quarta-feira, 18 de março de 2015

Redes sociais cibernéticas, pancadas do tempo das cavernas


* Por Mara Narciso


As primeiras salas de chat, com seus precários recursos de identificação como nickname e cor, disponibilizava aos usuários opções por idade e interesse, sem som, e imagens nas salas de sexo. Quem queria formar um par buscava os chats de idade. Nelas era possível falar para todos que estavam na sala (brigas e xingamentos eram comuns, e quando a pessoa chegava ou saía, aparecia uma expressão: fulano entrou na sala, ou sicrano saiu da sala.) As mulheres vistas como sérias, só falavam “no aberto”, e se sentiam insultadas quando algum homem as chamava para conversar no reservado. Os frequentadores entravam às mesmas horas, mantendo nicks e cores para se fazerem conhecidos. Muitos casamentos começaram e terminaram naquelas salas. Cenas de ciúmes eram comuns entre mulheres que disputavam homens cobiçados por se destacarem nas conversas. Quando se entrava na sala, a abordagem era: quer teclar?

Imagem só por e-mail, escaneada do papel. Foto desfavorável causava o fim do papo. O sexo virtual acontecia nas salas mais vazias. Caso houvesse um entendimento, as conversas iam para o telefone. O e-mail era onipresente e a pessoa conferia a sua caixa a todo instante, buscando notícias do namorado. O primeiro encontro podia ser uma trombada num poste. Uma vez e nunca mais. Vieram as videocâmaras, que reduziram as expectativas e apimentaram o sexo virtual, seguidas pelos crimes de chantagem, com ameaças de divulgação de vídeos gravados sem autorização.

Houve o tempo do ICQ, que eram salas de chat primitivas, com barulho irritante de mensagem chegando. Depois chegou o Messenger ou MSN, melhor para conversar, e que depois possibilitou montagem de álbuns, grupos de amigos e perfis. As pessoas escolhiam com quem falar, sendo possível mostrar o status (disponível, ausente e ocupado), com brigas, quando o outro não respondia. Conversar com várias pessoas ao mesmo tempo ficou possível, com mais ciúmes e mentiras.

Veio o Orkut (sobrenome de um israelense), que, inicialmente, era uma rede de amigos de classe alta, sendo exigido um convite para a nova pessoa entrar. Trouxe novidades como imagens em movimento, vídeos e pesquisa por assunto. Artistas produziam conteúdo para o site, com mensagens edificantes, bíblicas, filosóficas, de amor, de bichinhos e crianças, logo consideradas cafonas.

Fazia-se a própria apresentação, e participava-se de “comunidades”, onde as pessoas se agrupavam conforme o interesse e brigavam (feio). Não havia moderação, e o “dono” fazia uma advertência ou expulsava o brigão. Surgiu uma ferramenta que possibilitava saber quem visitava o perfil, porém, e caso se escolhesse ver, teria de ser visto também. Havia livre acesso por todo o site. Depois vieram bloqueios de fotos para grupos de amigos. Os fakes (perfis falsos) já eram rotina. Surgiu o chat no site (verde e vermelho, livre e ocupado), e depois a webcam. Colocava-se o endereço do blog, na página de apresentação (longo formulário). Naquela época, quase todos tinham um blog, em sua maioria, secretos.

A era de Facebook, Twitter, WhatsApp, Instagran, Google + e outros, entrou com força, depois da popularização do smartphone e internet móvel. Os até mil contatos do Orkut (fora do ar desde o ano passado) ficaram irrisórios diante dos cinco mil do Facebook. Uma só pessoa pode ter vários perfis numerados, além da fanpage. Há ainda o chat interno, mais conhecido como inbox, que pode ter imagens simultâneas, vídeos, figurinhas animadas, e fotos em quantidades ilimitadas. A publicidade mantém o site. A moderação é feita pelos usuários, que reclamam abusos, sendo que o infrator recebe advertência ou bloqueio por um mês ou exclusão. As oportunidades profissionais, de amizade, e namoro mostram-se como numa vitrine, às vezes de faz de conta, com possibilidades para todos.

Não raro, e sem motivo, pode-se ser convidado a sair com um desconhecido que tenha sido adicionado por ser amigo do amigo. O perfil pode ficar com parte oculta para alguns contatos, conforme a configuração de privacidade. Ou ser totalmente escancarado. Quando a amizade acaba, deleta-se o ex-amigo, e quando ele se torna um estorvo, é bloqueado e aos seus olhos, desaparece do site.

O Facebook disponibiliza jogos e grupos, sendo que a matemática de cruzamento de dados quantifica o grau de interação. O site joga no seu feed de notícias (página inicial), postagens de pessoas que mais fazem trocas com você. Pode-se seguir ou ser seguido. Nada é aleatório ou por acaso, havendo uma lógica para aproximação e afastamento.

Relacionamentos começam ou acabam na rede. Sites de namoro como Par Perfeito e Badoo sofisticam-se a cada dia, mas os instintos continuam primitivos. A figura típica é a da mulher ciumenta rastreadora incansável, que mede os passos do parceiro e os das possíveis rivais. E quando a soma de um mais um dá dois, invade o telefone do infiel. Muitas preferem curar o ciúme virtual dando uma surra real na adversária, com arma contundente ou da forma mais feminina: de unhas e dentes, com puxadas de cabelo.

*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”   

Um comentário:

  1. É curioso perceber como o sexo move tantas pessoas. E não há melhor prova do que os sites de encontros e namoro online. De ano para ano, o número de utilizadores destas plataformas tem crescido imenso. Porquê? Há várias vantagens que levam as pessoas a optar por este caminho. Deixo aqui um post se quiser ler caso queria saber mais sobre o assunto: http://www.estrategiadigital.pt/sites-de-relacionamentos-as-vantagens-que-conquistaram-os-brasileiros/

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