sexta-feira, 10 de junho de 2016

Obituário


* Por Rodrigo Ramazzini


É com muita lástima que noticio o falecimento do nosso grande amigo João de Almeida. Um amado amigo e que sempre será lembrado pelos seus memoráveis porres, suas impagáveis “costuradas de pernas” no meio da rua, assim como suas vomitadas em espaços públicos.

Onde tu estiveres, João, saibas que contigo aprendemos muito, desde como trapacear em um jogo de canastra, bem como burlar a declaração de imposto de renda sem cair na malha fina (Até hoje ninguém entendeu a origem desse teu conhecimento, mas fora útil). Assim que virmos novamente um “rabo-de-saia”, logo lembraremos da tua habilidade em “xavecar” todas as mulheres que de nós se aproximavam. Não me estenderei neste assunto, pois daqui sairiam as tuas melhores histórias, em respeito à dor da viúva.

Nós, teus eternos amigos, estamos triste com a tua perda, mas tenho certeza que a boa parte da população que hoje comemora tal acontecimento, é porque não entendia o modo sarcástico que tu levavas a vida. Deprimidos mesmo estão os teus credores, tendo em vista o grau de endividamento e a não perspectiva de recebimento.

Chamá-lo-emos, a partir de então, de Santo João, pois da terra te despediste, e como em nós mortais o bem sempre supera o mal na hora da morte, terás o julgo de bom homem. Um milagre ambulante, que aparecia nas horas impróprias, seja nas grandes festas familiares, bem como em um simples almoço de domingo, sempre (claro!) sem ser convidado. Santo, também, por teres morrido lutando, pois não te entregaste em nenhum momento. Fora a covardia do galo Tyson, que te apunhalara pelas costas, acertando a tua cabeça enquanto retirava o seu já derrotado adversário, que lhe tiraste a vida. Bem que nós te avisamos Santo João, que trabalhar como “separador” de briga de galo, naquela ilegal rinha, onde aves brutalmente se digladiavam, não era, ainda mais para ti, homem não acostumado ao exercício de uma profissão, bom lugar para começares uma carreira.

É com sincera saudade que recordaremos da tua santa pessoa, quando alguém contar, pela milésima vez, a mesma piada envolta da mesa de sinuca. Proferiremos: – O João está entre nós! E pediremos que Deus o conserve, pois se tiveres partido para o inferno, logo, logo o Diabo mandará devolver.
  
Expressados os mais nobres sentimentos dos que te cercavam, finalizo aqui o obituário, não por falta de assunto sobre o João, que daria com certeza um livro com centenas de páginas, mas, sim, por falta de espaço no Jornal. Que Deus nos abençoe!

Dos teus estimados amigos.

Trim! trim! prim!  Trim! trim! prim! 

- Alô. Redação, boa tarde! João, João! Ô, cara! Tudo bem? Desculpa a franqueza, mas falaram-me que tu tinhas morrido. Ah! Foi o João Almeida. E não o João de Almeida. Velho, te matei! Pior tu não sabes, já estava até escrevendo o teu obituário para pôr no jornal. Só iria fechar a edição e partiria para o teu velório. Sei, sei! Foi o Bilú que me avisou. Aquele baixinho sacana. O quê? Quer ver o obituário? Não, não, expressei muito forte os meus sentimentos de amizade, e é bem capaz que tu interpretes de outra maneira... Não! Vamos deixar assim... É! Vamos celebrar a vida e torcer para que Deus nos dê saúde para vivermos muitas novas histórias juntos... Claro que tu és como um irmão para mim... Claro que sim!

* Jornalista e contista gaúcho.






Um comentário:

  1. Original, por ser, até aqui, praticamente o único morto a receber com justiça os devidos adjetivos. E que Deus não o tenha.

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