terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Minha riqueza


O prazer e o trabalho são as duas únicas formas que o ser humano dispõe para esquecer os estragos que o tempo faz em seu corpo e em sua mente. Claro que os resultados desses dois tipos de ação são muito diferentes. Mas a escolha é livre, ditada exclusivamente pelo livre-arbítrio. As conseqüências, no entanto, é que são inflexíveis.

Os hedonistas entendem que o homem veio ao mundo apenas para gozar as suas delícias. Já os pragmáticos acham que o seu papel é o de produzir obras, que o tempo, afinal, se encarregará de destruir. Quem tem razão? Sei lá! Da minha parte, entendo que a virtude está no meio. Ou seja, que o mais sábio é dosar, e muito bem, os prazeres com o trabalho.

A vida é constituída de escolhas, cuja exatidão vai determinar nosso sucesso ou fracasso, felicidade ou amargura, bem ou mal. Escolhemos profissões, companhias, amizades etc. e até clubes de futebol para torcer. Somos sempre instados a escolher alguém ou alguma coisa, e não nos é permitido errar.

Essas escolhas têm que ser estudadas, ponderadas e, sobretudo, cautelosas. Se escolhermos uma profissão para a qual não tenhamos talento ou habilitação, por exemplo, ficaremos à margem do mercado de trabalho. Se a escolha de uma companhia não for feita por amor, o resultado será de frustração e infelicidade. E isso vale para tudo o mais na vida.

Se nossas escolhas forem corretas e adequadas, o resultado será o sucesso, a alegria e a plena realização. Se equivocadas... esses equívocos vão gerar, com certeza, fracassados, marginalizados e seres amargos e infelizes. Há os que optam por serem apenas amados, com o que se dão para lá de satisfeitos. Incluo-me entre estes.

Há, porém, quem não se importe tanto com afetos e que queira ser admirado, ou pelo que é ou pelo que faz. Há, também, os mais ambiciosos, que querem as duas coisas. Ou seja, serem amados e admirados, simultaneamente. E existem, ainda, inúmeras outras opções, de todos os tipos e naturezas.

Embora muita gente não concorde, somos senhores absolutos do nosso destino. Deus concedeu-nos o livre-arbítrio para que escolhamos nosso caminho e arquemos com as conseqüências dessa escolha. Por piores que sejam os acontecimentos e as circunstâncias que nos cerquem, temos plena capacidade de viver com dignidade, justiça, alegria e bom humor. Basta que queiramos e manifestemos esse querer por atitudes.

Devemos colocar tudo o que de belo, de sublime e de construtivo sonhamos no plano do real. Os caminhos são pedregosos e cheios de espinho? São! Mas o resultado vale a pena. Como a fábula de La Fontaine, da Cigarra e da Formiga, assim são os homens. Enquanto uns trabalham, construindo templos, cidades, tumbas e monumentos, outros "cantam", gozando as delícias do ócio e do fruto do trabalho alheio.

Enquanto uns criam, outros aproveitam e esbanjam. Qual o valor das obras, além do óbvio, utilitário, de uso imediato? São fontes de perpetuidade da memória, ou não passam de frustradas tentativas para evitar o esquecimento após a morte? Os pioneiros da civilização, os que fizeram descobertas marcantes, práticas, que facilitaram ou até mesmo garantiram a sobrevivência humana, são absolutamente anônimos.

Quem descobriu a roda? Ou a maneira de produzir o fogo? Quem foi o inventor do primeiro alfabeto? Ou da escala musical? Ou dos números? Ou dos princípios básicos da matemática? Estes são alguns dos fundamentos da civilização e foram criados por alguém. Mas por quem?

Gosto das pessoas, mesmo das que ajam mal e mostrem, ostensivamente, que não gostam de mim. Entendo que, para agir dessa forma, têm lá suas razões, que respeito, mesmo que não as compreenda. Claro que gosto delas à distância. Afinal, como diz o povo, “cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.

Sou grato a todos os que me beneficiam e tornam minha vida melhor, senão possível. Respeito os milhões, que sequer conheço, trabalhadores em usinas de eletricidade, lixeiros, padeiros, pedreiros, médicos, cientistas, filósofos, professores, jornalistas etc.etc.etc., que fazem o mundo, bem ou mal, funcionar e possibilitam minha sobrevivência.

Os marginalizados, injustos, violentos e néscios não nascem assim. São frutos da falta de educação, do ambiente em que vivem e das circunstâncias. Procuro fazer, da melhor forma possível, minha parte na sociedade, como forma prática de gratidão. Reitero: gosto das pessoas! Apego-me, ferrenhamente, por convicção e formação, a elas, jamais a coisas.

Tenho noção do quanto o conceito de propriedade é nocivo para a convivência harmoniosa dos homens. Nada, efetivamente, me pertence. O que “tenho” só é meu enquanto eu estiver vivo. Ou seja, toda posse é transitória. Claro que não saio distribuindo, tolamente, por aí o que consigo com o fruto do meu trabalho. Mas quando perco, o que quer que seja, não me sinto frustrado ou derrotado.

Esse sentimento, porém, é bem diferente quando ocorre a perda de um parente, um amor ou um amigo. Estes, sim, são meus patrimônios. Quando essa perda acontece, por desavenças, morte ou por outras circunstâncias, sinto morrer um pouco. Fico menor, mais pobre e mais mesquinho. E essa sensação sequer é exclusiva. Emily Dickinson, por exemplo, declara, num magnífico verso: “Todo meu patrimônio são meus amigos”. O meu também! Esta é a riqueza que busco preservar a todo custo. O resto...

Boa leitura!

O Editor.

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Um comentário:

  1. Ah, as desavenças nos apequenam. Os jovens contam como vantagem ter dito isso ou aquilo, ter ofendido, rasgado a carne, destruído alguém. Não devemos deixar que nos insultem, sufoquem, amordacem ou oprimam, sem uma resposta, mas não levamos nada em sermos desaforados. Melhor desarmar os agressivos com tapas de luva, sem ironia ou indiretas, mas buscando neles o que ainda têm de bom. Isso não é ser bonzinho, é ser civilizado, e também esse comportamento não deve ser apenas no fim de ano.

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