terça-feira, 10 de abril de 2018

Onde está a menina que morava em mim? - Evelyne Furtado


Onde está a menina que morava em mim?

* Por Evelyne Furtado

Até bem pouco tempo morava uma menina em mim.
Ficava num dos cômodos de trás, mas bem localizado,
pois era dentro do coração da mulher, que já fora menina,
que a menina morava.

Aquela menina crescera com a mulher.
Eram unha e carne.
Quando a mulher estava sinceramente feliz,
era a menina que brincava e ria.
Quando a mulher sentia medo,
era a menina assustada que fugia.
Quando a mulher era por alguém ferida,
era a menina mimada que reagia.

Às vezes com birra de menina,
ela aos outros ofendia.
Quão raros eram esses momentos,
pois era uma menina boa que morava em mim.

A dor veio e a menina chorou dias sem parar,
mas ninguém veio lhe acalentar.
A mulher ressentida esqueceu a menina,
e hoje pergunta a todos para onde foi
a menina que a fazia sorrir.

Quando só a mulher com ar triste
repete assim:
“Havia uma menina que morava em mim
uma menina ingênua, a quem deram fim”.


* Poetisa, cronista e psicóloga de Natal/RN.

2 comentários:

  1. Deixar a menina partir é uma lástima. Espero que ela volte.

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  2. Por que permitimos que outros nos modifiquem, nos entristeçam? Por que, por mais que a menina vá e volte, vai se endurecendo a mulher? São as perguntas que me faço sempre, sem encontrar respostas que me satisfaçam...

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