Natal
* Por
Ricardo Alves
Em primeiro lugar,
deixem-me dizer-vos que esta é a primeira crônica que vos apresento que não foi
previamente escrita em papel ou pensada de todo. Digamos que simplesmente está
a escorrer pelos dedos. Estamos na altura do Natal e, como todos sabemos, é uma
época festiva, cheia de doces e prendas e neve e tudo mais. Toda essa magia
natalícia paira no ar.
Pessoalmente, já lá
vão os tempos em que o Natal era, para mim, uma altura de euforia. Não pelo fato
de ter crescido e efetivamente terem deixado de abundar, a todo o custo por
parte dos pais e restante família, as prendas. O Natal para mim deixou de ser
uma altura de euforia porque passou a ser, sem sombra de dúvida, a altura mais
hipócrita do ano, ou pelo menos a altura do ano em que a hipocrisia do mundo e
das pessoas realmente sobressai. Digo isto porque o Natal tornou-se uma altura
tão banal que apenas é conhecido pelo seu sentido comercial. Vêem-se muitas
luzes, muita alegria, muitas promoções, muita intenção de compra, muito
dinheiro gasto, muita prenda que passeia nos sacos. É nesta altura que muita
cara conhecida aparece em frente às câmaras a dar de comer aos sem-abrigos e a
todos os desfavorecidos. Isso é muito bonito, de fato, mas o que é certo é que
nos outros meses do ano, são perfeitamente capazes de passar por eles sem
sequer olharem. Essa sim é a realidade.
Perdeu-se também, com
o tempo, o sentido de união da família e da alegria na sua forma mais simples:
apenas pelo fato de estarem todos juntos, debaixo do mesmo teto, a sorrir e a
cantarolar, pelo puro prazer de estarem ali, a celebrar o Natal no seu
verdadeiro significado.
É por isso que eu
deixei de me importar com o Natal e passei a encará-lo como um dia como todos
os outros. Prefiro ser um pouco anti-social, ou mesmo "contra-natura"
do que participar nesta hipocrisia social.
No entanto, posso
dizer que senti um pouco do espírito de Natal há alguns dias, quando estava a
jantar com um grupo de Amigos, os meus Amigos Saramaguianos, com quem me
encontro praticamente todos os mesmos. Ali sim senti-me integrado num espírito
de família. Senti que ali se estava a celebrar o Natal, porque estávamos juntos
só pelo prazer de estarmos ali, de podermos conversar, podermos rir, brindar.
Pelo puro prazer de nos encontrarmos e de partilharmos histórias da nossa
infância e de passarmos umas duas horas de um valor incomparável.
Encontrei, portanto,
ali, naquele lugar, àquela hora, com aquelas pessoas que me são muito queridas,
um significado para o Natal, como há muito havia perdido.
Queria partilhar este
episódio convosco e aproveitar para vos desejar um Santo e Feliz Natal, ou o
que resta dele, pois já estou um pouco atrasado. Que seja um dia bem passado,
na companhia da vossa família, seja ela quem vocês tenham escolhido. Que se divirtam
e aproveitem a companhia alheia, para terem mais um momento para guardar na
vossa memória como um bom momento, um momento sincero e puro, verdadeiramente
mágico...verdadeiramente natalício.
*
Escritor português.
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