Qual o valor da vida?
* Por Rodrigo Ramazzini
- Consegui! – gritou Benjamim, ecoando nas velhas paredes de madeira, ao entrar em casa. Fora contratado como jardineiro, após meses de procura, por um cidadão de posses, na zona norte da cidade. A bela esposa recebeu entusiasticamente a notícia, pois o filho de nove meses, assim como o casal, ficaria nos próximos dias sem mantimentos.
O desempenho nos primeiros dias de trabalho do Benjamim rendeu-lhe sonoros elogios do seu novo padrão, o senhor Moraes. O orgulho de cuidar do jardim daquela bela e badalada mansão eram vistos diariamente nos seus vividos e brilhosos olhos.
Com quatro meses, já conhecia, e era cumprimentado, por todas as autoridades e celebridades que circulavam pela casa. Deslumbrado com tanta riqueza, poder e luxúria, a razão abandonou-lhe. Indagava-se: quando conseguirei ter tal vida? “E o meu filho e esposa, poderei dar-lhes algum dia essas condições?” Estava alucinadamente disposto a fazer qualquer coisa para possuir tais similaridades.
O convite fora recebido de forma extremamente eufórica por Benjamim. O senhor Moraes convidara-o, junto com a sua família, em recompensa pelos esforços diários, a jantar na sua bela mansão, na quarta-feira à noite. Enfim, o senhor Moraes conheceria, depois de tanto ouvir falar, o filho e a bela esposa do Benjamim.
A surpresa por parte do senhor Moraes fora grande. A esposa do Benjamim, de nome Ellen, era realmente bonita. Chegaram no horário marcado, e foram direto saborear diversas iguarias. Para êxtase total de Benjamim, o senhor Moraes abriu um vinho chileno. “– Isso que é vida!” Era o que circulava nos seus ilusórios pensamentos.
Com um orgulho que transgride o descrever, o Benjamim deslocava-se dentre as flores do jardim. Tornara-se uma bela companhia, assim como a esposa, de todas as quartas-feiras do senhor Moraes. Em um desses encontros (e após tantos, estavam já íntimos), após tomar um gole de vinho, o Benjamim questionou o senhor Moraes sobre sua biografia. A resposta andou mais pela ficção do que pela realidade. Redargüiu que fora menino de rua, que trabalhou no tráfico. Contou-lhe como saiu da criminalidade, falou dos estudos, como abriu a própria empresa, porque nunca se casou, e assim por diante. Então, lhe confessou algo que mantinha em absoluto sigilo. Segundo ele, o seu único segredo. Sem titubear, pronunciou: “tenho vontade de matar e ver um homem morrer”. Benjamim arrepiou-se, e antes de proferir algo, o senhor Moraes lhe faz uma proposta: “Benjamim, se suprires esse meu anseio, dou-lhe um milhão, tendo dez dias para desfrutares de tal, depois de decorrido o tempo, dirigimo-nos para a minha fazenda, e lá o executo. Tens até amanhã para responderes se aceitas ou não. Até logo!”
Um silêncio reflexivo o acompanhava. Poderia levar, nem que fosse por apenas dez dias, a vida que sonhou, e ainda, deixaria um belo legado para a esposa e o filho. Entretanto, não o veria crescer. Uma aflição tomou-lhe a consciência, a vontade de possuir, mesmo de tal maneira, obcecava-lhe. A palavra dinheiro desnorteava os seus pensamentos. Questionou a esposa que, transparecendo frieza, apesar da queda de uma lágrima, replicou que seria decisão única e exclusivamente dele, e fora acudir o filho que choramingava no quarto.
Ligeiramente transcorreram aqueles dez dias para Benjamim. Um período que se sentiu único, superior, um deus. Adquiriu uma casa para a esposa e o filho. Conheceu alguns lugares, jantou em sofisticados restaurantes, comprou e fez tudo, saciando as suas vontades. Ao chegar do décimo dia, uma sensação de ser completo o possuía. Deixava como herança R$: 700.000,00.
Em companhia de Ellen, o filho, e o senhor Moraes, rumou para a fazenda...
O dia estava com um leve chuvisco. Uma corda, atada na centenária figueira da fazenda, e um banco esperavam por Benjamim. Despediu-se do senhor Moraes. Agradeceu-lhe por tudo. Beijou pela última vez a esposa e o filho, e disse-lhes: “faço isso por vocês!” Subiu no banco, enlaçou a corda pelo pescoço, baixou a cabeça e a inclinou para a esquerda. O banco foi levemente chutado pelo senhor Moraes. Ellen apóia o filho no seu peito. Uma forte rajada de vento quebra o silêncio. Folhas voam. Benjamim morre “como um anjo”. O senhor Moraes olha para Ellen, e profere:
- Pobre Benjamim! Suicidou-se...
E saíram de mãos dadas...
