A meus filhos
* Por
Flora Figueiredo
Estou aqui ao lado,
à margem de seu caminho,
vendo você passar.
Quero que vá sozinho
mas me mantenho por perto.
Se o rumo é certo,
me aprumo e aplaudo;
se é via tortuosa,
jogo-lhe aos pés uma rosa
pra que desviando dela
você chegue a outro lugar;
se a sombra é fria,
mando-lhe um beijo quente;
se o chão queima do sol nascente,
estendo-lhe a poesia
para que o possa atenuar,
se não houver alimento,
peço ao vento
sementes que lhe tragam vida.
Para a sede,
roubo do céu a lágrima caída da madrugada.
Mas se você não precisar de nada,
ainda assim eu estarei vigiando,
escondida talvez atrás de um querubim.
Abençoarei sua vida e sua estrada,
mesmo que já esteja transformada
na forma clara e casta de um jasmim.
Do livro “Florescência”, 1987
*
Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a
noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto”
e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia.
Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade
e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro
de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são
como um mergulho profundo nas águas da vida.
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