Minha riqueza
O prazer e o trabalho são as duas
únicas formas que o ser humano dispõe para esquecer os estragos que o tempo faz
em seu corpo e em sua mente. Claro que os resultados desses dois tipos de ação
são muito diferentes. Mas a escolha é livre, ditada exclusivamente pelo
livre-arbítrio. As conseqüências, no entanto, é que são inflexíveis.
Os hedonistas entendem que o homem veio
ao mundo apenas para gozar as suas delícias. Já os pragmáticos acham que o seu
papel é o de produzir obras, que o tempo, afinal, se encarregará de destruir.
Quem tem razão? Sei lá! Da minha parte, entendo que a virtude está no meio. Ou
seja, que o mais sábio é dosar, e muito bem, os prazeres com o trabalho.
A vida é constituída de escolhas, cuja
exatidão vai determinar nosso sucesso ou fracasso, felicidade ou amargura, bem
ou mal. Escolhemos profissões, companhias, amizades etc. e até clubes de
futebol para torcer. Somos sempre instados a escolher alguém ou alguma coisa, e
não nos é permitido errar.
Essas escolhas têm que ser estudadas,
ponderadas e, sobretudo, cautelosas. Se escolhermos uma profissão para a qual
não tenhamos talento ou habilitação, por exemplo, ficaremos à margem do mercado
de trabalho. Se a escolha de uma companhia não for feita por amor, o resultado
será de frustração e infelicidade. E isso vale para tudo o mais na vida.
Se nossas escolhas forem corretas e
adequadas, o resultado será o sucesso, a alegria e a plena realização. Se
equivocadas... esses equívocos vão gerar, com certeza, fracassados,
marginalizados e seres amargos e infelizes. Há os que optam por serem apenas
amados, com o que se dão para lá de satisfeitos. Incluo-me entre estes.
Há, porém, quem não se importe tanto
com afetos e que queira ser admirado, ou pelo que é ou pelo que faz. Há,
também, os mais ambiciosos, que querem as duas coisas. Ou seja, serem amados e
admirados, simultaneamente. E existem, ainda, inúmeras outras opções, de todos
os tipos e naturezas.
Embora muita gente não concorde, somos
senhores absolutos do nosso destino. Deus concedeu-nos o livre-arbítrio para
que escolhamos nosso caminho e arquemos com as conseqüências dessa escolha. Por
piores que sejam os acontecimentos e as circunstâncias que nos cerquem, temos
plena capacidade de viver com dignidade, justiça, alegria e bom humor. Basta
que queiramos e manifestemos esse querer por atitudes.
Devemos colocar tudo o que de belo, de
sublime e de construtivo sonhamos no plano do real. Os caminhos são pedregosos
e cheios de espinho? São! Mas o resultado vale a pena. Como a fábula de La Fontaine , da Cigarra e da
Formiga, assim são os homens. Enquanto uns trabalham, construindo templos,
cidades, tumbas e monumentos, outros "cantam", gozando as delícias do
ócio e do fruto do trabalho alheio.
Enquanto uns criam, outros aproveitam e
esbanjam. Qual o valor das obras, além do óbvio, utilitário, de uso imediato?
São fontes de perpetuidade da memória, ou não passam de frustradas tentativas
para evitar o esquecimento após a morte? Os pioneiros da civilização, os que
fizeram descobertas marcantes, práticas, que facilitaram ou até mesmo
garantiram a sobrevivência humana, são absolutamente anônimos.
Quem descobriu a roda? Ou a maneira de
produzir o fogo? Quem foi o inventor do primeiro alfabeto? Ou da escala
musical? Ou dos números? Ou dos princípios básicos da matemática? Estes são
alguns dos fundamentos da civilização e foram criados por alguém. Mas por quem?
Gosto das pessoas, mesmo das que ajam
mal e mostrem, ostensivamente, que não gostam de mim. Entendo que, para agir
dessa forma, têm lá suas razões, que respeito, mesmo que não as compreenda.
Claro que gosto delas à distância. Afinal, como diz o povo, “cautela e caldo de
galinha não fazem mal a ninguém”.
Sou grato a todos os que me beneficiam
e tornam minha vida melhor, senão possível. Respeito os milhões, que sequer
conheço, trabalhadores em usinas de eletricidade, lixeiros, padeiros,
pedreiros, médicos, cientistas, filósofos, professores, jornalistas
etc.etc.etc., que fazem o mundo, bem ou mal, funcionar e possibilitam minha sobrevivência.
Os marginalizados, injustos, violentos
e néscios não nascem assim. São frutos da falta de educação, do ambiente em que
vivem e das circunstâncias. Procuro fazer, da melhor forma possível, minha
parte na sociedade, como forma prática de gratidão. Reitero: gosto das pessoas!
Apego-me, ferrenhamente, por convicção e formação, a elas, jamais a coisas.
Tenho noção do quanto o conceito de
propriedade é nocivo para a convivência harmoniosa dos homens. Nada,
efetivamente, me pertence. O que “tenho” só é meu enquanto eu estiver vivo. Ou
seja, toda posse é transitória. Claro que não saio distribuindo, tolamente, por
aí o que consigo com o fruto do meu trabalho. Mas quando perco, o que quer que
seja, não me sinto frustrado ou derrotado.
Esse sentimento, porém, é bem diferente
quando ocorre a perda de um parente, um amor ou um amigo. Estes, sim, são meus
patrimônios. Quando essa perda acontece, por desavenças, morte ou por outras
circunstâncias, sinto morrer um pouco. Fico menor, mais pobre e mais mesquinho.
E essa sensação sequer é exclusiva. Emily Dickinson, por exemplo, declara, num
magnífico verso: “Todo meu patrimônio são meus amigos”. O meu também! Esta é a
riqueza que busco preservar a todo custo. O resto...
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Ah, as desavenças nos apequenam. Os jovens contam como vantagem ter dito isso ou aquilo, ter ofendido, rasgado a carne, destruído alguém. Não devemos deixar que nos insultem, sufoquem, amordacem ou oprimam, sem uma resposta, mas não levamos nada em sermos desaforados. Melhor desarmar os agressivos com tapas de luva, sem ironia ou indiretas, mas buscando neles o que ainda têm de bom. Isso não é ser bonzinho, é ser civilizado, e também esse comportamento não deve ser apenas no fim de ano.
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