Parada da independência
* Por Marcelo Sguassábia
A mãe para o fluxo incessante das memórias dos seus anos de internato, independente do chá de laranjeira a arrastá-la em torvelinho para o pó do giz e o álcool do mimeógrafo. A maçaneta pára de levar quem se habilite ao cômodo contíguo, independente de ser ou não este outro cômodo o cenário dos enredos que fascinam. O caqui pára de se abrir em seiva doce e reluzente, independente da ressequida goela dos colonos. O instinto de sobrevivência pára a imobilidade aleijante, independente de todos os esforços para que nenhum esforço se faça em qualquer sentido que seja.
Os segredos maçônicos param de ser segredos e vazam dos iniciados, independente do empenho dos Grão-Mestres em detê-los. Dircede Oliveira Sales Camarinha pára de arquitetar intrigas no seio doméstico, independente da quantia sumida da gaveta apontar como suspeito o arrimo da família, desafeto do cunhado que a nora da sua sogra batizou em Monte Alegre. A chuva pára por inadimplência de São Pedro com a Sabesp, independente das inúmeras tentativas de negociação do débito para evitar o corte.
O moço que todos juram que é irmão do Wando pára de chutar nos testes de múltipla escolha, independente do seu QI recomendar o chute em 100% das ocasiões. A girafa do zoológico de Michael Jackson pára de dormir de pé, independente do fato contrariar frontalmente a natureza das girafas. O Rio de Janeiro pára na Rocinha de ser lindo, independente da música desde 1969 vir insistindo no contrário.
O dono do celular pré-pago pára de dar crédito às ofertas da operadora, independente das tarifas imperdíveis e do saldo da promoção “Recarga Premiada”. O santo pára de atender os pedidos do dia, independente da urgência do devoto. O carrinho da montanha russa pára no meio da descida, independente da força da gravidade funcionar regularmente. O relógio pára de marcar os minutos, independente do ponteiro das horas obedecer à trajetória original de fábrica.
A megasena pára de acumular, independente do último sorteio não ter contemplado ninguém. A vergonha na cara pára de ser nenhuma e consegue ser alguma, independente de todas as tentativas, nas três esferas do poder, para que no máximo seja mínima. O Cony pára no terceiro parágrafo do texto em busca de uma palavra, independente de não levar mais que oito minutos para concluir suas crônicas. O pastor alemão da polícia militar pára no decorrer do desfile e defeca na frente do palanque presidencial, independente do visível constrangimento do capitão e da câmera exclusiva da Globo.
* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”
.
* Por Marcelo Sguassábia
A mãe para o fluxo incessante das memórias dos seus anos de internato, independente do chá de laranjeira a arrastá-la em torvelinho para o pó do giz e o álcool do mimeógrafo. A maçaneta pára de levar quem se habilite ao cômodo contíguo, independente de ser ou não este outro cômodo o cenário dos enredos que fascinam. O caqui pára de se abrir em seiva doce e reluzente, independente da ressequida goela dos colonos. O instinto de sobrevivência pára a imobilidade aleijante, independente de todos os esforços para que nenhum esforço se faça em qualquer sentido que seja.
Os segredos maçônicos param de ser segredos e vazam dos iniciados, independente do empenho dos Grão-Mestres em detê-los. Dircede Oliveira Sales Camarinha pára de arquitetar intrigas no seio doméstico, independente da quantia sumida da gaveta apontar como suspeito o arrimo da família, desafeto do cunhado que a nora da sua sogra batizou em Monte Alegre. A chuva pára por inadimplência de São Pedro com a Sabesp, independente das inúmeras tentativas de negociação do débito para evitar o corte.
O moço que todos juram que é irmão do Wando pára de chutar nos testes de múltipla escolha, independente do seu QI recomendar o chute em 100% das ocasiões. A girafa do zoológico de Michael Jackson pára de dormir de pé, independente do fato contrariar frontalmente a natureza das girafas. O Rio de Janeiro pára na Rocinha de ser lindo, independente da música desde 1969 vir insistindo no contrário.
O dono do celular pré-pago pára de dar crédito às ofertas da operadora, independente das tarifas imperdíveis e do saldo da promoção “Recarga Premiada”. O santo pára de atender os pedidos do dia, independente da urgência do devoto. O carrinho da montanha russa pára no meio da descida, independente da força da gravidade funcionar regularmente. O relógio pára de marcar os minutos, independente do ponteiro das horas obedecer à trajetória original de fábrica.
A megasena pára de acumular, independente do último sorteio não ter contemplado ninguém. A vergonha na cara pára de ser nenhuma e consegue ser alguma, independente de todas as tentativas, nas três esferas do poder, para que no máximo seja mínima. O Cony pára no terceiro parágrafo do texto em busca de uma palavra, independente de não levar mais que oito minutos para concluir suas crônicas. O pastor alemão da polícia militar pára no decorrer do desfile e defeca na frente do palanque presidencial, independente do visível constrangimento do capitão e da câmera exclusiva da Globo.
* Redator publicitário há mais de 20 anos, cronista de várias revistas eletrônicas, entre as quais a “Paradoxo”
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O tempo não para, e a data de número cabalístico não trouxe sorte, mas acúmulo da megasena. Quando nada para, não há como aparar o produto canino constangedor. O recurso é colher com a pá. Depois do desfile. Como fazia a vaca, fazer andando para não fazer montinho...
ResponderExcluirComo é possível que um simples verbo (e, no caso, o verbo parar, ausência de movimento, de ação) desencadeie um processo de criação ininterrupto? Hein? Como é possível um absurdo desses? Hein? Pois vc, caro Marcelo, descobriu o segredo do moto-contínuo e não vai revelar a ninguém. Faz bem. Parabéns.
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