Em defesa das “Manhãs de Setembro”
Por Márcia Vieira
Nos últimos dias só se falou no “mico” ou king kong” da Vanusa. Só hoje, nesta tarde de segunda-feira de setembro, me animei a assistir o vídeo tão criticado. Ok, é um mico sim. Cômico ou trágico, depende do ponto de vista. No You Tube tudo se encontra. E foi lá que assisti ao vídeo, este, cuidadosamente legendado pelo autor, pra não deixar dúvidas quanto aos erros.
Se lá estivesse, fotografando ou de algum modo registrando o evento, teria dado gargalhadas silenciosas (pra quem pensa que não, o ato é possível). Assistindo daqui, não foi diferente. Ri aos borbotões. Mas, quem nunca errou ao cantar o hino ou qualquer outra música? Quem sofre da ansiedade de querer cantar ( e eu sofro disso), no palco ou no chuveiro, já passou por situação semelhante. Com os músicos, por profissão ou vocação, a crítica não perdoa. Nós, simples mortais, não perdoamos.
Lembro-me de um professor que tive, daqueles longevos, que conseguem ser professores de pais, filhos e netos de uma mesma família, que exigia dos alunos, soubessem a letra “corretíssima” do Hino Nacional. A cada aula, um de nós era convidado a cantar o hino, pronunciando lentamente cada palavra, para facilitar o entendimento. Nunca falei, mas tinha cá minha convicção de que a régua que ele segurava em uma das mãos durante a aula, era para ser usada na cabeça de um aluno, que ousasse dizer “braços fortes”, no lugar de “braço forte”. Quem foi aluno dele, sabe bem do que estou falando. O pesadelo de todos reside numa determinada estrofe que provavelmente confunde até o cidadão mais patriota: “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido...”, frequentemente misturada à “Brasil de amor eterno seja símbolo...”. Dessa eu escapei, porque bem cedo aprendi um macete. O Padre Alencar nem sabe, mas foi ele quem me deu a senha: “primeiro você sonha, depois ama”. Nunca mais me esqueci. E anos depois, não foi na minha cabeça que o professor deu cabo da régua.
Tento imaginar o que ele sentiria ao ouvir a Vanusa. Usaria a régua? Conteria o riso, como aqueles que participaram da solenidade em questão? Agradeceria a presença da cantora, como fez o apresentador, na ânsia de calar a voz da musa do iê-iê-iê? Entenderia os desafios emocionais, declarados ou ocultos, pelos quais atravessa a cantora?
As críticas foram/são intermináveis. Vanusa deu entrevistas com justificativas pouco convincentes, mas do lado de cá, acredito piamente que até o professor, um educador disfarçado de desalmado, teria se lembrado daquela que legou à história musical brasileira, ao lado de Mário Campanha, um dos mais lindos hinos de exaltação à vida, depois de amargo viver. O emergir, depois da solidão/reclusão. A musa que “em noite fria se sentia bem”, que “numa tarde, se fez tarde de tristeza”, que “conseguiu ficar e ir embora”
Num país, onde tudo acontece, errar o hino é o menor e menos vergonhoso dos delitos, se é que existe erro menor ou maior que outro. Há muito os cadernos escolares não trazem em suas capas as letras do Hino Nacional, Hino à Bandeira, Hino da Independência(?). Há muito, os hinos foram substituídos por desenhos de crianças empunhando espadas, chamadas de heróis, ou princesas modernas, cujas roupas mais se assemelham as de dançarinas de axé.
Agora, Vanusa, “não temais ímpias falanges, que apresentam face hostil. Vossos peitos, vossos braços -e sobretudo sua voz- são muralhas do BRASIL”. Mais do que nunca, acredite no que você construiu e cante, cante mais forte ainda: “...Fui eu que num esforço se guardou na indiferença...”. Este sim, é o seu hino. O seu hino de independência. As “Manhãs de Setembro” são suas. Seus fãs, os fãs da sua música, agradecem.
Manhãs de Setembro
(Composição: Vanusa e Mário Campanha)
Fui eu quem se fechou no muro
E se guardou lá fora
Fui eu quem num esforço
Se guardou na indiferença
Fui eu que numa tarde
Se fez tarde de tristezas
Fui eu que consegui
Ficar e ir embora...
E fui esquecida
Fui eu!
Fui eu que em noite fria
Se sentia bem
E na solidão
Sem ter ninguém
Fui eu!
Fui eu que em primavera
Só não viu as flores
E o sol
Nas Manhãs de Setembro...
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar
O vizinho a cantar
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar
O vizinho a cantar
Nas Manhãs de Setembro
Nas Manhãs de Setembro
Nas Manhãs de Setembro
Nas Manhãs...
* Márcia Vieira (Yellow) é repórter e membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros
Por Márcia Vieira
Nos últimos dias só se falou no “mico” ou king kong” da Vanusa. Só hoje, nesta tarde de segunda-feira de setembro, me animei a assistir o vídeo tão criticado. Ok, é um mico sim. Cômico ou trágico, depende do ponto de vista. No You Tube tudo se encontra. E foi lá que assisti ao vídeo, este, cuidadosamente legendado pelo autor, pra não deixar dúvidas quanto aos erros.
