida em sociedade possível ou viável.
Em contrapartida, somos importantes, também, e na mesma medida, para alguém, mesmo que não o saibamos. Na maioria das vezes, não sabemos mesmo. Outros, todavia, esperam muito de nós, contam conosco para a realização de seus projetos e sonhos. Por isso, precisamos tomar muito cuidado com nossas palavras e atos, para não sermos agentes de mágoas, tristezas e decepções. E, principalmente, para não espezinhar sonhos de quem confia em nós e nos tem em alta conta.
Da mesma forma que não queremos nos decepcionar com quem nos seja especial, não podemos causar decepções aos que nos têm como referencial de vida. Por isso, entendo a profundidade destes versos do poeta William Butler Yeats, que são muito mais do que meras metáforas, e que contêm profunda sabedoria: “Espalhei meus sonhos aos seus pés. Caminhe devagar, pois você estará pisando neles”. Os poetas... Ah, os poetas!
Mas essa questão de sonhos não está restrita ao campo da poesia. É prática, é verdadeira, é concreta. Não são apenas os poetas que são grandes sonhadores. Homens realistas, acostumados a lidar com fatos, com o que tem que ser comprovado sem sombra de dúvidas, os cientistas, também o são. Um exemplo? O físico Albert Einstein confidenciou, em um trecho do seu livro “Como vejo o mundo”, que suas descobertas tiveram 2% de conhecimento e 98% de imaginação. Ou seja... de sonhos...
Querem outro exemplo? Cito, pois, Auguste Kekulé. O célebre químico e professor alemão, recomendou, em 1890, aos seus alunos: “Vocês devem aprender a sonhar. Então, talvez descubram a verdade”. E isto, ou seja, explorar o mundo dos sonhos e expressar o que “viram”, na linguagem mágica dos anjos, os poetas sabem, e de sobejo. Por isso, antecipam o futuro. Há muito mais verdade na poesia do que podem supor os céticos empedernidos e os que se auto-rotulam de “realistas”
E os poetas fazem previsões sobre o que pode acontecer no amanhã – embora certeza, certeza mesmo, ninguém tenha e nem possa ter, já que podemos sequer ter um futuro – com mais graça e mais beleza (e, claro, com maior verdade), do que furibundos e enlouquecidos profetas, a nos ameaçar com as mais terríveis desgraças e provações. Abrem-nos as portas do Paraíso e indicam-nos caminhos seguros para chegarmos a ele, para que, pelo menos em sonho, possamos usufruir das suas delícias. Por isso...reinventam a vida..., uma vida com muito mais charme, graça e glamour.
Tenho, como ademais todos os idealistas o têm, sonhos grandiosos, que independem “só” da minha vontade e das minhas ações para se realizarem. Claro que devo fazer a minha parte. Claro que não será pelo caminho covarde da omissão que verei sua concretização. Claro que, mesmo que não acredite, tenho um potencial enorme de convencimento, que tende a fazer (e faz) a diferença.
Sonho, por exemplo, com um mundo de harmonia, paz e felicidade, em que haja absoluta igualdade de direitos e deveres entre as pessoas. Milhões, bilhões antes de mim já sonharam isso e não viram ser concretizado. Porém, se essa utopia ainda não se concretizou é porque não chegou o momento. É porque o fruto ainda não está maduro para ser colhido. Sonho, também, com um paraíso na Terra em que as contradições que nos dividem e desumanizam hajam sido superadas. Em que não existam excluídos e exclusores, oprimidos e opressores, poderosos e humildes. Sonho com um mundo que prescinda de leis, governos, exércitos e tribunais, em que todos conheçam suas obrigações, sem necessidade de serem fiscalizados.
Sonho com uma sociedade perfeita, em que o amor sem limites seja a única Constituição dos povos, irmanados em um só ideal, sem fronteiras e separações. Sonho com um mundo em que estes versos do poeta Thiago de Mello, no poema “Os Estatutos do Homem”, sejam mais do que mera poesia: “O homem/não precisará nunca mais/duvidar do homem/que o homem confiará no homem/como a palavra confia no vento/como o vento confia no mar/como o ar confia no campo azul do céu...” É possível que tudo isso se torne real? O que você acha, atento leitor? Da minha parte, entendo que sim, embora sequer intua como e quando.
Boa leitura.
O Editor.
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John Lennon "imaginou" isso. É utópico e desejável. Como poderemos atuar para que esse sonho se concretize?
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