sábado, 4 de fevereiro de 2017

Autorretrato


* Por Yeda Prates Bernis

Vocacional estrabismo divergente:
um olho na terra, outro no céu.
Nadadora, vai singrando em largas
ou tímidas braçadas
oceanos, rios e lagos de emoção.
Solfeja alguns idiomas
para ler poemas,
cantar canções
e esconder, neles,
sua ternura pela humanidade.
Acredita em sereia, fada,
Iemanjá, Saci Pererê e outras coisas
mágicas com que depara, desavisadamente.
Acha o livre arbítrio tão discutível
quanto a verdade,
e o bem e o mal, faces da mesma moeda.
Vive com Vivaldi no coração
e Debussy na ponta dos dedos.
Borda, com fios insólitos do tempo,
pacientes pontos de esperança.
Traz a alma na boca,
abraça e beija muito,
e vive sorrindo
para mostrar atávica
alegria infeliz.

Do livro "Palavra ferida". Belo Horizonte: Editora Veja, 1979.

* Poetisa membro da Academia Mineira de Letras


Nenhum comentário:

Postar um comentário