Se lá estivesse, fotografando ou de algum modo registrando o evento, teria dado gargalhadas silenciosas (pra quem pensa que não, o ato é possível). Assistindo daqui, não foi diferente. Ri aos borbotões. Mas, quem nunca errou ao cantar o hino ou qualquer outra música? Quem sofre da ansiedade de querer cantar ( e eu sofro disso), no palco ou no chuveiro, já passou por situação semelhante. Com os músicos, por profissão ou vocação, a crítica não perdoa. Nós, simples mortais, não perdoamos.
Lembro-me de um professor que tive, daqueles longevos, que conseguem ser professores de pais, filhos e netos de uma mesma família, que exigia dos alunos, soubessem a letra “corretíssima” do Hino Nacional. A cada aula, um de nós era convidado a cantar o hino, pronunciando lentamente cada palavra, para facilitar o entendimento. Nunca falei, mas tinha cá minha convicção de que a régua que ele segurava em uma das mãos durante a aula, era para ser usada na cabeça de um aluno, que ousasse dizer “braços fortes”, no lugar de “braço forte”. Quem foi aluno dele, sabe bem do que estou falando. O pesadelo de todos reside numa determinada estrofe que provavelmente confunde até o cidadão mais patriota: “Brasil, um sonho intenso, um raio vívido...”, frequentemente misturada à “Brasil de amor eterno seja símbolo...”. Dessa eu escapei, porque bem cedo aprendi um macete. O Padre Alencar nem sabe, mas foi ele quem me deu a senha: “primeiro você sonha, depois ama”. Nunca mais me esqueci. E anos depois, não foi na minha cabeça que o professor deu cabo da régua.
Tento imaginar o que ele sentiria ao ouvir a Vanusa. Usaria a régua? Conteria o riso, como aqueles que participaram da solenidade em questão? Agradeceria a presença da cantora, como fez o apresentador, na ânsia de calar a voz da musa do iê-iê-iê? Entenderia os desafios emocionais, declarados ou ocultos, pelos quais atravessa a cantora?
As críticas foram/são intermináveis. Vanusa deu entrevistas com justificativas pouco convincentes, mas do lado de cá, acredito piamente que até o professor, um educador disfarçado de desalmado, teria se lembrado daquela que legou à história musical brasileira, ao lado de Mário Campanha, um dos mais lindos hinos de exaltação à vida, depois de amargo viver. O emergir, depois da solidão/reclusão. A musa que “em noite fria se sentia bem”, que “numa tarde, se fez tarde de tristeza”, que “conseguiu ficar e ir embora”
Num país, onde tudo acontece, errar o hino é o menor e menos vergonhoso dos delitos, se é que existe erro menor ou maior que outro. Há muito os cadernos escolares não trazem em suas capas as letras do Hino Nacional, Hino à Bandeira, Hino da Independência(?). Há muito, os hinos foram substituídos por desenhos de crianças empunhando espadas, chamadas de heróis, ou princesas modernas, cujas roupas mais se assemelham as de dançarinas de axé.
Agora, Vanusa, “não temais ímpias falanges, que apresentam face hostil. Vossos peitos, vossos braços -e sobretudo sua voz- são muralhas do BRASIL”. Mais do que nunca, acredite no que você construiu e cante, cante mais forte ainda: “...Fui eu que num esforço se guardou na indiferença...”. Este sim, é o seu hino. O seu hino de independência. As “Manhãs de Setembro” são suas. Seus fãs, os fãs da sua música, agradecem.
Manhãs de Setembro
(Composição: Vanusa e Mário Campanha)
Fui eu quem se fechou no muro
E se guardou lá fora
Fui eu quem num esforço
Se guardou na indiferença
Fui eu que numa tarde
Se fez tarde de tristezas
Fui eu que consegui
Ficar e ir embora...
E fui esquecida
Fui eu!
Fui eu que em noite fria
Se sentia bem
E na solidão
Sem ter ninguém
Fui eu!
Fui eu que em primavera
Só não viu as flores
E o sol
Nas Manhãs de Setembro...
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar
O vizinho a cantar
Eu quero sair
Eu quero falar
Eu quero ensinar
O vizinho a cantar
Nas Manhãs de Setembro
Nas Manhãs de Setembro
Nas Manhãs de Setembro
Nas Manhãs...
* Márcia Vieira (Yellow) é repórter e membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros
É interessante e bom ser voz discordante. Enquanto todos fazem um ataque, Márcia vem em defesa do que Vanusa fez de muito bom na nossa história musical.Muito bem!
ResponderExcluirOi, Mara. Só pelas "Manhãs de Setembro", acho que ela já merece o nosso perdão, não é?
ResponderExcluirObrigada, minha amiga.
Bjo pra vc.
Márcia