quarta-feira, 15 de junho de 2016

Elegia antiga


* Por Luís Augusto Cassas


Dai-me uma janela:
que seja alta e branca
como os sonhos as nuvens e as garças
e que despontem gerânios nos beirais
mesmo quando a primavera não vier
Dai-me uma janela:
_ de preferência de sobrado_
de onde se observe o mar o crepúsculo e os barcos

e uma atmosfera colonial de paz e quietude
embale — como os ventos —
os nossos corpos e sentimentos
Que seja bem alta
assim como a nossa vontade de subir ladeiras:
acima de todas as incoerências terrestres
acima de todas as maldades humanas
num lugar onde a tristeza o egoísmo
o desamor e a inveja
não a possam alcançar
Não é obrigatório
que tenha sacada:
mas é necessário
que caiba a amada
Senhores guardiães dos horizontes do Mundo
que controlais vistas paradisíacas
e paisagens alucinantes
dos seus escritórios acarpetados do 101º andar:
ficai com a visão dos lagos artificiais
aurora boreal planetas inacessíveis
arco-íris pré-fabricados
nada disso me afeta ou seduz
Eu quero
apenas uma janela
uma janela aberta para o Mundo:
e nada mais


In A Poesia Sou Eu, vol. 1, p. 112


* Poeta maranhense.


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