O futuro no ali da minha cara
* Por Cacá Mendes
Eu que sempre quis o futuro apalpado, delineado, desvendado, visto com privilégios, agora já não sabia o que fazer com ele. O danado estava ali na minha porta, liso, ileso, esperando sei lá o quê.
- Ora, seu Carlos, veja-me agora, no bem das minhas pernas cansadas de fuga...
- Ah, você fala, seu...
- Acha mesmo que eu devia ser um tosco sem língua, um pau mandado apenas?
Como sou meio-meio pouco ou quase nada de civilizado comigo mesmo, endurecido no até do cu da alma, pensei mil vezes repetidas a mesma resposta e não disse em palavras; se disse foi no muque, na raiva do gesto quieto, seco, assim, torcendo o ar com uma mão pesada e rápida. Mas o que é isso, ele lá fora, impaciente, insiste em bolhas de palavras soltas com ecos lentos e ensurdecedores...
Tá certo, vou acalmar em parafusos e me ver comigo em luta corpórea, intrincada, na maior contenda do universo, numa violência incolor, indolor, neutra de se ver e saber. Assim, o desfigurado do presente, titubeado em atitudes de cadeias interrompidas, se fará no desenho, na pintura, sua mais que borboleta, sua mais que lâmpada, em latente sangramento em vida, morte e novamente vida. Viva.
Nesse dito quase paranóico, enviesado de assunto escondido dentro de assunto, num funil de ouvido sem cabeça, sem língua, no nó da palavra não saída, não dada, somente o toco do diálogo, o toco da boca sem espuma – e sorriso que fosse pra ser, se é o que quer, nem pensar em gente disso. O que fazer com esse tão desejado, tão buscado, tão esperado?! Ora, seu futuro de uma figa, de uma farpa, sedutor oferecido, moleque, malvado, seu tão meu bandido...!
Claro, ele não desiste da minha calçada, da minha porta, na sua espessura tão delineada, mas misteriosa, alongada em curvas e retas, dobradas e espichadas pernas. Sim. Essa conversa, não pense, meu caro olhador demim nos olhos das minhas destroçadas letras, que esse toco de conversa algum dia tenha sido árvore, tenha, não pense. Nem pensar, nunca.
Eu sei, ele vai continuar ali, e eu aqui desentendendo o seu já chegou e não entrou, não penetrou a minha casa virgem. Pois, pois, o danado continuará muito próximo, quase tocável, quase, quase. Quase. Apenas.
(Corri tanto, o ansiei tanto, nem imagine, meu caro, nem imagine, a minha busca... Passei noites e noites, medindo cada dedo de digo de palavra interna comigo, em doses e doses, mais que modeladas, esquadrinhadas, tentando desenhar esse sujeito, e agora lá no meu ali da minha cara, pleno, cheio, completo e redondo... Ah, futuro!)
Todavia, sei, sabemos, se o tocarmos com os dedos, tão somente com a pontinha de uma unha, já era...
Que fique onde está. Viva.
* Jornalista – blog: www.cronicaseg.blogspot.com
* Por Cacá Mendes
Eu que sempre quis o futuro apalpado, delineado, desvendado, visto com privilégios, agora já não sabia o que fazer com ele. O danado estava ali na minha porta, liso, ileso, esperando sei lá o quê.
- Ora, seu Carlos, veja-me agora, no bem das minhas pernas cansadas de fuga...
- Ah, você fala, seu...
- Acha mesmo que eu devia ser um tosco sem língua, um pau mandado apenas?
Como sou meio-meio pouco ou quase nada de civilizado comigo mesmo, endurecido no até do cu da alma, pensei mil vezes repetidas a mesma resposta e não disse em palavras; se disse foi no muque, na raiva do gesto quieto, seco, assim, torcendo o ar com uma mão pesada e rápida. Mas o que é isso, ele lá fora, impaciente, insiste em bolhas de palavras soltas com ecos lentos e ensurdecedores...
Tá certo, vou acalmar em parafusos e me ver comigo em luta corpórea, intrincada, na maior contenda do universo, numa violência incolor, indolor, neutra de se ver e saber. Assim, o desfigurado do presente, titubeado em atitudes de cadeias interrompidas, se fará no desenho, na pintura, sua mais que borboleta, sua mais que lâmpada, em latente sangramento em vida, morte e novamente vida. Viva.
Nesse dito quase paranóico, enviesado de assunto escondido dentro de assunto, num funil de ouvido sem cabeça, sem língua, no nó da palavra não saída, não dada, somente o toco do diálogo, o toco da boca sem espuma – e sorriso que fosse pra ser, se é o que quer, nem pensar em gente disso. O que fazer com esse tão desejado, tão buscado, tão esperado?! Ora, seu futuro de uma figa, de uma farpa, sedutor oferecido, moleque, malvado, seu tão meu bandido...!
Claro, ele não desiste da minha calçada, da minha porta, na sua espessura tão delineada, mas misteriosa, alongada em curvas e retas, dobradas e espichadas pernas. Sim. Essa conversa, não pense, meu caro olhador demim nos olhos das minhas destroçadas letras, que esse toco de conversa algum dia tenha sido árvore, tenha, não pense. Nem pensar, nunca.
Eu sei, ele vai continuar ali, e eu aqui desentendendo o seu já chegou e não entrou, não penetrou a minha casa virgem. Pois, pois, o danado continuará muito próximo, quase tocável, quase, quase. Quase. Apenas.
(Corri tanto, o ansiei tanto, nem imagine, meu caro, nem imagine, a minha busca... Passei noites e noites, medindo cada dedo de digo de palavra interna comigo, em doses e doses, mais que modeladas, esquadrinhadas, tentando desenhar esse sujeito, e agora lá no meu ali da minha cara, pleno, cheio, completo e redondo... Ah, futuro!)
Todavia, sei, sabemos, se o tocarmos com os dedos, tão somente com a pontinha de uma unha, já era...
Que fique onde está. Viva.
* Jornalista – blog: www.cronicaseg.blogspot.com
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