Saudade de mamãe
* Por Fábio de Lima
Quando a lembrança me toca sinto vontade de chorar
Era uma cidade pequena o lugar onde nasci
Assim como eram pequenos os meus sonhos
Havia artistas, loucos e crianças – além de mamãe e eu
Era menino de 09 anos e não sabia escrever ainda
O cinema era muito bonito e caro, dizia mamãe
Na praça, à noite, também nos faltava dinheiro para o
algodão doce
Minha roupa era remendada, mas tinha o cheiro e o carinho
de mamãe
A casa onde eu morava era feia, coitada
O fato é que, diziam que eu era muito pobre
Como eu não sabia o que era pobreza – fui vivendo
E, afinal, a missa, no domingo, era divertida
Papai não conheci
Meus amigos me falavam que ter pai era legal
O nome de mamãe era Ângela
Os nomes dos amigos de mamãe eu nunca prestei atenção
Brincava com um carrinho feito de lata de óleo
O meu vovô era muito doente
A minha vovó já havia morrido
Eu adorava assistir televisão na casa do vizinho
Mamãe trabalhava à noite
O sol dormia à noite
A felicidade ia embora à noite
E eu tinha muito medo de dormir no escuro
Achava engraçado o nome da minha cidade: Piracicaba
As outras mamães da cidade não gostavam de minha mamãe
O moço da venda me dava balas quando eu varria a
calçada
Mamãe dizia que eu era bonito
Nos meus aniversários mamãe comprava refrigerante
Eu tinha um cachorro (Astor) que gostava de jogar bola
de meia comigo
Os amigos de mamãe pareciam não gostar de mim – nunca
entendia isso
No quintal de casa tinha uma goiabeira
Hoje, estou
velho. Completei 83 anos – ontem. Tenho 5 filhos, 13 netos e 1 bisneto. Moro em São Paulo. Ganhei
(*) Jornalista e escritor ou
“contador de histórias”, como prefere ser chamado. É Diretor de Programação da
CINETVNET (www.cinetvnet.com.br), TV pela internet. Está escrevendo seu
primeiro romance, DOCE DESESPERO.
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