quarta-feira, 1 de junho de 2016

Morrer e matar


* Por Assionara Souza


Chove torrencialmente
Nem por isso os homens se odeiam menos
A chuva não lava a alma
Nem o que vai dentro dela
Corações batem como mísseis

Mais um avião caiu
O que dizem as notícias?
O piloto quis carregar
Todo mundo com ele ao abismo
Não sei ao certo de quem me apiedar

As palavras se formam no estômago
E são vomitadas em bueiros-olhos
Ao se infiltrarem no corpo
Disparam bombas de reação
Irrompem-se violentos discursos de paz


É natural que todos morram
É essencial que todos se matem


De que é feita a corrente que aperta o pescoço?
Controle. Opressão. Vigilância.
Alimentados diariamente
Com parafernálias do consumo
Babamos, gritamos, sedentos
A menos que a chuva nos invada de silêncio
Será impossível somente morrer

* Escritora potiguar que nasceu em Caicó/RN, em 1969, mas mora em Curitiba/PR. É doutoranda em Estudos Literários pela UFPR, onde pesquisa a obra de Osman Lins. “Cecília não é um cachimbo” (7Letras/2005) é sua obra de estreia na literatura. Publicou, também, o livro”Amanhã. Com sorvete!”.



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