O
lobo e o cordeiro, o cordeiro e o lobo
* Por
Eduardo Oliveira Freire
Quando viu uma jovem
solitária num bar, deduziu que seria presa perfeita. Foi se aproximando e
começou a conversar com ela, que, pelo sotaque, era do interior, reafirmando
ainda mais sua ideia de que seria mole seduzi-la.
A jovem se entregou em
pouco tempo, mostrando seus poemas guardados no celular. Ele lhe disse que
escrevia muito bem (lembrou-se de uma professora do primeiro grau que era fã de
Clarice Lispector) e a comparou com a autora famosa. Ela sorriu agradecida.
Ainda inventou que trabalhava numa pequena editora e poderia ajudá-la a
publicar seus escritos.
Convidou-a para
conhecer "seu apartamento". A moça solitária aceitou o convite.
Fechou os olhos e se jogou no mistério. O homem estranhou, o corpo dela tremia
de desejo. Chegava a gritar e ele como um amante eficiente a satisfazia com
desenvoltura. Ao amanhecer, despediram-se e trocaram contatos.
Ele chegou a procurá-la,
mas a jovem do interior desapareceu. Um dia, enviou-lhe uma mensagem pelo
celular, revelando que sabia que era cafajeste e que na verdade só desejava
usá-la e roubá-la. Não se enganava porque reconheceu no olhar dele o olhar do
amante de sua mãe.
Relatou que sua mãe
foi à ruína quando encontrou aquele homem. Ela sempre a julgou, mas quando viu
um homem semelhante quis entender o que se passou com sua mãe. Entregou-se como
se fosse ela e pôde experimentar as sensações de sua mãe, que sempre vivera na
superfície da personagem de boa filha, esposa e mãe. Nunca entrou em contato
com seu eu profundo e quando transou com o amante, sentiu-se livre pela
primeira vez. O gozo a fez se perceber mulher. Então, caçou essa sensação até
enlouquecer. Na realidade, o amante não foi o causador da confusão de sua mãe,
ele a despertou. Fez as pazes com ela, pois tinha o mesmo caos.
Agradeceu ao sedutor a
noite tórrida de desejo e de tê-la comparado com Clarice Lispector, mesmo que
seja uma mentira deslavada, já que aqueles poemas eram de sua sobrinha de dez
anos. Ainda questionou se ele era somente um cafajeste ou um psicopata que
sugaria sua vida à última gota se permitisse. Não desejava saber, bastava-lhe
transformá-lo num amante quimérico para saciar seu caos através dos sonhos.
Depois de ler a
mensagem, sorriu. Na verdade, ele que foi usado. Se soubesse por onde andaria a
jovem, iria assombrá-la até tomar tudo dela.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante
a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
Patifarias cruzadas costumam não machucar.
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