Literário

Oferenda

* Por Bosco Martins

  

(a Apolonio de Carvalho)

O poema que oferto
tem perfume cor vermelha
refletida no espelho

Bem sabes deste sangue
que é  ranger dos
dentes de rebeldia,
voluntário brigadista
e que te fez mel e abelha

O poema que ofereço
é porque te sei branco
límpido e translúcido
Poeta  maior e criança
e quero contigo lembrar
os teus desejos e sonhos

de um Mundo mais humano e justo

Gostavas de brincar  

De esconde-esconde
nas esquinas  de teu labirinto
ou de cirandinha no pântano
de sua solidão,

meu sempre jovem, 

 amigo guerrilheiro

Guerreiro

que escreveu o verso
armado e imortal
como quem lidava
nas tardes de begônias
no mais alto,
não do planalto central,
mas nas guerrilhas dos Maquis
ou nos campos de Marsella,

ou na Espanha contra a ditadura de Franco.

Cidadão do mundo!
Lutavas e deu consciência ao povo
que morava  em praça pública
e não exigia,

nunca  reclamava
se o ditador
lhe importunava o sono.

É deste povo que não
tocava corneta
mais toca tamborim
e  matou um gato
pra usar a pele
pra comer a carne
pra matar a fome
que querias unido
nunca  vencido

Bem sabias da montanha
de agruras do chão de teu País
das torturas, perseguições
das esquinas de indigentes
que por muito se escondeu
por trás de um vento
de tempo muito sombrio

Mas te compreendemos
 Universal, Homem e Sonhador
Guerrilheiro e Marciano
que lutou em prosa e verso
para que desfrutássemos
da liberdade
que veio próspera
nessas manhãs de sol
de brilhar menos infecundo,
porém tardio
e capitalista

Assim sonhas
com tua amada Renee
catando conchinhas numa areia
de praia em Botafogo
ou outra qualquer
de nome já antigo ou Liberdade
e Esperança mesmo que tarde

Agora tua amada te leva nos sonhos
e inventa um cheiro
que pode ser salamandra
e te oferece um poema
um brinquedo uma arma...

* Jornalista e poeta. Correspondente  da Caros Amigos no MS. É colaborador dos sites: Comunique-se, Cronópios e Overmundo. Realizou a ultima entrevista com Apolonio de Carvalho para a Caros Amigos.