Humberto de Campos e eu
O escritor é como uma “esponja” que absorve tudo o que ouve,
vê, experimenta, goza, sofre, enfim, aquilo que vive. Mas não de um período
específico, porém de toda sua vida, da infância até o momento em que exercita
sua atividade. Diria que até sua morte. É, pois, uma “colcha de retalhos” de
influências, absorvidas quase sempre à sua revelia, de forma inconsciente, ou
subconsciente, sem que manifeste a mais remota vontade de absorver. Ressalte-se
que todas as pessoas são assim, não importa o que façam. Ninguém nasce sabendo
(o que é a mais óbvia das obviedades). O conhecimento das coisas, desde as mais
elementares (como o idioma através do qual nos comunicamos) aos mais profundos
e elaborados princípios filosóficos, científicos, religiosos, etc. adquirimos,
sempre, de terceiros (de pais, irmãos, parentes, vizinhos, professores, padres,
pastores, amigos, inimigos, conhecidos, estranhos etc.etc.etc.) que, por seu turno, “adquiriram” o que sabem,
sentem e são de outros e vai por aí afora.
Especifico, aqui, os escritores não por serem os “únicos” a
absorver características das pessoas com as quais convivem ou, de alguma forma,
entram em contato (pois, reitero, não são), mas por se tratar da minha
atividade e por poder, portanto, tratar dela com certo conhecimento de causa.
É, principalmente, a exercida pelo personagem cuja vida e obra venho
comentando, e partilhando com vocês, atentando, sobretudo, para as
características que o destacaram e o consagraram. Refiro-me a Humberto de
Campos. Ele, como todo o mundo, foi influenciado pelo ambiente em que nasceu,
pelos lugares em que viveu, por onde viajou, pelas pessoas (sabe-se Deus
quantas!) que conheceu ou somente observou e vai por aí afora. Dessa “colcha de
retalhos” formou, como todo o mundo, a própria personalidade. Criou um estilo
pessoal de pensar, de se expressar e, enfim, de narrar. Se foi influenciado (e
obviamente foi), por tantos, também influenciou sabe-se lá quantos de seus
milhares e milhares de leitores. Inúmeros deles, uma quantidade considerável
(impossível de determinar quantos), se tornaram, também, escritores. Incluo-me
entre estes.
Humberto de Campos não foi o único “mago das letras” a
influenciar minha maneira de escrever. Nem mesmo foi o que mais me influenciou.
Conscientemente, minha maior influência me parece ter sido a do argentino Jorge
Luís Borges, que assumo haver sido meu “guru literário”. Mas fui influenciado
também (uns influenciaram mais, outros influenciaram muito pouco) por uma
incontável quantidade de escritores que já li que, sem exagero, ascende a
dezenas de milhares. Da maneira de escrever de cada um deles formei, enfatizo,
inconscientemente, pedaço a pedaço, meu próprio estilo. Alguns leitores e
críticos literários identificam, em minha forma de me expressar, “semelhanças”
com a de Humberto de Campos. Se houver essa influência (e acredito que haja),
essa nunca foi deliberada. Foi inconsciente. Até porque há uma diferença
abissal entre o talento e a cultura do escritor maranhense com meu talento e
minha cultura, em detrimento, claro, deste humilde “escrevinhador”.
Lembro que “semelhança” não é sinônimo de “igualdade”. Ser
“parecido” não é o mesmo que ser “igual”. Uma das pessoas que identificaram
certa influência de Humberto de Campos na minha maneira de escrever, foi o
ilustre jornalista e escritor Celso Martins. Ao comentar meu livro “Por uma
nova utopia”, em artigo publicado em agosto de 1998 no jornal “Despertador” (da
Associação Espírita Despertador) intitulado “Suicídio? Jamais!”, observou, em
determinado trecho: “Pois bem, Pedro J. Bondaczuk, jornalista do Correio
Popular, bem como do Diário do Povo, escreveu, e o CDV conseguiu que fosse
editada, a excelente coletânea de artigos atuais e oportunos sob o título de
"Por uma Nova Utopia". Li este livro de uma sentada, porque os
artigos são curtos, porém, de uma admirável oportunidade na análise de temas
sobre a ecologia, sobre as drogas, o analfabetismo, a fome das crianças
brasileiras, havendo ainda espaço para os poetas”. E arrematou: “Pedro J.
Bondaczuk tem uma cultura geral muito vasta; entretanto, escreve com leveza e
elegância. Do jeito que sempre apreciei ao pesquisar o pensamento de Humberto
de Campos e de Rubem Braga, os meus cronistas preferidos desde que me entendo
por gente”.
Essa detectada semelhança estilística é um motivo a mais
para que eu leia, com redobrada atenção, os milhares de contos e de crônicas
dos dois ilustres escritores mencionados por Celso Martins. Em um aspecto sou
“igual” e não meramente “semelhante” a Humberto de Campos (guardadas as devidas
proporções): no que o motivou (e que me motiva) a escrever tanto. O escritor
maranhense assim se manifestou a esse propósito na página 272 do seu polêmico
“Diário secreto”: “A minha paixão pelo trabalho mental, a minha fome de
escrever, de produzir, tem, talvez, as suas raízes mais profundas no meu
egoísmo. Que pretendo eu, em verdade, ao idear uma obra vasta, uma bibliografia
numerosa? Pretendo, apenas, que meu nome me sobreviva, que se fale de mim
quando eu já repousar no seio da terra. Eu me mato, pois, para dilatar a vida.
Quero enganar a Morte, deixando no mundo o meu rastro, para que os estudiosos
de amanhã me procurem, depois que ela me tenha levado. Quem sabe, no entanto,
se eu não estou enganando a mim mesmo?”. Pois é: meus objetivos e minha dúvida
são rigorosamente estes citados por Humberto de Campos, sem tirar e nem por.
Boa leitura!
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Verdade, Pedro. Você tem repetido isso sistematicamente.
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