sábado, 5 de setembro de 2009


Tratado das perplexidades

* Por Carla Andrade Bonifácio Gomes

Transitório e absoluto,
com dentes para o vazio,
o mundo procura, de matuto,
saber para onde vai o rio.

O rio conduz barco
e homem de alquimia.
Trança na água terra de luzes,
deixa à mostra pedras,
varizes e estria.
À noite, com a boca de estrelas,
e pernas de avestruzes,
recolhe todos os sonhos.

Aí, o silêncio ensina os ouvidos
a calar o corpo.
E o lodo,
essa lembrança de rugas,
cata insetos antes do sono.

Pela manhã, o mundo quer acordos.
O rio, contemplação.
Maestros de peixes
escondem contratos de criação.

Não existe filosofia para pássaros,
o vôo em bando não requer citação,
o tempo não aceita remendos,
nem prestação.

O fim do rio não pertence ao mundo
nem aos restos de nós mesmos...

* Poetisa

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