* Jornalista
* Por Rodrigo Ramazzini
- Consegui! – gritou Benjamim, ecoando nas velhas paredes de madeira, ao entrar em casa. Fora contratado como jardineiro, após meses de procura, por um cidadão de posses, na zona norte da cidade. A bela esposa recebeu entusiasticamente a notícia, pois o filho de nove meses, assim como o casal, ficaria nos próximos dias sem mantimentos.
O desempenho nos primeiros dias de trabalho do Benjamim rendeu-lhe sonoros elogios do seu novo padrão, o senhor Moraes. O orgulho de cuidar do jardim daquela bela e badalada mansão eram vistos diariamente nos seus vividos e brilhosos olhos.
Com quatro meses, já conhecia, e era cumprimentado, por todas as autoridades e celebridades que circulavam pela casa. Deslumbrado com tanta riqueza, poder e luxúria, a razão abandonou-lhe. Indagava-se: quando conseguirei ter tal vida? “E o meu filho e esposa, poderei dar-lhes algum dia essas condições?” Estava alucinadamente disposto a fazer qualquer coisa para possuir tais similaridades.
O convite fora recebido de forma extremamente eufórica por Benjamim. O senhor Moraes convidara-o, junto com a sua família, em recompensa pelos esforços diários, a jantar na sua bela mansão, na quarta-feira à noite. Enfim, o senhor Moraes conheceria, depois de tanto ouvir falar, o filho e a bela esposa do Benjamim.
A surpresa por parte do senhor Moraes fora grande. A esposa do Benjamim, de nome Ellen, era realmente bonita. Chegaram no horário marcado, e foram direto saborear diversas iguarias. Para êxtase total de Benjamim, o senhor Moraes abriu um vinho chileno. “– Isso que é vida!” Era o que circulava nos seus ilusórios pensamentos.
Com um orgulho que transgride o descrever, o Benjamim deslocava-se dentre as flores do jardim. Tornara-se uma bela companhia, assim como a esposa, de todas as quartas-feiras do senhor Moraes. Em um desses encontros (e após tantos, estavam já íntimos), após tomar um gole de vinho, o Benjamim questionou o senhor Moraes sobre sua biografia. A resposta andou mais pela ficção do que pela realidade. Redargüiu que fora menino de rua, que trabalhou no tráfico. Contou-lhe como saiu da criminalidade, falou dos estudos, como abriu a própria empresa, porque nunca se casou, e assim por diante. Então, lhe confessou algo que mantinha em absoluto sigilo. Segundo ele, o seu único segredo. Sem titubear, pronunciou: “tenho vontade de matar e ver um homem morrer”. Benjamim arrepiou-se, e antes de proferir algo, o senhor Moraes lhe faz uma proposta: “Benjamim, se suprires esse meu anseio, dou-lhe um milhão, tendo dez dias para desfrutares de tal, depois de decorrido o tempo, dirigimo-nos para a minha fazenda, e lá o executo. Tens até amanhã para responderes se aceitas ou não. Até logo!”
Um silêncio reflexivo o acompanhava. Poderia levar, nem que fosse por apenas dez dias, a vida que sonhou, e ainda, deixaria um belo legado para a esposa e o filho. Entretanto, não o veria crescer. Uma aflição tomou-lhe a consciência, a vontade de possuir, mesmo de tal maneira, obcecava-lhe. A palavra dinheiro desnorteava os seus pensamentos. Questionou a esposa que, transparecendo frieza, apesar da queda de uma lágrima, replicou que seria decisão única e exclusivamente dele, e fora acudir o filho que choramingava no quarto.
Ligeiramente transcorreram aqueles dez dias para Benjamim. Um período que se sentiu único, superior, um deus. Adquiriu uma casa para a esposa e o filho. Conheceu alguns lugares, jantou em sofisticados restaurantes, comprou e fez tudo, saciando as suas vontades. Ao chegar do décimo dia, uma sensação de ser completo o possuía. Deixava como herança R$: 700.000,00.
Em companhia de Ellen, o filho, e o senhor Moraes, rumou para a fazenda...
O dia estava com um leve chuvisco. Uma corda, atada na centenária figueira da fazenda, e um banco esperavam por Benjamim. Despediu-se do senhor Moraes. Agradeceu-lhe por tudo. Beijou pela última vez a esposa e o filho, e disse-lhes: “faço isso por vocês!” Subiu no banco, enlaçou a corda pelo pescoço, baixou a cabeça e a inclinou para a esquerda. O banco foi levemente chutado pelo senhor Moraes. Ellen apóia o filho no seu peito. Uma forte rajada de vento quebra o silêncio. Folhas voam. Benjamim morre “como um anjo”. O senhor Moraes olha para Ellen, e profere:
- Pobre Benjamim! Suicidou-se...
E saíram de mãos dadas...
* Jornalista
Que imaginação, Rodrigo! Historia surpreendente.
ResponderExcluirParabéns!
Abraços
Que drama! Vai fundo na escuridão da alma humana--ou desumana? Muito bom!
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