segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Esta minha terra


* Por Hélio Bruma

Esta minha terra tem o que contar. Nem é tanto tempo assim, o decorrido, mas nesse passado há um bocado de história rica de fatos e de gente. Também, derivado de São João Marcos, nem chega a ser tanta vantagem.

Num canto daquela imensidão de território, juntamo-nos uns poucos, mais alguns, e acabamos por ter condição de cuidar de nós mesmos, sem qualquer malquerença, mas com um orgulho danado de ser rioclarenses.

Penosa e sofrida a jornada dos pioneiros, alguns dos quais vieram de longe, trazendo bagagem de muita coragem e o saber de muitas gerações, com braços que jamais se cansavam e visão de conquista que nunca esmorecia. Da pousada, o povoado fixando raízes, atraindo viventes, que se iam ajeitando e se iam deixando pegar no afago de tanta beleza e na possibilidade de tanto prosperar. E dessa esperança de cada um, e da conquista de cada qual, o tempo ajuntou o tanto de gente, abrigos e propriedades que por sua natureza e por suas características geraram as cidades que temos hoje.

Esta minha terra tem o que contar.

As montanhas, que se arrumaram em derredor, para olhar e proteger, e para encaminhar pelas vertentes sinuosas a muita água que brota em toda parte, como uma festa da criação exuberante. Os rios, remansos, açudes. As cachoeiras impondo respeito na queda barulhenta e assustadora que se aquieta logo se acomoda a espuma e se ajeitam as correntes, reagrupando-se cada fio ao caudal que segue como que sabendo o seu destino. A cobertura de floresta pintando de cores, de flores, e de vozes as mais diversas o nosso ambiente.

As pessoas, desde os pioneiros, contribuíram como lhes foi possível, para o de hoje consolidado, cada cidade podendo contar com o mínimo de organização social que permita convivência ordeira e fraternidade empenhada. As pessoas, todas elas, comprometidas igualmente no cuidado de cada um com todo mundo, porque o espaço inteiro daqui é o mundo de todos nós.

Lídice cresceu a partir da região de Santana, onde os sesmeiros desembarcaram o seu espanto e a sua força indomável. A estrada que demandava Angra dos Reis os foi puxando Rio do Braço abaixo, para escoar a sua produção. Embarque e transbordo cria paradas demoradas que exigem refeição e pouso. E muita mais gente acabou ficando para sempre, talvez encantadas pela suave melodia que nas noites de lua entoavam os Rios das Pedras e o Parado. Santo Antônio do Capivary, foi assim que nasceu a nossa Lídice de agora, com todas as bênçãos.

Passa Três é legado direto de São João Marcos, às margens da então Rodovia Rio x São Paulo e longe o bastante da febre palustre que as águas da expansão da represa disseminaram. Distrito de lá, Passa Três, porque o rio daquelas paragens se enreda em beleza e harmonia e não quer ir embora. Agora, cidade nossa, de energias retomadas, paraíso de chácaras e sítios de muita beleza e paz.

Rio Claro foi povoado formado lá na Vila Velha, na beirada da Estrada Imperial. Quando o Imperador passou por aqui, rumando o Ipiranga, levou da nossa gente um pouco da força que teve para o gesto de herói. Como que abençoada, a nossa Rio Claro se foi encorpando e tomou a forma da Vila que abrigou toda a região.

E quanto mais poderia ir dizendo, descrevendo beleza, cantando emoção.

Esta minha terra tem o que contar. Mas, por que contar mais, se eu apenas sei contar, e a Natureza nos deu o menino que soube cantar tudo o que existe aqui. E sempre existiu, porque nos seus versos de sons de tardes compridas, boquinha da noite, aragem suave embalando sonhos de muito querer, nesses versos imortais, a gente vai descobrindo todas as nossa paisagens, todas as nossas harmonias, todos os nossos amores.

Esta minha terra tem o que contar. E tem o legado vivo, os sons imorredouros de Fagundes Varela, o cantor da Natureza.


* Poeta e escritor

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