América nada lírica
*** Por
Antonio de Campos
O capitalismo é uma catraca enferrujada
América, teus dias estão contados
“Os tempos estão mudando”, cantou um profeta*
moderno
e, como todos os profetas,
modernos ou não,
cantou em vão na capoeira dum deserto
A fome está batendo à tua porta
e quando a fome bate à porta
o povo sai de casa
e faz da rua sua sala-de-estar
As penas de tua Águia, em torvelinho, estão sendo
levadas
pelo tornado das tuas mais agudas contradições
seu bico rombudo já não estraçalha com precisão de
laser
sua visão míope é incapaz de distinguir entre um
míssil e a Pomba da Paz
suas garras, gastas; suas unhas rachadas perderam o
brilho dos esmaltes
seu penacho, ninguém mais acha
Se queres vencer o terrorismo
fica apenas cuidando de teu quintal, deixa o
quintal dos outros
para outros jardineiros
e, sem te preocupares com a primavera do outro,
espera a tua primavera
Xô com essa ideia obt-USA de construir o Muro do
México –
deverias, sim, tê-lo erguido
antes de roubares ao México metade de suas terras**,
como se não bastasse, já pelos espanhóis de todo
infelicitadas
Feito armadillos, os mexicanos cavarão por baixo
e sairão do outro lado que seria o mesmo lado
caso tivesses lá os deixado ocupados
com seus mariachis, tacos, tequilas,
Santas Muertes & virgens de Guadalupe
Não queiras fazer guerra ao mundo –
o mundo é infinitamente maior que tu
Escuta, América, não és nenhum Jesus Cristo
para venceres o mundo
(agora só vences em teus prazos de validade),
e mesmo assim, por espetos,
ele findou pendurado, lembra-te disto
América, teus dias estão contados, positivamente
* Bob Dylan
** em 1846: há 171 anos
janeiro 23,2017
*** Jornalista, poeta e advogado
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