O pouco lembrado pai do Verismo
O leitor já leu algum livro, ou pelo menos ouviu falar, do
escritor italiano Giovanni Verga? Caso a resposta seja negativa (o que, sem
duvidar de sua cultura literária, não me causa nenhuma surpresa) não se sinta
diminuído. Pouquíssimas pessoas aqui no Brasil conhecem esse autor. Procurei,
por exemplo, em livrarias, em sebos, em bibliotecas e até nas internet qualquer
livro dele, em vão. E olhem que escreveu dezenas deles, Desconfio que nada, da
sua imensa (e excelente) obra tenha sido traduzido para o português e lançado
por aqui por alguma das nossas centenas de editoras. Uma pena e uma injustiça.
O sujeito é muito bom. Posso estar enganado, mas não creio. Por pura teimosia,
encontrei alguns livros de Giovanni Verga, mas em italiano e em espanhol.
Adquiri-os e deliciei-me com sua leitura, super surpreso por ninguém se propor
a divulgá-lo no Brasil.
O volume que ensejou minha “descoberta” desse escritor
italiano (notadamente siciliano, ilha em que nasceu e onde morreu, depois de
perambular por Florença e por Milão), é “A vida nos campos”, publicado na
Itália em 1880, reunindo uma coletânea de histórias curtas tratando de pessoas
e coisas de sua Sicília natal. Cheguei a esse nome meio que por acaso, mais
especificamente, por sugestão de um leitor, o que já se tornou rotina. Aprendo
muito com vocês, embora minha proposta, um tanto atrevida, seja a de
ensinar-lhes alguma coisa. Não sei se estou conseguindo. Espero que sim.
O leitor Giuseppe Martoni, que afirmou estar acompanhando minha
série de comentários versando sobre como o tema “epidemias” foi tratado na
Literatura através do tempo, sugeriu-me o livro em questão. Procurei-o,
reitero, por todas as partes, em vão. Comuniquei-lhe que não achei essa obra,
ao que ele me sugeriu que tentasse adquirir uma edição já antiga, em espanhol.
E... bingo! Consegui encontrar e comprar
“A vida nos campos”. Interrompi, temporariamente, a série que vinha escrevendo,
para descobrir onde e como Giovanni Verga tratou do tema “epidemia”. Encontrei
o que procurava em uma das oito histórias do livro, intitulada “Guerra dos
santos”, que li, reli, fiz anotações e meditei muito a respeito. É dela, pois,
que me proponho a tratar. Mas não hoje. Antes, impõem-se alguns comentários
sobre esse escritor e explicações sobre por que ele é tão importante.
Giovanni Carmelo Verga nasceu, em 2 de setembro de 1840, na
cidadezinha siciliana de Vizzini, província de Catania, no seio de uma próspera
família de proprietários rurais. Produziu seus primeiros textos literários
quando tinha, apenas, dezesseis anos de idade. Mas seu talento aflorou quando
estudava Direito na universidade da cidade em que nasceu. Publicou, inicialmente,
vários romances históricos. Sua importância maior, no entanto, não se deve a
esses primeiros livros, embora muito bons. Depois de uma passagem de três anos
por Florença, aos 29 anos de idade, ele mudou-se, de “mala e cuia”, para Milão,
onde viveu por vinte e um anos e onde consolidou sua vitoriosa carreira. Nessa importante cidade da Lombardia, Verga
não tardou a fazer amizade com um ilustre conterrâneo, o romancista Luigi
Capuana. Este fato viria a mudar sua forma de entender e de fazer literatura.
Por influência direta do novo amigo, Giovanni escreveu suas
obras mais notáveis e bem sucedidas. E mais, junto com o amigo, fundou uma nova
escola literária, tipicamente italiana, posto que inspirada no realismo francês
de Balzac e de Zola: o Verismo. As principais características dessa nova
corrente literária incorporavam vários postulados do positivismo. Entre estes,
podemos destacar: absoluta fé na razão e na ciência, adoção do método
experimental na produção dos textos e irrestrita confiança na infalibilidade
dos instrumentos de pesquisa. O Verismo é marcado pelo realismo – por vezes
sórdido ou violento – das descrições da vida quotidiana, especialmente das
classes sociais mais baixas, rejeitando os temas históricos, míticos e
grandiosos do Romantismo.
A corrente, da qual Verga foi co-fundador – assinou o
manifesto de criação junto com Luigi Capuana -
não se restringiu, apenas, à Literatura. Também se manifestou na ópera
italiana, a partir de 1890, com a Cavalleria Rusticana – aliás baseada num
conto do mesmo nome do escritor siciliano – de Pietro Mascagni. Suas obras
foram levadas, ainda, ao teatro e ao cinema (como o filme “A terra treme”,
dirigido por Luchino Visconti), daí ser estranho o fato dele ser tão pouco
conhecido, ou virtualmente desconhecido no Brasil. Giovanni Verga, que também se destacou no
jornalismo, sendo fundador de alguns jornais, voltou a morar em sua cidade
natal em 1893, onde viveu por mais quase três décadas, na mesma casa onde nasceu,
e morreu de uma trombose cerebral, em 27 de janeiro de 1922, aos 81 anos de
idade. “A vida nos campos” pode nem ser sua obra-prima, mas que é um livro
instigante disso o leitor pode ter certeza.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Eu me perco nessas descobertas. Preciso ficar mais atenta e ler mais demoradamente. Minha leitura dinâmica me faz reter pouca coisa. O nome desse escritor, por exemplo, acabada a leitura, já sumiu para mim. O que fazer para aprender durante a leitura?
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