O que esperar do Ano Novo?
*Por
Clóvis Campelo
Talvez tudo isso seja
apenas mais uma convenção humana. Não gosta o homem de tudo dividir, diminuir
em pedaços e talvez ter uma compreensão melhor dos processos? Talvez seja por
aí.
Afinal que sentido faz
dividir o tempo, tentar seccioná-lo em locos? Não será ele uma linha contínua e
ininterrupta rumo ao infinito? Mesmo que em algum trecho desse trajeto nós nos
despeçamos dele, ele seguirá impune a sua rota pré-estabelecida sabe-se lá por
quem.
Para onde caminha a
humanidade e nós, míseros humanos? Por que insistimos em destruir a natureza
onde vivemos em vez de exercitar a coexistência pacífica? Que estranhas teorias
conspiratórias (ou suicidas) orientam a nossa maneira de agir?
O meu amigo Milton
Banana diria que essas considerações existenciais estariam fora de moda, que o
homem pós-moderno exercita a sua praticidade sem ressentimentos ou sentimentos
de culpa. Talvez numa estratégia insana de não pensar para não sofrer. Talvez numa
estratégia pouco inteligente de preocupar-se apenas com o momento presente.
Afinal, como indivíduos, somos transitórios e finitos.
Mas, contrariando
Banana e sua praticidade pós-moderna, digo que me preocupa o destino do mundo
mesmo sabendo que talvez não esteja mais aqui se acontecer uma catástrofe por
nós provocada.
Afinal, que direito
temos nós, os humanos desumanos, de colocar em risco a nossa existência e a
existência de todas as outras espécies que conosco estão nesse mesmo barco? Em
nome de que ideologia ou sistema vamos nos permitir agredir o equilíbrio que
sustenta a nós mesmo e a todos os nossos outros companheiro de viagem? Isso não
me parece sensato, embora possa ser demasiadamente humano.
Mas, como ser humano,
como poeta, e como bicho que quer sobreviver, exercito esse meu senso crítico e
impotente.
Talvez isso me torne
mais esperançoso de que, no ano que vem, possamos vislumbrar outras matizes.
Talvez isso seja necessário apenas para me acalmar os ânimos e reanimar a força
que os sentimentos dessa época antes me traziam.
Recife, 2014
* Poeta, jornalista e radialista,
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