Esta minha terra
* Por
Hélio Bruma
Esta minha terra tem o
que contar. Nem é tanto tempo assim, o decorrido, mas nesse passado há um
bocado de história rica de fatos e de gente. Também, derivado de São João Marcos,
nem chega a ser tanta vantagem.
Num canto daquela
imensidão de território, juntamo-nos uns poucos, mais alguns, e acabamos por
ter condição de cuidar de nós mesmos, sem qualquer malquerença, mas com um
orgulho danado de ser rioclarenses.
Penosa e sofrida a
jornada dos pioneiros, alguns dos quais vieram de longe, trazendo bagagem de
muita coragem e o saber de muitas gerações, com braços que jamais se cansavam e
visão de conquista que nunca esmorecia. Da pousada, o povoado fixando raízes,
atraindo viventes, que se iam ajeitando e se iam deixando pegar no afago de
tanta beleza e na possibilidade de tanto prosperar. E dessa esperança de cada
um, e da conquista de cada qual, o tempo ajuntou o tanto de gente, abrigos e
propriedades que por sua natureza e por suas características geraram as cidades
que temos hoje.
Esta minha terra tem o
que contar.
As montanhas, que se
arrumaram em derredor, para olhar e proteger, e para encaminhar pelas vertentes
sinuosas a muita água que brota em toda parte, como uma festa da criação
exuberante. Os rios, remansos, açudes. As cachoeiras impondo respeito na queda
barulhenta e assustadora que se aquieta logo se acomoda a espuma e se ajeitam
as correntes, reagrupando-se cada fio ao caudal que segue como que sabendo o
seu destino. A cobertura de floresta pintando de cores, de flores, e de vozes
as mais diversas o nosso ambiente.
As pessoas, desde os
pioneiros, contribuíram como lhes foi possível, para o de hoje consolidado,
cada cidade podendo contar com o mínimo de organização social que permita
convivência ordeira e fraternidade empenhada. As pessoas, todas elas, comprometidas
igualmente no cuidado de cada um com todo mundo, porque o espaço inteiro daqui
é o mundo de todos nós.
Lídice cresceu a partir
da região de Santana, onde os sesmeiros desembarcaram o seu espanto e a sua
força indomável. A estrada que demandava Angra dos Reis os foi puxando Rio do
Braço abaixo, para escoar a sua produção. Embarque e transbordo cria paradas
demoradas que exigem refeição e pouso. E muita mais gente acabou ficando para
sempre, talvez encantadas pela suave melodia que nas noites de lua entoavam os
Rios das Pedras e o Parado. Santo Antônio do Capivary, foi assim que nasceu a
nossa Lídice de agora, com todas as bênçãos.
Passa Três é legado
direto de São João Marcos, às margens da então Rodovia Rio x São Paulo e longe
o bastante da febre palustre que as águas da expansão da represa disseminaram.
Distrito de lá, Passa Três, porque o rio daquelas paragens se enreda em beleza
e harmonia e não quer ir embora. Agora, cidade nossa, de energias retomadas,
paraíso de chácaras e sítios de muita beleza e paz.
Rio Claro foi povoado
formado lá na Vila Velha, na beirada da Estrada Imperial. Quando o Imperador
passou por aqui, rumando o Ipiranga, levou da nossa gente um pouco da força que
teve para o gesto de herói. Como que abençoada, a nossa Rio Claro se foi
encorpando e tomou a forma da Vila que abrigou toda a região.
E quanto mais poderia
ir dizendo, descrevendo beleza, cantando emoção.
Esta minha terra tem o
que contar. Mas, por que contar mais, se eu apenas sei contar, e a Natureza nos
deu o menino que soube cantar tudo o que existe aqui. E sempre existiu, porque
nos seus versos de sons de tardes compridas, boquinha da noite, aragem suave
embalando sonhos de muito querer, nesses versos imortais, a gente vai
descobrindo todas as nossa paisagens, todas as nossas harmonias, todos os
nossos amores.
Esta minha terra tem o
que contar. E tem o legado vivo, os sons imorredouros de Fagundes Varela, o
cantor da Natureza.
* Poeta e escritor
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