Questão subjetiva
Caríssimos leitores, boa tarde. Que a semana, que ora se inicia, lhes seja benigna, luminosa e inspiradora, repleta de realizações e alegrias. Fui questionado, ontem, por um escritor a propósito de duas “provocações” que fiz recentemente neste espaço do Literário.
Numa, perguntei quem era melhor, se Leon Tolstoi ou Fedor Dostoievski. Noutra, fiz idêntico questionamento, mas a propósito de escritores brasileiros. Meu questionador argumenta que esse tipo de avaliação, por ser sumamente subjetivo, é impossível e até injusto de se fazer, no que concordo integralmente com ele.
Claro que os freqüentadores assíduos do Literário entenderam o espírito dessa “provocação”. E a resposta que o ilustre escritor me deu era exatamente a que eu esperava dos nossos leitores. Estes, no entanto, optaram por não dar nenhuma. Estão no seu direito, claro.
Acrescento, a título de subsídio ao meu questionador, uma informação que, acredito, seja esclarecedora. O jornal Folha de S. Paulo, mais especificamente seu caderno “Mais!”, em uma edição especial que circulou, se não me engano, em dezembro de 1999, fez uma enquête com vários intelectuais conhecidos (e respeitados por sua vasta cultura, notadamente a literária). Perguntou-lhes quais eram, no seu entender, os dez livros mais marcantes de todos os tempos. Como seria de se esperar, não houve consenso a propósito (e nem poderia haver, óbvio).
Foram relacionadas diversas listas, uma de cada consultado. Raros foram os livros que apareceram em todas as relações. Dos que foram citados, nenhum merece a menor restrição. Todos são obras consagradas, hoje tidas e havidas como clássicos da literatura mundial. O que me chamou a atenção não foram os livros mencionados, mas os omitidos.
Milhares e milhares deles foram esquecidos por parte dos pesquisados. E tenho absoluta certeza que, tão logo a edição especial foi publicada, os que participaram dela se deram conta da omissão e ficaram aflitíssimos por isso. Fosse feita uma relação pelo menos mninimamente justa, dos livros que mereceriam destaque nessa pesquisa, o caderno “Mais!” circularia com milhares e milhares de páginas o que, óbvio, seria absolutamente inviável.
Por várias razões, sou visceralmente contrário a esse tipo de enquête. Creio que elas nada acrescentam à cultura literária e apenas geram controvérsias, nada mais. Claro que em papos informais, em mesas de botequim, esse assunto rende magníficas discussões, regadas a chope bem gelado e tira-gostos. Mas jamais se chegará a uma conclusão objetiva e consensual.
A utilidade prática, portanto, desse tipo de consulta é zero. E é bom que assim o seja. Afinal, quem sabe o seu livro, caríssimo escritor que acompanha atentamente esses meus bla-bla-blás diários, não mereça (ou não venha a merecer algum dia) constar da lista dos melhores? E você, certamente, não gostaria de se sentir injustiçado. Afinal, essa é uma sensação horrível e intragável!
Boa leitura.
O Editor.
Caríssimos leitores, boa tarde. Que a semana, que ora se inicia, lhes seja benigna, luminosa e inspiradora, repleta de realizações e alegrias. Fui questionado, ontem, por um escritor a propósito de duas “provocações” que fiz recentemente neste espaço do Literário.
Numa, perguntei quem era melhor, se Leon Tolstoi ou Fedor Dostoievski. Noutra, fiz idêntico questionamento, mas a propósito de escritores brasileiros. Meu questionador argumenta que esse tipo de avaliação, por ser sumamente subjetivo, é impossível e até injusto de se fazer, no que concordo integralmente com ele.
Claro que os freqüentadores assíduos do Literário entenderam o espírito dessa “provocação”. E a resposta que o ilustre escritor me deu era exatamente a que eu esperava dos nossos leitores. Estes, no entanto, optaram por não dar nenhuma. Estão no seu direito, claro.
Acrescento, a título de subsídio ao meu questionador, uma informação que, acredito, seja esclarecedora. O jornal Folha de S. Paulo, mais especificamente seu caderno “Mais!”, em uma edição especial que circulou, se não me engano, em dezembro de 1999, fez uma enquête com vários intelectuais conhecidos (e respeitados por sua vasta cultura, notadamente a literária). Perguntou-lhes quais eram, no seu entender, os dez livros mais marcantes de todos os tempos. Como seria de se esperar, não houve consenso a propósito (e nem poderia haver, óbvio).
Foram relacionadas diversas listas, uma de cada consultado. Raros foram os livros que apareceram em todas as relações. Dos que foram citados, nenhum merece a menor restrição. Todos são obras consagradas, hoje tidas e havidas como clássicos da literatura mundial. O que me chamou a atenção não foram os livros mencionados, mas os omitidos.
Milhares e milhares deles foram esquecidos por parte dos pesquisados. E tenho absoluta certeza que, tão logo a edição especial foi publicada, os que participaram dela se deram conta da omissão e ficaram aflitíssimos por isso. Fosse feita uma relação pelo menos mninimamente justa, dos livros que mereceriam destaque nessa pesquisa, o caderno “Mais!” circularia com milhares e milhares de páginas o que, óbvio, seria absolutamente inviável.
Por várias razões, sou visceralmente contrário a esse tipo de enquête. Creio que elas nada acrescentam à cultura literária e apenas geram controvérsias, nada mais. Claro que em papos informais, em mesas de botequim, esse assunto rende magníficas discussões, regadas a chope bem gelado e tira-gostos. Mas jamais se chegará a uma conclusão objetiva e consensual.
A utilidade prática, portanto, desse tipo de consulta é zero. E é bom que assim o seja. Afinal, quem sabe o seu livro, caríssimo escritor que acompanha atentamente esses meus bla-bla-blás diários, não mereça (ou não venha a merecer algum dia) constar da lista dos melhores? E você, certamente, não gostaria de se sentir injustiçado. Afinal, essa é uma sensação horrível e intragável!
Boa leitura.
O Editor.
O "intragável" foi ótimo. Levou-me ao passado e ao meu pai que era um "ledor" de jornais e revistas, além das consultas compulsivas ao dicionário. Pobre pai! Além de fazer graça com os nossos delírios, Pedro, você atiça-nos provocando os nossos brios, dando-nos vontade de melhorar. Quem for capaz que se habilite.
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