Re sorri
* Por
Núbia Araujo Nonato do Amaral
Quando minha mãe se
"encantou", não via mais motivos para sorrir ou gargalhar. Queria
ficar entregue ao sofrimento e dar vazão á minha prostração até ver as
tranqueiras que havíamos herdado.
Bijouterias de
"ótima" qualidade, lencinhos de toda sorte, muita roupa por costurar,
plantas suficientes para reflorestar a mata atlântica e uma carteirinha com
cento e vinte reais que dividimos entre nós, excluindo o macho alfa, of course.
Parte das tranqueiras
empurramos pra Rachel, nossa sobrinha querida, que depois que percebeu nossa
artimanha não pegou mais nada. Tudo isso foi entre lágrimas e, pasmem, muita
gargalhada.
O sorriso é uma
benção, um refrigério para o coração que se reconhece humano e frágil, mas não
covarde.
* Poetisa, contista, cronista e colunista do
Literário
O desmonte da casa da mãe é trágico, no pessoal. No coletivo estamos vendo o desmonte de um governo. Somos humanos e frágeis, como você diz, mas não covardes.
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