Para o resto da vida
O vigor de determinada sociedade
depende, em grande parte, da faixa etária predominante no poder. Se a maioria é
moça, abundam idéias inovadoras e revolucionárias, contudo, nem sempre há
bom-senso nas ações. Os líderes jovens confundem, não raro, coragem com
temeridade.
Se o predomínio é o das pessoas
maduras, a sociedade se importa mais com o progresso material do que espiritual
e a busca por status, riqueza e poder quase sempre se transforma em competição
feroz, selvagem e sem piedade para com os vencidos, em detrimento dos ideais.
Finalmente, se o poder estiver nas mãos
dos idosos, a característica é o conservadorismo, o que, em geral, resulta em estagnação. O ideal
é que haja uma distribuição equilibrada e racional entre as várias faixas
etárias. As sociedades que conseguem esse equilíbrio, têm, simultaneamente, o
idealismo dos jovens, a capacidade de realização dos maduros e o respeito pelas
tradições dos idosos.
Quem é mais importante para o mundo,
para o equilíbrio social e o progresso dos povos: o moço ou a pessoa que já
passou dos 65 anos? No meu critério de avaliação, ambos. Não por acaso, a
natureza, em sua eterna sabedoria, permite a existência simultânea tanto de um,
quanto do outro.
A juventude caracteriza-se, lembremos,
pela força, pelo vigor, pelo idealismo e entusiasmo. É a força propulsora do
progresso de toda e qualquer sociedade. Todavia, carece de algo essencial: o
bom-senso, a capacidade de análise, o planejamento meticuloso e racional e,
sobretudo, a experiência, que só se adquire com o muito viver.
Já o idoso é, como as sabe de sobejo,
vulnerável em termos físicos. Não se pode exigir dele força, já que esta lhe
mingua, inexoravelmente, com o passar dos anos. Seu papel ideal nas sociedades,
portanto, é o de guia, de orientador, de moderador do entusiasmo dos jovens,
direcionando-o para o foco correto. Como se observa, mesmo que as partes não
admitam, um precisa do outro. Enquanto o idoso ilumina o caminho que ambos
seguem, o moço aquece os dois com as chamas da sua paixão.
A partir de determinada idade (que
varia de pessoa para pessoa, de acordo com seus hábitos e sua realidade de
vida), aparecem determinados sintomas que nos alertam que estamos envelhecendo.
Isso, todavia, não precisa ser motivo para pânico. Se quisermos chegar,
digamos, aos cem anos, vigorosos e produtivos, devemos adotar determinadas
cautelas que, aliás, sequer são difíceis de serem adotadas.
Uma delas, por exemplo, (que reputo
fundamental) é não querer realizar façanhas físicas que realizávamos quando
tínhamos, digamos, trinta anos, inclusive para evitar acidentes que, quando não
são fatais, tendem a ser incapacitantes. Precisamos rever determinados hábitos
e cortar, sem hesitação, os nitidamente nocivos. Devemos manter a mente sempre
ativa, o corpo em atividade compatível com a idade e não perder o interesse no
mundo.
Como se vê, o envelhecimento não é,
necessariamente, tragédia, se utilizarmos a nosso favor nosso grande e
principal trunfo: a experiência. E quando uma pessoa pode ser considerada
“velha” (sem levar em conta o sentido pejorativo que esta palavra sugere)? Ao
completar 65 anos, tomados como referência para caracterizar o que se
convencionou chamar de “terceira idade”? Aos 70? Aos 75? Aos 80? Aos 90?
Oponho-me a essas preconceituosas
convenções. Ficamos “velhos”, apenas, quando nos sentimos dessa forma, não
importa se aos 18, aos 40, aos 50 ou aos 100 anos. São vários os casos de
pessoas centenárias que, contrariando toda a lógica, chegaram a essa fase da
existência vigorosas, entusiasmadas e produtivas.
Em contrapartida, há muitos moços, de
25 anos ou menos, que já não vêem sentido e perspectiva para as suas vidas e se
entregam ao tédio, à preguiça e ao desalento, quando não buscam uma fuga no
álcool ou nas drogas.
Raras são as pessoas que têm a exata
noção da importância de cada etapa da vida pela qual poderão passar (muitas não
passam, pois morrem prematuramente, em plena “flor da idade”). A criança, por
exemplo, aprende a respeitar os mais velhos, mas nem sempre o faz, encarando o
idoso com desprezo e um certo desdém, embora não manifeste esse comportamento
para não ser castigada pelo adulto.
O jovem, então, assume a atitude de
quem tudo sabe e tudo pode, sem se lembrar que a juventude não é eterna e que,
quando menos esperar, estará igual, ou pior do que aqueles aos quais
menospreza. E as pessoas de maior idade, em vez de se colocarem em seus devidos
lugares, tentam imitar os adolescentes nas roupas, nas falas e nas atitudes e,
sem que se apercebam, se infantilizam e se tornam ridículas.
Se a morte não nos colher antes, de
maneira prematura, porém, todos passaremos pelas três etapas, pelas três
estações, pelas três condições da vida. Millôr Fernandes, com seu humor
inteligente, sadio e, no entanto, crítico na medida certa, escreveu o seguinte
a respeito: “A infância não, a infância dura pouco. A juventude não, a
juventude é passageira. A velhice, sim: quando um cara fica velho é para o
resto da vida”. Há qualquer dúvida a respeito?
Boa leitura!
O Editor.
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Tenho de concordar com cada item.
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