Parabéns
aniversariante!!!
A história das comunidades, cidades,
Estados ou países, é um relato da vida e da obra de seus moradores. É a crônica
das alegrias, das tristezas, dos atos de heroísmo ou de vileza etc.etc.etc. das
pessoas que a habitam. Campinas, que hoje completa 241 anos de profícua
existência, é grande, acolhedora, culta e fraterna graças às qualidades, às
virtudes e à operosidade do seu povo, do passado ou do presente, não importa. A
melhor impressão sobre uma determinada cidade --- ou a pior --- é aquela
externada por alguém que não viva nela. O que vem de fora consegue ser objetivo
--- claro, se for culto e, sobretudo, observador e sincero --- já que está
livre dos laços familiares ou de amizades.
Em abril de 1865, há, portanto, 150
anos, o Visconde de Taunay, o imortal escritor de "A Retirada de
Laguna", “Inocência” e outras obras importantes da história e da
literatura brasileiras, esteve em Campinas e manteve ativa correspondência com
parentes, no tempo que por aqui passou. Algumas dessas cartas foram
reproduzidas na publicação "Notícia Bibliográfica e Histórica",
organizada pelo saudoso acadêmico e professor Odilon Nogueira de Matos, nos
números 149/150, referente ao período de janeiro/junho de 1993. E esses relatos
mostram a impressão que a cidade deixou no ilustre escritor.
Numa dessas correspondências está
registrado: "Temos tido a melhor impressão de Campinas, cidade próspera e
rica, muito animada e progressista cujo adiantamento dia a dia se comprova pelo
aumento da população, as construções de novas e numerosas casas e a abertura de
estabelecimentos comerciais importantes. Sente-se que é uma cidade opulenta
onde há grandes fortunas e onde as transações avultam". Sobre o
campineiro, a opinião de Taunay era a seguinte, expressada em outra das cartas,
a que foi escrita ao seu pai: "Em Campinas reina uma comunicabilidade
extraordinária, sobretudo se lembrarmos que em São Paulo há uma tendência
sobremodo forte ao retraimento".
A data aceita pela maioria dos
historiadores como sendo a da fundação da cidade é 14 de julho de 1794, quando
da inauguração da tosca capela, coberta de sapé, no local onde hoje se situa o
monumento de Carlos Gomes, no centro. Alguns anos antes, no entanto, a região
já era conhecida pelos bandeirantes, pois por ela passavam as trilhas de
tropeiros que se dirigiam rumo às decantadas minas de ouro de Goiás. Havia pelo
menos quatro pousadas na área, onde os viajantes paravam para descansar, se
alimentar e dar comida aos animais, antes de seguirem viagem --- de ida, para o
Centro Oeste, ou de volta, rumo a São Paulo de Piratininga.
Mas a mata era fechada, com árvores
enormes, algumas de vários metros de altura. Os donos das estalagens possuíam
pequenas roças de milho, feijão e mandioca e criavam galinhas e porcos,
suficientes apenas para abastecer, com
muito custo, seus estabelecimentos. No mais, a região era um imenso
"deserto verde". Pouquíssimas pessoas tinham a coragem de sequer se
embrenhar pela floresta, para explorá-la, pois circulavam várias lendas de
supostos monstros ou espíritos maléficos que a habitariam.
Foi
em uma das passagens por essas bandas, de regresso de São Paulo, que o
bandeirante Francisco Barreto Leme, que morava no Vale do Paraíba, em São
Francisco das Chagas de Taubaté, se encantou com a terra roxa e as frondosas
árvores da zona, habitada (conforme diziam) por indígenas hostis aos invasores
brancos (e que se supunha tinha muita onça e pássaros exóticos). A região era,
na ocasião, conhecida como Mato Grosso das Campinas de Jundiaí. Num raio de
centenas de quilômetros não havia um único morador.
Barreto Leme, no entanto, decidiu fixar
morada na zona, caracterizada por suaves colinas e cortada por um grande rio, o
Atibaia, que se revelou farto em peixes. Retornou à sua cidade, vendeu tudo o
que tinha, reuniu parentes e alguns amigos que conseguiu convencer a embarcar
nessa aventura, e se mudou para cá, por volta de 1772. O povoado cresceu
depressa. Em dois anos, praticamente já chegava a trezentas pessoas, muitas das
quais nascidas aqui. A terra fértil favoreceu boas colheitas e logo a notícia
se espalhou por todo o Vale do Paraíba, atraindo novos interessados. Não tardou
para ficar patente a necessidade de assistência religiosa aos colonos.
Os moradores, afinal, eram católicos
fervorosos. Reivindicavam um padre, para fazer casamentos, batizados, dar extrema-unção
aos moribundos, rezar missa aos domingos e dias santos, ministrar comunhão aos
fiéis e, enfim, prestar toda a assistência espiritual à comunidade. Ergueram,
pois, a tosca capela, consagrada a Nossa Senhora da Conceição, na esperança de
que, dessa forma, o bispo de Jundiaí se sensibilizaria e enviaria um sacerdote
para o novo assento. E foi o que aconteceu. Destacou-se um padre para o novo
povoado, mas que tinha a incumbência de passar somente uma vez por mês pelo
vilarejo.
A capela foi inaugurada, e consagrada
com missa solene, em 14 de julho de 1794. Convencionou-se que essa data seria a
de fundação de Campinas. O povoamento
cresceu, desenvolveu-se populacional e economicamente, ganhou um padre
residente, construíram-se igrejas maiores e melhores. Ganhou a condição de vila
(batizada de São Carlos), elegeu sua própria câmara, o governador provincial
Morgado de Mateus nomeou um administrador (espécie de prefeito) até que, em
1860, foi, finalmente, elevado a cidade, com o nome atual. E assim nasceu
Campinas.
Acerca da estrutura urbana, o Visconde
de Taunay constatou, em uma de suas tantas cartas: "A cidade é bem
arruada, ruas cortando-se em ângulo reto, o terreno bem feito, com pequeno
declive". Prosperidade, afabilidade e ordem. Este foi o legado que os
antepassados deixaram à atual geração, que deu continuidade ao progresso,
conservando as características básicas, ou seja, a personalidade de Campinas. Não
é de se estranhar, portanto, que sejamos tão apaixonados por esta cidade. Eu,
pelo menos, sou. Parabéns, aniversariante!!!!
Boa
leitura.
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Tenho uma prima que morou muitos anos em Campinas, dando aulas na Unicamp. Ela adora Campinas.
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