sábado, 5 de setembro de 2009




No fundo das pedras

* Por Pablo Neruda

Grandes lábios de ágata marinha,
bocas lineares, beijos
transmigrados,
rios que detiveram seus azuis,
águas de canto imóvel.

Eu conheço o caminho
que percorreu de uma idade a outra idade
até que o fogo, ou vegetal, ou líquido
se transformaram em profunda rosa
em manancial de gotas encerradas
em patrimônio da geologia.

Eu durmo às vezes, vou
até a origem, retrocedo ao princípio
levado por minha condição intrínseca
de dorminhoca da natureza,
e em sonhos extravaso,
despertando no fundo das pedras.

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